| Capítulo 05 |

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ISABELA
BRADENTON

...*...

Assim que chegamos a casa da vovó Mary, Jimmy fez questão de frisar que a proposta de um carro novo para a mamãe ainda estava de pé. Ele afirma que a picape é uma lata velha com vida própria, pelo fato de um dos retrovisores ter fechado sozinho. Mamãe mais uma vez negou o presente e afirmou que seu carro está ótimo.

Eu não diria que está ótimo, se contarmos que quase toda semana surge um novo problema e temos de leva-lo a oficina. Para ser sincera, nem sei como papai concordou em trazer essa lata velha para Winterford. Pagaram uma fortuna para trazer a picape mesmo sendo mais útil comprar uma nova.

— um passarinho me contou que minha neta favorita teve o coração partido. – vovó Mary murmura, se acomodando ao meu lado, no balanço de sua varanda.

— esse passarinho tem quase dois metros de altura, vinte dois anos, o QI de um esquilo gordo e é fofoqueiro ?

Vovó gargalha.

— não fale assim do seu irmão. – ela me repreende, ainda entre risos. – ele não tem o QI de um esquilo gordo.

Ergo as sobrancelhas.

— viu só como é verdade ? Você nem teve dúvidas de quem eu tava falando. – um riso me escapa quando ela me olha feio. – tá, talvez o QI de uma criança de 5 anos ?

— Isa...

— tá bom, 6 anos e não falamos mais disso. – brinco, a fazendo negar com a cabeça e soltar um risinho.

— você está tentando mudar de assunto. – cantarola, ainda com um rastro de riso na voz.

— claro que não, ele realmente tem um QI questionável. Você mesmo ama contar de quando Jimmy perguntou porque laranja se chama laranja e limão não se chama verde. – relembro. Vovó gargalha.

— ele tinha seis anos, Isabela. – o defende.

— tudo bem, isso explicar muito. Mas e quando... – me calo quando seus olhos recaem em mim de forma acusatória. Suspiro em ser tão facilmente lida e encaro um casal que caminha tranquilamente do outro lado da rua.

Não sei porque ainda tento esconder algo, vovó Mary me conhece com a palma da mão e reconheceria que estou mentindo ou tentando evitar um assunto mesmo a quilômetros de distância. Ela me lê com tanta facilidade que as vezes chega a ser assustador, superando até mesmo mamãe e Alissa. 

Mas não é como se eu não quisesse falar com ela sobre o que aconteceu em Lancaster, pelo contrário, seria ótimo ouvir seus conselhos. O problema é que estou exausta de todos falarem que tudo vai ficar bem, que o tempo cura todas as férias e toda aquela baboseira de superação, como se fosse simples.

Sei que é idiotice chorar por quem não merece uma maldita lágrima. Sei que estou fazendo papel de boba. Sei que eu não vou morrer por causa do que aconteceu e que o momento mais difícil passou. Sei que minhas feridas uma hora ou outra irão parar de sangrar. Mas, o que aconteceu com Ethan e tudo o que sinto por ele não vai sumir em um simples piscar de olhos, por mais que eu queira. Levei mais de um ano para deixar que ele entrasse por completo em meu coração e ele levou apenas minutos para me destruir, é justo que eu me sinta frustrada.

𝑁𝐴 𝑆𝑂𝑀𝐵𝑅𝐴 𝐷𝐸 𝑈𝑀𝐴 𝐸𝑆𝑇𝑅𝐸𝐿𝐴Onde histórias criam vida. Descubra agora