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JJ estava a minha frente. Ela me olhava, aguardando, mas sem expressar qualquer tipo de pressão para que eu falasse alguma coisa. Ela estava sozinha, meu irmão e Henry haviam ido ao supermercado. Spence tinha que devolver o carro do dia anterior e me deixou em frente à casa, mas só depois de me fazer repetir diversas vezes que eu estava bem para ficar sem ele.

- Você quer falar sobre alguma coisa específica? - JJ falou depois de um tempo, interrompendo meus devaneios e o silêncio entre nós.

- Sim. Não. Não sei. - meus pensamentos estavam confusos. Eu queria falar, mas não sabia por onde começar.

- Maggie, se você não está se sentindo bem, sabe que deve procurar ajuda.

- Sim, sim. Na verdade, já falei com Claire. Marcamos consulta para amanhã.

Claire tinha sido minha terapeuta por bastante tempo. Há poucos meses nós chegamos à conclusão de que, por enquanto, eu estava liberada do tratamento, desde que voltasse a procurá-la se sentisse necessidade.

- Aconteceu alguma coisa lá que você queira me contar? Ele fez alguma coisa com você? - minha cunhada disse enquanto se aproximava de mim, vindo sentar ao meu lado. Ela queria reduzir a barreira entre nós.

- Não, ele não fez nada disso. Aquele homem... fez algo assim com você? - a expressão de minha cunhada mudou por alguns segundos, num misto de medo e raiva, antes de retornar à sua face de tranquilidade - Eu gostaria de ouvir sobre isso, se você não se importar em falar um pouco...

JJ passou por uma situação parecida com a minha há pouco tempo. Dois homens queriam acesso a informações privilegiadas que ela possuía por ter trabalhado alguns anos no Afeganistão. Ela nunca falava sobre isso, mas as histórias sobre o caso corriam até hoje pelos corredores do FBI.

- Eu sei no que está pensando. Eu não sou indestrutível, Maggie. Eles conseguiram o que queriam, eu acabei cedendo. - não sabia decifrar o que havia em seu tom de voz.

- Mas você foi... pressionada de todas as formas possíveis... - creio que "torturada" não fosse a palavra adequada para o momento, apesar de ser o que tinha acontecido.

- Você também foi, Maggie. Talvez de uma forma diferente, mas também foi. E você lutou até o fim com todas as suas forças.

- Exatamente como você.

Minha cunhada se obrigou a concordar. De fato, depois de muito tempo, ela havia fornecido aos homens a tal senha que eles queriam. Mas, ao ser liberta, ela teve forças para ir atrás de um deles que estava tentando fugir e conseguiu impedi-lo de usar as informações. Não só ela como ninguém da BAU falava sobre o caso, então eu nunca soube mais do que isso. É claro que, por ainda não trabalhar no FBI na época, eu só soube desse sequestro depois que tudo já estava resolvido.

- Eu queria poder protegê-la disso, mas, infelizmente, eu não consegui. Todos nós temos histórias parecidas com essas. Will, Hotch, Emily, Spence... E todos nós tivemos que seguir em frente. É claro que nós sempre teremos cicatrizes, essas histórias nos acompanharão até o fim, mas nós aprendemos a lidar com elas em nossas vidas. Eu tenho certeza que você vai aprender também.

- Eu só... queria entender o que eu sinto. Caleb estava inconsciente no chão e tudo que eu conseguia pensar era em sair dali o quanto antes. Eu não sou assim, JJ, eu deveria ter ficado lá até os paramédicos o levarem! - minha voz saiu esganiçada, como se eu estivesse finalmente desobstruindo minha garganta.

- E, ainda assim, você não saiu do quarto antes de verificar como ele estava. Você é boa, Maggie, e vai entender tudo isso com o passar do tempo. Você fez até mais do que deveria por ele. - ela levou a mão até meu rosto, me acalmando.

- Você acredita que possa haver algo de bom dentro dele? Quer dizer, Caleb nunca foi realmente mau comigo... às vezes eu quase acreditava que ele gostava de mim de verdade. Eu só não aceito que esse mesmo homem pelo qual eu cheguei a sentir alguma empatia pode ter feito tanto mal e até matado outras garotas, mesmo ele tendo admitido isso. Eu odeio ele, mas tudo isso parece tão inimaginável às vezes... - eu me sentia cada vez mais confusa.

- Ele é mau, Maggie, e vai pagar por tudo que fez. Mas se tem uma única coisa que eu posso dizer é: você não precisa ter certeza de tudo nesse momento. A confusão, a desordem, tudo isso é normal. Não tenha pressa de querer resolver seus pensamentos todos agora. Confie em mim, com o tempo tudo vai se encaixar.

Encostei minha cabeça em seu ombro. Era muito reconfortante tê-la ali naquele momento. Ficamos em silêncio por mais um tempo até ela falar mais uma vez:

- Sabe o que é curioso? Eu já ouvi uma história muito parecida com a sua há alguns anos. Conheço alguém que teve exatamente os mesmos pensamentos e as mesmas dúvidas que você depois de uma situação assim. Acho que ele poderia te ajudar com isso. - ela disse, sem esconder o tom de alegria que soava deslocado naquela frase.

- De quem você está falando?

- Spence. - ela respondeu e eu a olhei, sem entender - Você deveria conversar com ele também.

No mesmo instante, veio à minha mente a expressão dele na noite anterior, como se quisesse me contar algo.

- Como eu nunca soube disso? - a pergunta era mais para mim mesma do que para JJ.

- Foi há muito tempo, antes mesmo de eu conhecer Will. Mas eu lembro perfeitamente, ele se sentia como você se sente agora. Spence com certeza saberá te ajudar melhor do que eu.

Não quis perguntar mais sobre o assunto, então apenas assenti em resposta. Spence já estava me ajudando muito, só o ter por perto já era um alívio. Decidi que não o forçaria a enfrentar os fantasmas do passado naquele momento, se ele achasse importante falaria alguma coisa.

******

JJ estava fazendo sanduíches para um lanche quando a campainha tocou.

- Pode atender para mim? Will deve ter esquecido a chave. - ela gritou da cozinha e eu corri para a porta.

Podia ouvir vozes do lado de fora, uma mulher um pouco histérica falando com outra pessoa que não a respondia, mas não reconheci de imediato as vozes pela porta ser daquelas que abafam o som.

Abri a porta e me deparei com a figura colorida de Penelope, que voou em minha direção e me deu um abraço.

- Ah meu Deus, Maggie, é tão bom poder vê-la! Você quase me matou de preocupação!

- Ela me viu e não sossegou até eu a trazer para ver você. - Spence disse, sorrindo para mim parado na porta.

Enquanto Penelope ainda me apertava em seu abraço, ele mexeu a boca sem emitir sons produzindo um "desculpe por isso" seguido de uma careta teatral que me fez rir.

- Fico feliz por ter vindo, Penelope. - sorri para ela quando finamente me desvencilhei de seu abraço.

- Eu disse que ela ficaria feliz! - ela disse, se voltando para Spence - Ele não queria me trazer, acredita? - agora ela falava para mim.

- Oh, não posso acreditar nisso! Ele me quer só para ele agora! - retruquei, nitidamente tirando sarro dos dois, que riram.

Entramos na casa e JJ já estava na sala para saber o que estava acontecendo. Ela carregava uma bandeja enorme de sanduíches, como se já soubesse que receberíamos visitas.

- Eu sabia que Penelope viria logo! Fiz alguns sanduíches especiais de tofu.

Penelope começou a saltitar e bater palminhas, animada. Logo Will chegou trazendo Henry, que fez uma festa por todos estarem lá. Ninguém precisava falar em voz alta, mas estava claro que o sentimento geral era o mesmo de meu sobrinho.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora