Coração disparado

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Me reviro na cama e sussurro para que Lili me deixe dormir por mais cinco minutos, mas ela puxa meu manto azul e depois meus braços.

- Calma. - Digo irritada - Não precisa me desmembrar. - Reviro os olhos ao ver seu sorriso zombeteiro. - Eu amo você, mas não abusa.

- Também amo você. - Ela ri. - Mas, já para o banheiro mocinha ou vai se atrasar pra aula.

- Tá bom mamãe. - Zombo dela.

Durante o banho quente e relaxante o olhar intenso do Taeyang invade minha mente, assim como sua voz grossa e sexy dizendo ser uma pena eu não querer transar com ele.
Será que ele estava brincando quando disse aquilo ou me achou mesmo bonita ao ponto de querer dormir comigo?
Me repreendo por pensar em algo tão idiota e termino meu banho, prendo o cabelo em um coque apertado, enrolo a toalha em meu corpo com firmeza e volto para o quarto. Lili já está arrumada para as aulas e me olha impaciente por conta da demora.

- O Tae saiu tarde daqui? - Me olha curiosa. A menção ao nome dele me deixa apreensiva.

- Um pouco antes da meia noite, acho. - Digo sem olhá-la. - Por quê ele tem a chave do seu apartamento? - Vou até o armário e pego minha camisa branca com botões dourados.

Lili se joga na cama e fica encarando o teto.
- Sempre que a fraternidade dele dava uma festa da qual ele não queria participar, ele vinha dormir aqui. - Ela me encara - E para ele não precisar esperar eu chegar ou me acordar para abrir a porta...

- Decidiu dar a chave. - Completo - A qual fraternidade ele pertence? - Não escondo minha curiosidade.

- A Delta. - Sustento seu olhar desconfiado.

- O quê foi? - Umedeço os lábios. - Só estou curiosa. - Termino de abotoar a calça jeans e pego minhas coisas.

- Curiosa ou interessada? - Ela se levanta e me segue rindo. - Sem julgamentos Mads. - Me chama pelo apelido. - Ele é um tremendo de um gato.

- Então fica com ele. - Sugiro com um sorriso simples.

- Ele não faz o meu tipo. - Diz com seriedade. - E somos tipo irmãos.

- Nossa, que emocionante - Zombo. - E como essa linda amizade começou?

Ela se ajeita em sua cama, pensa por alguns minutos e logo abre um sorriso de orelha a orelha.

- Ele mudou-se para cá duas semanas depois de você ir embora - faz uma pausa dramática. - Nos conhecemos em um bar local, conversamos e descobrimos que estudávamos na mesma faculdade e o resto é história. - Sorri.

- Então, vocês nunca ficaram? - Ela não se intimida com meu olhar acusado.

- Não. - diz, a sinceridade estampada no olhar. - Já disse que ele não faz meu tipo. Já o seu...

- Aula. - interrompo. - Temos que ir a aula.

Sorrio e continuo seguindo na frente da Lili, na esperança de que ela entenda que a conversa acabou e pare de me insistir que estou interessada em seu colega cafajeste.
Dou um beijo em seu rosto e seguimos caminhos opostos.
As aulas foram tranquilas e passaram bem rápido, mas continuei os meus estudos na biblioteca e me foquei apenas nas minhas anotações.
Minha barriga ronca e aperto os lábios com força, estou morrendo de fome e ainda não estudei metade do planejado.

- Só mais dez minutos. - Digo a mim mesma.
Olho ao meu redor, a biblioteca está mais vazia que a meia hora atrás e metade dos abajures estão apagados, acho que é hora de ir pra casa.

Guardo minhas coisas, jogo a mochila em um dos ombros e troco a grande e confortável biblioteca pelo começo de noite fria e ruas movimentadas.
Mando uma mensagem para a Lili avisando que vou tomar um café antes de ir para casa, mas não espero uma resposta e jogo o celular no bolso da calça jeans.
Atravesso a rua e antes que possa entrar na cafeteria uma voz recém familiar chama por mim, olho para o garoto de olhos puxados sentado em uma pequena mesa redonda e respiro fundo.
Taeyang sopra a fumaça densa e olha-me com atenção.

- Oi. - Me aproximo lentamente e cruzo os braços.

- Pode sentar. - Ele puxa a cadeira ao seu lado e sorri. - Eu não mordo.

Não vejo porque recusar o convide dele e mesmo que eu não o conheça, Taeyang parece ser tolerável.

- O quê vai querer? - Ele apaga o cigarro e o joga dentro do cinzeiro. - Chá, café, água...

- Café. - Digo de imediato antes que ele possa falar o cardápio todo. - Sem açúcar, por favor.

- Já volto. - Ele entra na cafeteria e fico observando pela grande janela a atendente se insinuar para ele.

Sorrio achando graça da situação.
Ele volta com meu café e agradeço com um sorriso tímido.
Taeyang volta a se sentar e tira outro cigarro do maço me fazendo olhá-lo com reprovação, sem se importar ele o acende e leva até os lábios perfeitamente desenhados.

- Acha minha boca bonita? - Zomba.

Com as bochechas em chamas, desvio o olhar e tomo um gole do meu café.

- O quê você estuda? - Sua pergunta me faz encará-lo.

- Literatura. - Encaro seus olhos negros. - E você?

- Direito. - Diz sem entusiasmo, me fazendo crer que sua família o obrigou.

Me lembro da pressão que minha mãe fez para eu escolher cursar direito como ela, ou medicina. Ela tinha o sonho de me ver em Harvard, mas aqui estou eu, Oxford.

- Sua família o obrigou? - Minha pergunta o faz rir.

- O quê? De onde tirou isso? - Ele para de rir e leva o cigarro à boca. - Acha que um cara como eu, não pode ser advogado por vontade própria?

- Não é isso. - Nego com a cabeça. - É que você falou com tão pouco entusiasmo. - Dou de ombros.

- São anos de curso e a prova final é difícil, então não tenho motivos para me entusiasmar. - Ele apaga o cigarro e da um gole em seu café. Novamente admiro seus lábios. - E você? Por quê literatura?

- Quero ser escritora. - Meu sorriso se alarga. - Ou, posso ser colunista em um jornal. Ou professora.

- Como Jane Austin e Agatha Christie?

- Austin não, ela é romântica demais. - O encaro séria. - Não sou muito fã de romances. Gosto mais de Stephen King, Bram Stoker, H. P. Lovecraft e Mary Shelley.

- É Frankenstein é um clássico. - Diz com sinceridade. - E It também. - Ele abre um sorriso divertido. - Depois de ler o livro e assistir o filme fiquei sem dormir por um tempo.

- O original ou o remake? - Brinco com o copo de café.

- O original. - Faz careta. - Não gosto de remakes. São uma droga.

Concordo com um sorriso simples e um aceno de cabeça.

- Você vai ser uma escritora incrível. - Diz com sinceridade. - Mas devia dar uma chance ao romance. - Ele da um sorriso pretensioso.

- Falou o cara que dorme com o campus inteira. - Zombo.

Ele me olha surpreso e antes que possa falar algo continuo.

- A Lili me contou. - Cruzo os braços em cima da mesa e me inclino para frente. - Seu apetite sexual é muito grande ou você tem medo de compromisso? - Sustento seu olhar sério.

- Você pode descobrir. - Ele se inclina e posso sentir seu hálito de café, menta e tabaco. - E, garanto que vai gostar. - Ele pega uma mecha do meu cabelo e o enrola em seus dedos. Meu coração dispara e não consigo desviar meu olhar do seu.

Taeyang umedece os lábios convidativos e se aproxima lentamente dos meus, sinto seu calor gostoso e meu coração dispara, mas antes que ele tome meus lábios o interrompo.

- Está ficando tarde. - Afasto sua mão do meu cabelo e me levanto. - Obrigada pelo café e pela conversa.

- Eu a acompanho...

- Não precisa. - Digo sem olhá-lo.

Mesmo a uma distância segura do Taeyang, não me virei para fita-lo, ainda assim podia sentir seu olhar sob mim, queimando minhas costas e fazendo meu coração disparar de forma assustadora.

A última vez que me permiti sentir isso sai com o coração partido, não posso deixar isso acontecer novamente.

EU ODEIO ETHAN HOLTOnde histórias criam vida. Descubra agora