Grandes revelações

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A mansão dos Choi é mais bonita e assustadora do lado de dentro, Tae mostra-me cada cômodo dos três vastos andares, no fim, percebo que a casa é muito maior do que aparenta. Tem vários quartos, banheiros com e sem banheira, academia, piscina particular, sauna, armário de casacos, uma cozinha enorme, duas salas de jantar, sala de jogos, biblioteca e jardim de inverno. Coisas que só vi em filmes e seriados de famílias que mandam em metade da cidade.
Pobre Sina, deve ficar muito cansada por ter que limpar tudo isso, pois, mesmo que a casa não esteja sendo habitada, tudo está limpo e cheiroso.

- Esse lugar é impressionante. - Digo, enquanto voltamos para a sala principal, onde uma linda e receptiva lareira nos aguarda.

- Fique à vontade - Diz Tae, guiando-me gentilmente até o sofá. - Vou buscar um vinho para nós.

- Podemos tomar chá ou chocolate quente?
Não quero beber essa noite.

Ele concorda com um aceno de cabeça e deixa-me sozinha na grande e assustadora sala de estar. Sério, ao mesmo tempo que essa casa me fascina, também causa-me arrepios.

Tae não demora, em suas mãos está uma pequena bandeja, há biscoitos dentro de um pote de vidro, uma xícara de chá e uma garrafa de uisque. Tae sendo o Tae. E, pasmem, uma linda rosa vermelha, não contenho um sorriso bobo.

- Peguei isso pra você. - Sorri, tirando a rosa da bandeja e entregando-a a mim.

Sorrio em agradecimento e beijo seus lábios, Tae coloca a bandeja sob a mesinha de canto e começa estender um manto felpudo sob o tapete.

Tae e eu sentamos no chão, tomo um gole do chá de ervas e suspiro de excitação, está maravilhoso.

Tae abre seu uísque e despeja uma grande quantia em seu copo.

- Obrigada, Taeyang Choi. - Acaricio seu rosto.

- Como descobriu meu sobrenome? - Franzi as sobrancelhas.

- Fiz algumas perguntas à Sina.

- Que tipo de pergunta? - Ele ajeita o corpo, deito em seu colo.

- Bom, sobre seus pais. - Respiro fundo. - A Sina contou-me que você e seu pai não se dão bem.

Os olhos negros do Tae brilham com o reflexo da chama na lareira, vejo a tristeza em seu rosto e arrependo-me de tocar nesse assunto.

- Desculpa...

- Não quero tocar nesse assunto. - Seu tom é rude.

Saio do seu colo, sentando em sua frente para encara-lo nos olhos.

- Eu só estava um pouco curiosa sobre você e sua família, estamos juntos a meses e não o conheço direito - Explico.

- O que mais Sina contou a você? - Tae encara-me com desconfiança.

- Ela não contou mais nada. - Nego com a cabeça, temendo que ele tire satisfação com a Sina. Longe de mim ser motivo de desavença na relação de quem quer que seja.

Tae fica quieto, nada contente com o fato de eu estar vasculhando sua vida e da sua família. Eu o entendo, também ficaria brava se fizessem o mesmo comigo. Quem é que gosta de entrometidos? Ninguém. Então vou me desculpar e jogar terra em cima dessa história.

- Eu si...

- Vou lá fora fumar um cigarro. - Se levanta rapidamente, com a garrafa de uísque nas mãos, e deixa a sala de estar, fazendo meu arrependimento aumentar.

Penso em ir atrás dele e força-lo a conversar comigo, pedir que não brigue com a Sina, pedir que me desculpe por fazer perguntas, penso em várias e várias coisas, mas não as faço. Meu pai sempre me ensinou a dar tempo e respeitar o espaço dos outros e, todas as vezes que segui seus conselho me sai bem.
Tae só precisa de espaço, quando ele se acalmar virá conversar comigo.
Bom, eu espero.

Meia hora passa e nada do Tae voltar, o chá já está frio, assim como o manto embaixo de mim e meu coração.
O som de um trovão faz as janelas tremerem, em seguida uma forte e inesperada chuva começa.

- Tae! - Grito, já me levantando para ir atrás dele.

Abro a porta da frente, o vento sopra com bastante força fazendo os galhos das árvores quebrarem. Grito o Tae, nada, então fecho a porta e procuro nos fundos. Tae deve ter saído pela cozinha ou por alguma porta lateral. Sei lá.

- Tae! - Grito, mas não sou respondida.

A cozinha está escura e vazia, mas a luz do jardim está acesa e corro até a janela. Lá está o Taeyang, sentado em um balanço sem se importar com a forte chuva que molha seu corpo.
Abro a porta e deixo a cozinha, a água fria arranca um gemido fino dos meus lábios, o vento bate com força em meu rosto e a grama molhada quase me faz cair. Os trovões parecem ficar mais altos a cada estrondo e os relâmpagos que cortam o céu parecem ameaçadores. Eu amo a chuva, mas essa está me assustando.

- Tae - Me ajoelho ao seu lado, tirando a garrafa vazia de sua mão. - Volte para casa, vai acabar ficando doente...

- Ele era cruel - Sua voz embargada mistura-se com o estrondo do trovão. Seus olhos tristes fitam os meus. - Não deixava meus irmãos e eu respirarmos...

- Não precisa me contar se não quiser...

- Eu... - Ele apoia a cabeça em meu peito e acaricio seus cabelos. - Eu...

- Vamos entrar! - Peço, mas Tae não me dá ouvidos. Ele está bêbado e triste, conheço bem essa combinação e não é nada boa.

- Ele só sabia trabalhar, tratava mal minha mãe, irmão e a mim - Sua voz vacila. - Eu fazia de tudo para chamar atenção do meu pai, mas era como se ele me odiasse... Ele me odiava. Ainda odeia. - Seu olhar triste encontra o meu. - Ele mesmo disse isso...

- Sinto muito. - Acaricio seu rosto.

- Eu ia estudar na Coreia, mas ele me expulsou de casa discretamente. - Ri com amargor. - Ele pagou de uma só vez todos os anos em Oxford e fez uma doação generosa. Até me deu um apartamento, tudo para eu me afastar dele e da mamãe... Tudo para eu não contar a ela o que ele fez.

- O que ele fez? - Seguro seu rosto com ambas as mãos.

- Ele traiu minha mãe. - Uma lágrima rola do seu olho esquerdo. - Eu os vi, ameacei contar a mamãe, então ele passou a me tratar que nem lixo.

Ah Deus!

Não sei o que falar, não sei como consola-lo, sua história é muito triste, é nítido que a relação ruim com o pai o deixou traumatizado, ferido e sozinho. É possível ver a solidão em seus olhos.

- Mesmo que eu tenha mantido a boca fechada, mesmo que eu tenha tirado as melhores notas e dedicado minha adolescência a ser um bom filho, ele sempre me tratava mal, humilhava e cobrava de mim cada vez mais - Sua voz vacila. - Mesmo que eu tenha ficado calado, ele me afastou da minha mãe e dos meus irmãos... E, mesmo longe e feliz, ele conseguiu achar uma maneira de estragar minha vida.

- Do que está falando? - Um relâmpago corta o céu, a chuva aumenta e o vento também. - Tae, precisamos mesmo entrar.

Uma árvore cai não muito longe de nós, fazendo-me gritar de susto, Tae encara-me por alguns segundos, levanta, coloca uma das mãos em minha cintura e seguimos de volta a casa.

- É melhor você tomar um banho e ir deitar.

Antes mesmo de eu terminar a frase, Tae deixa a cozinha e desaparece na escuridão. Abro os armários a procura de pó de café, preciso deixar aquele garoto são.

Subo as escadas e procuro o Tae em todos os quartos, ele está no último, fecho a porta atrás de mim e caminho até o garoto triste.

- Fiz café pra você. - Ele toma a xícara da minha mão. - Cuidado, está quente. - Aviso, mas Tae parece não se importar com a temperatura e toma um longo gole. - Tae...

- Estou cansado - Me interrompe. - Eu preciso dormir.

- Certo. - Concordo. - Vou ficar lá embaixo mais um pouco...

- Não me deixa! - O pedido de Tae me surpreendi. - Nunca, jamais, independente do que acontecer... Me deixe.

- Não vou. - Acaricio sua face. - Prometo.

Tae deita na cama e deito ao seu lado, não demora para ele dormir, diferente de mim, que madruguei pensando em tudo que me foi dito. Esse garoto sofreu demais.

EU ODEIO ETHAN HOLTOnde histórias criam vida. Descubra agora