[18] Boa noite

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É claro que nós estávamos envergonhados, era um aumento de intimidade muito grande e muito rápido. Mas, ao mesmo tempo, nos sentíamos bem com a situação. Dava pra ver que era algo que ambos queriam de verdade.

Fui me aprontar para dormir e, quando voltei, Spence (yeah!) já estava sentado no lado direito da cama (minhas coisas estavam todas no criado-mudo da esquerda, fazendo-o deduzir ser o lado que eu preferia dormir) com as pernas esticadas. Fitava a parede, pensativo e com um indício de sua tradicional testa enrugada. Eu o olhei com curiosidade.

- Meu terapeuta estaria orgulhoso, se eu tivesse um... - ele disse sem que eu questionasse nada - Eu sequer me lembro de ter TOC quando estou com você! - ele pareceu surpreso, como se tivesse feito uma grande descoberta.

Eu ri dele. De fato, sabia que ele tinha o transtorno, mas nunca percebi sintomas graves. Ele devia ter suas crises às vezes.

- Agora é a sua vez! Conte-me, eu tenho algum efeito sobre você? - ele me olhou esperançoso.

- Claro que tem! - sentei no meu lado da cama - Você me faz uma boba risonha. É a única reação que tenho quando estou com você: sorrir. - para confirmar, abri um grande sorriso e suspirei - Fico me perguntando como isso não aconteceu antes...

- Acho que nós precisávamos estar preparados para isso, precisávamos passar por tudo o que passamos, cada coisa em seu tempo. - ele me olhava com intensidade.

Estiquei as pernas na cama, imitando a posição dele. Ficamos um tempo assim, sem saber o que fazer e como reagir.

- Um sorriso, talvez? - ele disse, quebrando o silêncio e me fazendo rir.

Foi ele quem agiu primeiro, deitando de lado, seu rosto virando pra mim. Mais uma vez eu o espelhei. Ficamos assim por mais alguns minutos, nossos rostos a menos de um palmo de distância. Sentia o cansaço tomando conta de mim, meu corpo parecia flutuar enquanto minhas pálpebras pesavam toneladas. Era minha vez de agir: me aproximei dele, apoiando minha cabeça em seu peito. Me aninhei em seus braços, ele envolveu meus ombros.

- Boa noite, Bela Adormecida... - foi a última coisa que consegui ouvir antes de tentar balbuciar uma resposta ininteligível e cair num sono profundo.

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Estava no transe entre sono e consciência. Por algum motivo que eu não conseguia lembrar, minha cama parecia ser o melhor lugar do mundo naquele momento. Uma linha de claridade passava por baixo da porta e agredia meus olhos, fazendo com que ficassem fechados.

Percebi um movimento nas minhas costas e, em um milésimo de segundo, lembrei de tudo. Um braço surgiu sobre meu corpo, encaixando a parte interna do cotovelo na minha cintura, a mão apoiada na cama a minha frente. Conseguia sentir a respiração lenta e pesada de Spence em minha nuca, indicando que provavelmente ele havia se mexido dormindo mesmo.

Sorri ainda de olhos fechados na penumbra do quarto. Acariciei-o suavemente do antebraço até as mãos, meus dedos mal o tocavam. O cheiro dele havia inundado meu quarto, podia senti-lo exalando forte dos travesseiros e lençóis. Eu não queria despertar para o mundo, não queria sair daquele quase-sono perfeito.

Quando finalmente abri os olhos, pude enxergar que o relógio marcava algumas horas a mais do que eu esperava. Havia dormido por um tempo mais que suficiente e sabia que logo Will me procuraria para fazermos algo.

Me virei com cuidado, ficando de frente para Spence. Levei minha mão até seu rosto, toquei-o com leveza. Podia sentir a aspereza delicada da barba, que voltava a crescer, já se fazendo um pouco presente. Sua respiração mudou de ritmo e um sorriso preguiço apareceu em sua face.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora