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As coisas começaram a voltar ao normal quando Derek e Hotch retiraram aquele peso que estava me esmagando. Pude ver Rossi ir até Stacy e levá-la para fora dali, mas os olhares de ambos permaneceram em mim até sumirem de vista.

Tomei forças e olhei para minha barriga: havia sangue ali, mas não era meu. A dor que eu senti foi causada pela seringa que Caleb acabou espetando em mim quando caiu. Apenas uma agulhada, nada mais que isso. Retirei a seringa com cuidado e apalpei a região: nada que eu precisasse me preocupar no momento.

Aos poucos os fatos foram se encaixando em minha cabeça e as coisas retomaram o sentido: Derek estava entrando no sótão quando viu Caleb partir para cima de mim e atirou contra ele. Agora eu queria levantar enquanto Hotch tentava impedir, repetindo que eu não deveria me movimentar.

- Estou bem, eu juro. Minha queda foi amortecida pelo carpete. Preciso checá-lo. - apontei com a cabeça para o homem caído no chão, aparentemente desacordado.

Hotch tirou as mãos que estavam em meus ombros e me deixou ir até o homem. Diferentemente de mim, Caleb havia batido com a cabeça em um dos baús do sótão durante sua queda, o que deve ter lhe dado uma concussão, um galo e uma boa dor de cabeça quando acordasse. Mesmo desmaiado, ele respirava bem, suas vias aéreas estavam desobstruídas, seu pulso estava incrivelmente forte. Em seu ombro direito estava o local de entrada da bala: um ponto perto da clavícula livre de artérias grandes ou órgãos importantes.

- Excelente tiro, Derek. - sussurrei mais para mim mesma do que para ele - Chame uma ambulância e acho que tudo ficará bem.

- Já estão a caminho. - Hotch respondeu.

Tirei meu casaco e coloquei no ferimento de bala para estancar o sangue, pressionando. Hotch deve ter reparado em minhas mãos trêmulas, pois se abaixou e assumiu meu lugar.

- Continue pressionando por mais alguns minutos, acredito que logo a hemorragia estará controlada. Agora se me permitem, eu não aguento mais ficar aqui. - levantei sentindo uma forte tontura e cambaleei para trás. Derek posicionou uma mão em minhas costas para não me deixar cair.

- Tem certeza de que está tudo bem? Você provou sua força hoje, Maggie, mas passou por muita coisa... - Derek me abraçou de uma forma meio inesperada e eu fiquei sem reação por alguns segundos antes de retribuir seu abraço.

- Sim, juro que estou bem. Amanhã mesmo vou voltar a ver meu terapeuta. - tentei fazê-lo sorrir e consegui - E obrigada por... ter uma boa mira.

- Você precisa de mais alguma coisa além da minha mira nesse momento? Acho que meu comunicador quebrou, mas, tirando isso, posso tentar ajudar. - ele disse, divertido. Se aquilo era uma tentativa de fazer com que eu me sentisse melhor também, estava dando muito certo.

- No momento, eu só preciso... - me interrompi ao ouvir outra voz vindo do andar de baixo.

- Rossi, onde ela está? - a voz estava ofegante e falha, mas eu a reconheceria em qualquer lugar.

- Está tudo bem, garoto. Eles estão lá em cima. - Rossi respondeu.

Spence surgiu pela abertura do sótão e eu percebi que era exatamente aquilo que eu precisava no momento. Suas pernas subiram as escadas com uma rapidez que eu mal consegui assimilar e, quando me dei por conta, ele já estava na minha frente, suas mãos sobre meus ombros. Estava ofegante e tremia ainda mais do que eu. Ele abriu a boca para perguntar alguma coisa, mas sua voz não saiu.

- Estou bem... - sussurrei com a voz fraca e pouco convincente.

Spence mergulhou o rosto em meu ombro e me abraçou forte, tão forte que o local em meu braço onde Caleb havia segurado no caminho do anexo até a casa doeu e me fez soltar um "ai". Ele me largou e fez uma expressão de quem não estava entendendo. Apontei meu braço, agora com enormes manchas roxas que antes eu não havia percebido por estar de casaco.

Desviei os olhos do braço e percebi que Spence não olhava mais para mim. Ele fitava alguma coisa sobre meu ombro. Me virei para acompanhar seu olhar: ele encarava Caleb, ainda desacordado no chão. Virei para Spence de novo e sua expressão havia mudado, misturando tristeza e raiva.

Consegui prever o que estava por vir. Spence não aguentava mais se sentir impotente em relação a tudo aquilo. Vi sua racionalidade ficando de lado e dando lugar a uma coisa que eu nunca havia visto nele. Foi como se ele se transformasse em outra pessoa por alguns instantes. Spence ia investir na direção de Caleb e deu um passo para frente, mas eu me coloquei na sua frente e o fiz esbarrar em mim, minhas mãos espalmadas em seu peito.

- Já passou. Não faça nada estúpido, Spence. Já acabou. - sussurrei para que só ele pudesse ouvir e segurei seu rosto entre minhas mãos - Só me tire logo daqui.

Spence fechou os olhos por uma fração de segundos e voltou a me olhar, como se estivesse retornando à realidade da situação. Ele assentiu em resposta ao meu pedido e passou seu braço pelos meus ombros, me guiando escada a baixo. Atravessamos a cozinha e a sala até chegarmos à porta da frente, onde pude avistar o carro preto estacionado. Stacy estava sentada no banco de trás com a porta aberta e Rossi estava em pé ao seu lado. Ela ainda tinha os olhos úmidos, mas as palavras reconfortantes dele estavam a fazendo se sentir melhor. Fui até lá ainda sob o braço de Spence.

- Já avisei JJ e Will que está tudo bem, eles estão vindo para cá. - Rossi disse para mim e se virou para Stacy mais uma vez - Na verdade, eu estava prestes a contar para Stacy o porquê de você conhecer todos nós. Se vocês puderem ficar com ela um pouco, meu celular não para de tocar. - Rossi saiu de perto deixando nós três ali.

- Minha cunhada é do FBI e trabalha com eles. Eles são muito bons no que fazem. - esclareci e olhei para Spence, que sorriu timidamente pra mim.

- E seu irmão e seu pai são policiais? Que loucura! - podia perceber que Stacy estava voltando ao normal.

- Mais ou menos isso. Eu falei que todo mundo estaria nos procurando. - pisquei para Stacy.

Não quis entrar na questão de meu pai já ter falecido, não era o momento apropriado para aquela conversa. Rossi estava voltando para perto da gente ainda falando ao celular.

- Sim, sim... sim, Garcia, eu juro que está tudo bem. Acalme-se, ok? Vou passar o telefone pra ela. - ele disse antes de tirar o telefone do ouvido e se dirigir a mim - Ela quer falar com você. Muito.

- Penelope, está tudo bem... - eu peguei o telefone e comecei a falar, mas ela me interrompeu.

- Maggie, ah, Maggie, eu quase morri do coração aqui! Sabia que tinha achado a casa certa, sabia que vocês estariam aí, mas quando Derek me ligou dizendo que achou nada eu não pude acreditar. Então veio aquele barulho alto "BUMMM" e ele desligou a ligação e eu fiquei sem saber o que estava acontecendo... - ela falava tão rápido que suas frases pareciam uma só. Sua voz estava engasgada como que beirando o choro.

- Mas o que importa é que a localização estava certa... - agora eu a interrompi, calma.

- Sim, estava certa... - ela finalmente respirou.

- E agora está tudo bem. - conclui, sorrindo ao final para ela percebesse em meu tom que, de fato, não havia por que se preocupar.

- Sim. Está tudo bem. - ela já soava mais tranquila, com a fala lenta.

- Você trabalhou duro, Penelope, eu sei que sim e sou muito grata por isso. Agora vá descansar um pouco, você merece. Prometo que logo vamos nos ver.

- Sim, sim. Você deve estar exausta também. Só preciso dizer que é bom tê-la de volta, Maggie, bom de um jeito que eu não sei descrever. Nos vemos em breve. - ela desligou e eu devolvi telefone para Rossi.

Já podia ouvir as sirenes das ambulâncias e viaturas chegando. Eu não fazia ideia de onde estava, mas imaginava ser um local bem isolado, fazendo com que eu me distraísse pensando na rapidez que elas chegaram até lá.

Assim que eles pararam, passei um rápido relatório do estado de Caleb para os paramédicos. Rapidamente, eles o imobilizaram em uma maca e o trouxeram de volta para a ambulância. Ao passar por mim, ele estava começando a retomar a consciência. Mesmo confuso e provavelmente tonto, ele me encarou com um olhar indecifrável e sussurrou algo que eu não consegui ouvir. Mas não era para ouvir, eu não precisava disso para entendê-lo perfeitamente.

"Vejo você de novo em breve, Maggiezinha."

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Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora