4:15 A.M
Olho minuciosamente para meu reflexo no espelho, minha aparência não mudou nada, meus olhos continuam castanhos claros e arredondados, minha pele pálida ainda traz um destaque maior as minhas bochechas levemente rosadas, meu nariz fino e arrebitado ainda combina perfeitamente com meus lábios carnudos e bem desenhados. Meu corpo também não mudou nada, continuo magra e franzina, sem nenhuma curva para entreter potenciais admiradores. Não que eu queira, claro. A voz, ainda é calma e objetiva, nada diferente de meses atrás. Mas ainda assim, sem nenhuma mudança física ou comportamental, não me sinto eu.
Acho engraçado o que um coração partido pode fazer a uma pessoa, ele pode arruina-la de várias formas possíveis, principalmente na autoestima, mas convenhamos, não sou uma pessoa qualquer e não vou permitir que um playboy filho de uma puta, com todo respeito a mãe dele que é legal comigo, destrua minha vida.
Encaro o relógio sob o criado mudo, certo, já está na hora de pegar a estrada e enfrentar a aglomeração do aeroporto, o que será compensador quando eu chegar na faculdade de Oxford e reencontrar minha melhor amiga Lily e minha antiga vida. Estou ansiosa, só espero que minha família me perdoe por ir embora sem avisar, mas cá entre nós, odeio despedidas.
Pego minhas duas bagagens com um pouco de dificuldade pelo peso, saio do quarto sem fazer barulho para que ninguém acorde e começo a descer as escadas, até me lembrar de que não passei no quarto da Missy para dar-lhe um beijo, então subo correndo e passo mais tempo do que devia em seu quarto, deixo a garotinha de rosto angelical dormir serena e volto a seguir o plano.
Coloco minhas bagagens no porta-malas e corro para dentro do carro, o frio é absurdo e me amaldiçoo por não ter vestido uma blusa mais quente. Ligo o ar condicionado para me aquecer, o som para me distrair e o modo "vida nova" para me sentir em um filme teen dos anos 2000. O quê? Vai dizer que vocês nunca se imaginaram em um filme teen ou um clip? Eu sei que já, então não me julguem, tá legal?!
Não demora para eu chegar no aeroporto, está lotado e caótico, as pessoas reclamam quase que aos berros sobre vôos cancelados ou atrasados, mas por sorte, não me torno uma delas, faço meu check-in e sigo a grande fila de pessoas, estou tão feliz por estar retomando minha vida.
Enquanto caminho rumo a liberdade, a palavra mãe na tela do meu celular faz meu coração errar uma batida, não era para ela estar me ligando agora, não vou conseguir explicar a ela os motivos que levaram-me a ir embora sem despedir-me. Falo com ela depois, agora não é o momento certo para uma conversa adulta.
Entro no avião e procuro minha poltrona, não demora para eu acha-la e guardo minha bagagem de mão e ajeito-me em meu assento, agradeço mentalmente por estar sentada ao lado de um senhor que não parece notar minha presença, ou se percebeu não preocupou-se em cumprimentar-me. Isso é ótimo, nunca gostei de pessoas falantes.O avião decola, respiro fundo e tento acalmar a ansiedade crescente, em poucas horas estarei em outro país, na minha antiga faculdade, retomando o rumo da minha vida perfeita e esquecendo que um dia deixei tudo que sempre sonhei para trás por causa de um garoto. Nunca imaginei que eu fosse cometer a burrice de largar a faculdade só porque um garoto idiota roubou meu coração. E pior, que em menos de oito meses eu o flagaria em seu quarto de hotel com outra, partindo assim meu coração, ferindo meu orgulho e diminuindo minha confiança.
A vontade de chorar chega com força, mas controlo-me, me recuso a derramar mais lágrimas por algo que já deixei no passado.
Suspiro, encarando o senhor ao meu lado, ele está tão entretido com seu jornal que parece não notar minha presença ou só optou por ignorar mesmo, e agradeço por isso, pois a última coisa que quero é viajar ao lado de uma pessoa falante.
Ajeito meu corpo cansado em minha poltrona e fecho os olhos, vai ser uma longa viagem até a Inglaterra e pretendo dormir o vôo inteiro, acordando só para ir ao banheiro e checar se meu rosto não está sujo de baba seca.Não sei exatamente quantas horas durou a viagem, mas finalmente cheguei ao aeroporto da Inglaterra e pude ligar meu celular.
- Meu Deus! - Reviro os olhos. - Pra que tantas chamadas e mensagens?! - Todas dos meus pais, nenhuma do Ethan.
Confesso que fico triste por ele não ter me procurado, nem que fosse para assumir que nunca gostou de mim e sim da loira do quarto de hotel, nem que fosse para se desculpar ou coisa do tipo.
Pode parecer infantil da minha parte, mas eu sonhava com o dia que ele chegaria em mim, ajoelharia aos meus pés e pediria perdão, depois, com olhos cheios de lágrimas, imploraria por uma segunda chance. E então, com uma expressão fria e uma voz tão fria quanto, olharia no fundo dos seus belos olhos castanhos e partiria o seu coração em mil pedacinhos, assim como fez com o meu. Diria um não bem lento e afiado, sorriria de forma diabólica e daria as costas.Todas as noites sonhava que assim o faria, mas, infelizmente, esse dia memorável nunca aconteceu, ele nunca pediu perdão, bom uma vez, mas foi de maneira bem idiota no jantar da Kate e do Holt, então não conta. Aquele desculpa não foi do coração, ele não se arrependeu do que fez e ainda tentou culpar-me por sua atitude.
Droga! Aqui estou eu, pensando no passado novamente, pensando em Ethan novamente. Queria ter o poder de tirá-lo da minha mente, mas é tão difícil.
Mesmo sendo uma pessoa desprezível a maior parte do tempo, Ethan tem um lado muito cativante, capaz de tornar-lo inesquecível.Sinto meu estômago doer de fome, preciso tomar um café bem forte e comer algo antes de voltar para o apartamento da Lili.
Minha melhor amiga não acreditou quando contei que voltaria, sua euforia no telefone e convite para voltar para seu apartamento deixou-me tão feliz. Senti muita saudade dela, e mesmo que eu queira vê-la logo pedi que não me buscasse no aeroporto. Preciso desse pequeno tempo a sós, pois sei que minha amiga me encherá de perguntas e a maioria será sobre o garoto que feriu meu coração.
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EU ODEIO ETHAN HOLT
RomanceDecidida a esquecer Ethan, a jovem Madson Cooper arruma suas malas e retorna à faculdade de Oxford, de onde desejou nunca ter saído. Com o coração e orgulho ferido, Madson se joga nas festas, faz novos amigos, planeja sua volta ao jornal da faculdad...