[27] Escuridão

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Eu estava me despedindo de Rachel, a nova estagiária da tarde no necrotério, e passando para ela as últimas instruções antes de ir embora quando alguém bateu na porta.

- Pode entrar! - disse alto - Espero que não seja mais trabalho. - sussurrei só para Rachel ouvir.

A porta se abriu e Spence apareceu atrás dela.

- Desculpe por aparecer a essa hora, doutora, mas eu preciso consultá-la sobre um caso. - foi a reação de Spence após se surpreender ao ver Rachel ali. Ele não sabia que uma estagiária nova estava começando.

- Oh, está bem. Dr. Reid, essa é Rachel, a nova estagiária da tarde.

- Bom conhecê-la. - Spence a cumprimentou com a cabeça e Rachel fez o mesmo.

- Então isso é tudo, Rachel. Você pode ir. Nos vemos amanhã.

Rachel se despediu e saiu, tímida. Era seu primeiro dia e ela não se sentia muito a vontade ainda. Me dirigi até a mesa para concluir e assinar os relatórios enquanto ela passava pela porta.

- Como posso ajudá-lo? - perguntei a Spence enquanto ainda mexia nos papéis.

Spence sentou no canto da mesa e disse:

- Você pode começar me dizendo como está tão linda mesmo depois de um dia estressante como hoje.

Parei tudo o que estava fazendo e olhei para ele. Eu estava com um coque todo solto e mal feito preso com uma caneta e vestia meu avental branco de trabalho sobre a roupa.

- Você só pode estar brincando. - continuei o encarando com as sobrancelhas arqueadas.

- Juro que não. Linda. Adoro como você fica bem nesse avental.

Comecei a rir, larguei os papéis e passei os braços ao redor do pescoço de Spence, beijando-o. Como podia ser tão fofo?

Saímos juntos de lá, mas cada um precisava ir para sua casa antes do jantar de Penelope. Combinamos de nos encontrar na esquina do prédio dela por volta das 20h (afinal, eu havia prometido que levaria meu namorado) e seguimos nossos caminhos separados.

Cheguei em casa, tomei banho e peguei um vestido azul escuro estampado com margaridas para usar. Meu cabelo cacheado e um casaquinho branco completavam a roupa escolhida. Sim, eu decidi escolher uma roupa bonitinha depois de estar toda cagada e Spence me elogiar não porque achava que ele deveria me achar bonita, mas eu queria me sentir bem. Além disso, Penelope ficaria orgulhosa por eu ter parado um tempo para escolher que roupa pôr.

Cheguei perto da esquina de Penelope as 19h58 e de longe já avistei Spence esperando. Ele usava uma camisa roxa com as mangas dobradas e estava de costas para mim observando os carros que passavam apressados pela rua. Há poucos metros eu já podia sentir seu cheiro trazido pelo vento. Cheguei bem próxima dele e coloquei minha mão sobre seus olhos. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, fiquei de frente para ele e o enchi de beijos, tirando a mão que o vendava.

- Obrigado por isso. - foi a primeira coisa que ele disse, sorrindo.

- Por quê? - eu também sorria, pensando no quão deslumbrante ele estava naquela noite.

- Minhas últimas experiências em ser vendado não foram nada agradáveis. Agora eu tenho algo bom para lembrar.

Quando ele falou eu me dei conta de que já sabia do que ele falava. Quando adolescente, Spence havia sido vendado e humilhado em público por uma menina da qual gostava. Anos depois, a sequestradora de Maeve o vendou de novo pouco antes das duas acabarem mortas.

Levei minha mão para acariciar seu rosto. Ele não ficou abalado pelas lembranças como das últimas vezes, elas pareciam distantes da realidade de agora. Spence pegou a minha mão e, com delicadeza, levou até seus lábios. Depois entrelaçou nossos dedos e nós seguimos caminhando pela calçada em direção ao prédio de Penelope.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora