[9] Operação

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Os quinze minutos que fiquei sozinha trabalhando pareceram quinze horas. Meu alívio ao ver Reid chegar foi tamanho que tive vontade de abraçá-lo, não estivesse com as roupas de trabalho cobertas pelo sangue da vítima. Eu realmente me sentia segura com ele por perto. Sabia que se os policiais viessem incomodar, ele daria um jeito de despachá-los; sabia que ele não me deixaria passar batido por nenhum detalhe no corpo e sabia, principalmente, que ele me protegeria do assassino caso fosse necessário. Só de pensar na última frase meu corpo já estremeceu.

- Tudo bem aí? - ele perguntou depois de um tempo de silêncio entre nós, provavelmente ao perceber algum traço de medo em mim (ah, profiler!)

Olhei pra ele. Estava em pé, apoiado com o ombro em uma das paredes da pequena sala de azulejos. Parecia bastante calmo com toda a situação. Para ele, aquilo devia ser normal. Tentei imitar sua expressão.

- Tudo certo. - respondi com o tom mais convincente que consegui.

Pelo jeito minha interpretação não funcionou, pois ele não conteve o riso tímido após minha resposta. Eu ri também.

- Não se preocupe, é normal se sentir assim. Mas no final dará tudo certo, eu garanto. - seu tom era tranquilizador. Eu apenas sorri em resposta e me voltei novamente para a vítima.

Ele se aproximou da mesa e sentou em uma das cadeiras ali perto. Deve ter visto meu livro ainda aberto e disse:

- Estava lendo Poe?

- Sim! Me ajuda a enfrentar tudo isso. - respondi sem olhar para ele, focada na necropsia.

- Ah, eu adoro Poe! Minha mãe lecionava literatura e me ensinou desde sempre a gostar dos clássicos. - ele disse com tom entusiasmado. - Você já leu "Annabele Lee"? É um dos meus favoritos!

- Já, claro! É um dos meus favoritos também. - eu fiz uma pausa - Eu adoraria conhecê-la.

- Conhecer Annabele Lee? - ele questionou, confuso.

- Não, - eu ri - sua mãe! - esclareci, finalmente olhando para ele.

Ele pareceu um pouco perdido nos primeiros segundos, mas logo seu olhar foi de satisfação. Aquela afirmação com certeza havia o deixado alegre. Alguém querendo conhecer sua pobre e doente mãe era uma surpresa boa e inesperada.

A Sra. Reid parecia ser uma excelente pessoa mesmo. Um doce de mulher, ele sempre dizia, e uma mãe muito dedicada, até o momento em que a doença veio a tona e bagunçou tudo. Mas agora, com a esquizofrenia sob controle, nada impedia que ela recebesse visitas na clínica onde estava.

- E eu gostaria muito - ele disse depois de poucos minutos - de apresentar vocês duas qualquer hora. - já havia voltado para meu trabalho, mas percebi um tom alegre nessa frase.

*************

Tudo continuou calmo. A vítima havia sido muito espancada antes e depois de sua morte, o que me dava mais trabalho: diversos hematomas e cortes para serem limpos e examinados. Mas a "assinatura" do assassino ainda era a mesma.

Reid continuava ali comigo. As poucas vezes que se ausentou foram para falar ao telefone com algum dos colegas. É claro que ele poderia falar na minha frente, mas acho que não queria me assustar ainda mais.

Ele buscou alguns de seus materiais, como um quadro cheio de informações e alguns papéis, para continuar ajudando mesmo estando lá comigo.

Ao terminar com o corpo, nós dois seguimos para a delegacia ao lado. Todos da BAU já estavam a nossa espera para que eu fizesse um relato rápido do que havia encontrado no corpo e eles pudessem discutir de novo como achar o assassino, dessa vez com a ajuda de Penelope ao telefone e seus mil computadores.

Baseado no perfil geográfico e nas informações já obtidas, não demorou muito para que achassem alguém que se encaixasse exatamente naquilo que fora traçado. Uma pessoa solitária, provavelmente com fortes influências religiosas da antiguidade e um histórico de doenças mentais. Em uma cidade pequena como Eudora, Penelope logo achou uma combinação e todos estavam se preparando para partir em busca do assassino.

Enquanto pegavam seus coletes à prova de balas e faziam os últimos ajustes rápidos em suas armas, Reid parou e me encarou por alguns segundos. Ele voltou o olhar para JJ que imediatamente entendeu sua pretensão e fez um rápido movimento de afirmação com a cabeça.

Eu estava completamente envolvida com tudo aquilo: não costumava ver toda essa movimentação. Estava assustada, temia por eles.

Poucos segundos depois, Reid chamou Hotch e eles trocaram algumas palavras rápidas e indecifráveis. Hotch assentiu e no mesmo instante liderou toda a equipe - constituída pelos agentes e por policiais fortemente armados - pela porta de saída em direção às viaturas, deixando Reid para trás.

- O que houve? - eu perguntei ao perceber que as viaturas já estavam dando a partida.

- Eu pedi para ficar aqui. - disse Reid já retirando seu colete.

- Como assim? Eles precisam de você! - eu não entendia direito o que estava acontecendo.

- Na verdade, não. A equipe que foi já era mais do que suficiente para essa operação. Além disso, Hotch já havia dito que queria ele próprio lidar com a situação.

Reid realmente não parecia preocupado com o fato de não estar presente na captura. Enquanto a delegacia se tornava menos agitada do que de costume e a tensão dos que ficaram ali aguardando notícias pairava no ar, nos sentamos em uma mesa próxima e conseguimos conversar um pouco. Reid ficou fazendo perguntas bobas, assuntos como livros, filmes e peças de teatro, numa tentativa de me distrair. Mas toda vez que algum assunto levasse a Will, Henry e JJ, meu coração começava a pular no peito. Ainda não havia notícias e minha cunhada estava na linha de frente da operação, na zona de mais perigo.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora