Bem vinda ao Oxford Daily News

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Hoje é meu primeiro dia no jornal da faculdade, e se não fosse meu desentendimento com o Tae, seria o dia mais feliz da minha vida. Não me entendam mal, minha felicidade não depende de homem, mas sou humana, algumas situações desanimam.

Abro a porta do prédio do jornal, atravesso-a respirando profundamente, estou nervosa e ansiosa, meu coração parece que vai sair bela boca e tudo piora quando um garota bem alto, musculoso, de cabelos negros e pele bronzeada se aproxima de mim.

- Estava esperando por você. - Diz, sorrindo.

- Desculpa, mas nós nos conhecemos? - O encaro curiosa.

- Não. - O sorriso diminui. - Sou o Charle, a Taylor teve um compromisso e pediu para eu recepciona-la. - Explica.

- Ah, claro. - Forço um sorriso, tentando não ser antipática.

Ficamos em um silêncio constrangedor, ambos esperando o outro começar a falar e Charle tomou partido.

- Primeiro faremos uma tour, te apresento o pessoal e depois explico qual será sua função.

Não sei se quero conhecer o pessoal, pois, quanto mais gente entra em nossa vida, mais gente sairá dela. Vi isso em livro ou filme, não lembro ao certo, mas fez bastante sentido para mim, e agora que perdi o Tae faz mais sentido ainda.

- Será que posso só começar a trabalhar e conhecer as pessoas aos poucos, bom, de forma natural? - Sugiro, rezando para que ele não me force a socializar.

Charle encará-me confuso, enfia as mãos nos bolsos de sua calça jeans, da de ombro e murmura um " Você que sabe".

- Obrigada. - Sorrio, agradecida.

- Certo. - Ele aperta o botão do elevador. - O seu trabalho vai ser o mais tedioso. - Sorri de forma diabólica, deixando-me um pouco preocupada. - E, emocionante, te ajudará a ser sincera e não ter medo de falar a verdade. - Ele faz um pausa para entrarmos no elevador. - Taylor mostrou alguns artigos que escreveu, devo admitir, você é muito boa, talvez, um dia eu leia algo seu no The New York Times.

Charle não para de falar momento algum, não estou reclamando, o que estou tentando dizer é que ele fala sobre tudo, menos sobre o que vou escrever.

- Você tem potencial...

- Obrigada. - O interrompo. - Você estava para dizer o que vou fazer. - Lembro.

- Ah, claro. - Ele ri, batendo em sua testa. - O jornal está cobrindo as peças de teatro, os alunos desse ano são muito bons, mas você tinha que ter visto os do ano passado.

- Eu estava aqui ano passado. - Falo mais para mim do que pra Charle. - Bom, eu estava, mas nunca assisti a peça alguma.

- Uma pena. - Diz, o sorriso de orelha a orelha. - A maioria dos estudantes de teatro foram para a Broadway, outros, para séries e filmes.

- Não sabia disso. - Não escondo minha excitação. - Mas, voltando ao que interessa...

- Ah, nosso andar. - A porta do elevador abre e saímos. - Bom, chega de enrolação. Seu trabalho, no momento, será assistir as peças de teatro e escrever sobre.

Bom, eu trabalhei no jornal ano passado, então tenho propriedade pra dizer que isso é um saco e quem faz esse trabalho não é muito levado a sério. Na verdade, se você considerar ser seguido por quem escreveu ou incenou a peça de forma patética, como ser levado a sério, então... Ano passado a Samantha Wash cobria as peças teatrais,  certa vez ela criticou o desempenho de uma aspirante a celebridade e, acreditem, a garota a perseguiu feito louca. Certeza que a aspirante não foi pra Broadway nem pra televisão.
Esqueça essas duas, farei o meu melhor e subirei de nível, não vou sossegar até voltar a pegar as matérias principais ou as menos irrelevantes.

- Você não parece muito feliz. - Charle coça a nuca, um pouco constrangido com minha falta de entusiasmo. - Será temporário, acredite. Sei que Taylor tem grandes planos para você.

- Ah, não é isso. - Sorrio, nervosa. - É que, bom, não sei se você sabe, mas já participei da redação ano passado só que tranquei a faculdade...

- Fiquei sabendo.

Andamos lado a lado, não ouso perguntar para onde estamos indo, acho que nem o Charle sabe. Os colegas de edição passam por nós, todos cumprimentam o Charle, fazendo-me sentir invisível.

- É estranho estar de volta. - Desabafo, a voz tensa. - Tudo mudou, até às pessoas.

- Nem todas. - Garante. - Alguns sobreviveram a nova gestão.

- Claro. - Sorrio, Charle é divertido. - Quando não tiver peças, o que farei?

- Você pode auxiliar os outros. - Ele para de andar, faço o mesmo. - E, trabalhar no que quiser, use seu tempo livre para trabalhar em artigos, quem sabe não sai um pote de ouro dessa cabecinha cor de mel. - Se refere a cor do meu cabelo, forço um sorriso.

Charle é legal, um pouco estranho e falante, mas muito legal.

- Aquela vai ser sua mesa. - Ele aponta para o fundo da grande sala, caminhamos até a mesa vaga. - Fique à vontade, minha sala fica no final do corredor, procure-me se precisar ou fale com alguém daqui. Mais tarde trarei o cronograma do teatro.

- Obrigada, Charle. - Sento em minha cadeira, espero ele sair para tirar meu notebook da bolsa e começar a escrever.

Vez ou outra olho para meus novos colegas, todos estam alheios a minha presença, todos focados demais em seu trabalho para prestar atenção em mim. Por parte, sinto alívio, por outro lado sinto um pouco de solidão, já que a equipe do ano em que estive no jornal era bem animada e eu era popular.
Olho à minha volta, tudo mudou, as pessoas, a decoração, trocaram os computadores velhos por notebooks novinhos em folha, agora temos uma máquina de café expresso, um filtro de água e ar condicionado que funciona.

Meus colegas dão uma pausa para o café, uma das garotas me convida, se não me engano seu nome é Spencer, agradeço o convite, mas recuso, preciso de um tempo sozinha.
Agarro a corrente em meu pescoço, o anel que Tae me deu ainda está pendurada nela,  tocá-lo faz meu coração apertar e a saudade me invadir, e olha que brigamos ontem a noite.

Desbloqueio meu celular, não há mensagens do Taeyang, nem dos meus pais, de Kate ou qualquer ser vivo.
Minha irmã e eu costumávamos conversar todos os dias, mas desde que ela se casou e tornou-se mãe, decidi deixá-la fora dos meus problemas banais, mas, confesso que sinto muita saudade de Kate.
Vou ligar para ela hoje, sorrir e mostrar que estou bem, apesar de não estar, assim minha irmã não ficará preocupada comigo.

- Não saiu para o café?! - Charle aparece de surpresa, arrancando-me um grito baixo de susto. - Desculpa, não quis assusta-la.

- Não foi sua culpa, estava destraida.

- Estou saindo para um café. - Diz. - O que acha de ir comigo?

- Ah, não...

- Vamos, eu tenho tantas ideias que gostaria de compartilhar com você.

- Comigo?! - Franzo a testa. - Porque? Mal nos conhecemos.

- Eu sei, mas o pouco que conheço já gosto.

- Ah! - Fico desconcertada.

- Céus! - Ele ri. - Você ficou toda vermelha. Desculpa, não estou dando em cima de você.

- Claro. - Sorrio, ainda constrangida.

- Venha, vamos tomar um café.

EU ODEIO ETHAN HOLTOnde histórias criam vida. Descubra agora