A queda

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As meninas resolveram dar uma volta, só para deixar Tae e eu a sós.
Preparo um chá para ele, mas o garoto de semblante triste nega com a cabeça e vai até às garrafas de bebidas alcoólicas.

- Acho que está meio cedo para isso. - Meu tom é brincalhão, mas no fundo estou falando sério.

Tae me ignora e abre uma garrafa de whisky, e por mais que minha vontade seja tirar a garrafa de suas mãos e repreendê-lo, não o faço, pelo contrário, tiro dois copos de dentro do armário e o acompanho. O garota à minha frente precisa de alguém que o ouça e não que o repreenda.
Ele enche meu copo e depois o seu, e antes que eu agradeça sou silenciada pelo espanto de vê-lo virar o copo e tomar toda a bebida em um único gole. Ele repete a ação outras três vezes e quando vai fazer uma quarta vez, o repreendo carinhosamente.

- Eu sei o que está tentando fazer. - Tiro o copo de sua mão. - A bebida não vai amenizar a dor, pode acreditar, eu tentei. - Ele nega com a cabeça e pega a garrafa, dando uma golada longa antes que eu o impeça. - Tae...

- Me deixa! - Seu tom é rude, mas não me deixou abalar.

Tiro a garrafa de suas mãos, deixo-na ao lado dos nossos copos e volto a encara-lo, parece que cada vez que desvio o olhar e volto a encará-lo, ele está mais triste, mais destruído e menos ele.

- Não posso dizer que sei o que está sentindo, mas posso escutá-lo. - Me aproximo dele e me ajoelho ao seu lado. - Estou aqui pra você.

Ele desvia o olhar, mas pega em minha mão em busca de algum conforto, levo sua mão até meus lábios e a beijo com ternura. Tae fecha os olhos e suspira. Ele está destruído.

- O que posso fazer por você? - Minha voz é lenta, baixa e gentil. - Me diz e eu faço.

- Qualquer coisa? - Seus olhos negros encaram-me com seriedade. Penso em responder "depende", mas um "sim" sai dos meus com firmeza. - Não estou pedindo para você abandonar sua vida aqui, mas quero que vá a Coreia comigo.

- Oh, nossa! - Arregalo meus olhos, sinto o ar fugir dos meus pulmões e meu peito bater forte. Não era bem isso que eu esperava, mas eu disse que sim, então preciso cumprir com o que foi dito. - Isso é...

- Loucura, eu sei. - Ele acaricia minha bochecha esquerda e beija meus lábios com ternura. - Mas preciso de você ao meu lado, Madson. Não consigo encarar isso sozinho. Serão só alguns dias, talvez um mês...

- Tae...

- Só preciso ver o túmulo dela e encerrar essa parte da minha vida... - As lágrimas rolam por seu rosto. - Madson, preciso mesmo de você...

- Tae - O abraço apertado. - Tudo ficará bem. Prometo!

- Você vai comigo, certo?! - Pergunta esperançoso.

Eu o amo do fundo do meu coração, disso ele pode ter certeza, mas Oxford é minha vida, eu estudei duro para chegar aqui, depois abri mão da minha poupança para retornar a esse lugar sem depender inteiramente do dinheiro dos meus pais, ir para a Coreia mesmo que seja por um mês pode atrapalhar meus planos, mas não ir, bom, isso seria completamente egoísmo da minha parte, pois, tenho certeza que o Tae largaria tudo por mim. Bom, ele abriu mão dos carros, moto e do seu apartamento só para ficar comigo. Se isso não é amor, não sei o que é.

- Madson? - Me encara

- É claro que vou. - Forço um sorriso.

Já viajei para tantos lugares, já vivi tantas aventuras, mas ir para a Coreia do Norte com um namorado, filho de um empresário poderoso e que me odeia, nunca, nunca mesmo, passou por minha cabeça. Me pergunto o que meus pais vão pensar a respeito, certeza que papai vai agir como se não tivesse incomodado com isso, enquanto minha mãe vai surtar comigo e me dar um sermão de horas.

- Vou preparar alguma coisa para comermos e... - Ele nega com a cabeça. - Prefere sair pra almoçar?

- Não estou com fome. - Sua voz é distante.

Tento puxar assunto, mas Tae não está afim de conversar comigo, não o culpo, em seu lugar estaria assim ou pior.
Já que vou viajar com ele para a Coreia, então preciso avisar a Taylor e o Charle que ficarei ausente por um tempo considerável, claro, a chance de eu não fazer mais parte do jornal é grande, já que venho faltando muito por conta dos últimos acontecimentos.
Não sei explicar, mas não me sinto mais eu, não parece que estou fazendo o curso que amo, sinto-me perdida, eu amava escrever, amava a ideia de ser jornalista ou escritora, senão os dois, mas de um tempo para cá passei a questionar minhas escolhas, passei a pensar que talvez devesse desistir da faculdade e tirar um ano ou dois para pensar no que realmente tá quero e se quero alguma coisa.

Estou tão aflita com minha vida atual, antes do Ethan eu sabia quem eu era, depois dele e do Tae, tudo que sinto é angústia e medo, claro que, ao lado da Tae tenho sido bem feliz, mas o seu pai idiota e a grande e chocante revelação nos deixou bem abalados, deixou nosso relacionamento abalado.
Não estou com uma sensação boa, sinto que nossa queda está bem próxima.
Fora que seu pai não perdoará o filho por não ter aceitado casar-se com a filha de um conglomerado, sei que isso pode trazer grandes consequências ao Tae. Isso já está acontecendo, e para ser sincera, sinto que as coisas só vão piorar.

O Celular dele vibra, vejo que é uma nova mensagem, mas não vejo quem a enviou, penso em perguntar quem é, mas minha intuição diz para que eu não o faça.

- Quer ficar sozinho? - Pergunto carinhosamente.

Tae me encara e desvia o olhar, depois de alguns minutos em silêncio, ele se afasta de mim e se levanta.

- Vou pra fraternidade, vai ser bom ficar com meus amigos um pouco.

- Certo! - Cosso o final da minha sobrancelha, concordando com a cabeça. - Vou a redação conversar com o Charle e a Taylor. - Ele parece ignorar a informação. - Nos vemos mais tarde?

Ele concorda com a cabeça, mal olhando para mim, e antes que eu possa dizer algo, ele deixa o quarto.

EU ODEIO ETHAN HOLTOnde histórias criam vida. Descubra agora