| Capítulo 13.2 |

1.6K 165 108
                                    

K A D E N
PRATT
...*...

A pele da minha mão rasga ao se chocar contra o espelho do banheiro, uma vez, três, seis. Um soco por cada coisa que perdi. Um soco pela merda do futebol. Um soco pelos últimos três meses. Preciso retomar o controle. Um soco pela mentira que tenho me obrigado a contar para Hillary. Um soco por todos que afastei. Um soco pelo o que Nicole fez. Controle. Um soco por Trevor. Um soco pela Penn State. Um soco pelo o caos que minha mãe se tornou. Um soco por Ryle e tudo o que morreu com ele. Um soco por aquela maldita noite. Um soco por...

Não.
Não.
Não.

Não posso perder o controle. Me forço a recuar, esbarrando na parede. Sinto o granito frio contra minhas costas, enquanto um líquido quente escorre por entre meus dedos.

Não posso perder o controle. Repito, tentando listar todos os motivos pela qual preciso continuar.

Não posso perder o controle, porque eu prometi que não perderia. Não posso perder o controle, porque alguém precisa de mim. Não posso perder o controle, porque ela não suportaria. Não posso... ao menos é isso o que tenho tentado me convencer todos os dias, desde que Ryle se foi. Mas, é difícil quando se é bombardeado quase que diariamente com um novo problema. É difícil ser o pai da sua própria mãe. É difícil quando se tem que mentir para sua irmã. É difícil quando todos a sua volta planejam o futuro, enquanto tudo o que você quer é voltar para o passado. É difícil manter a porra do controle quando a vida parece querer te derrubar a cada segundo.

Merda.

Era Ryle quem deveria estar aqui, não eu. Ele sim saberia manter o controle. Ele sim saberia como lidar com toda essa merda. Ele saberia seguir enfrente. Ele saberia como fazer as coisas funcionarem. Ele cuidaria dela... meu Deus, Ryle provavelmente me socaria se soubesse que falhei com ela, não só uma, mas muitas vezes. Me socaria por não evitar que se afundasse no álcool. Me socaria por quase a ter deixado entrar em um coma alcoólico. Me socaria por deixá-la sozinha, mesmo que para ir à escola. Me socaria por a ter deixado se machucar hoje. Mas, sabe qual o pior de tudo ? Que eu aceitaria cada maldito soco com o maior prazer, porque talvez assim eu deixaria de me culpar por ter falhado tantas vezes.

... * ...

Acho que estou aqui a, mais ou menos, cinco minutos, apenas encarando a madeira branca da porta de entrada, tentando encontrar palavras para me desculpar com Isa. Já era, aproximadamente, duas da tarde quando finalmente consegui fechar a oficina, mas não vim de imediato. Eu não podia. Precisava descarregar toda aquela raiva que se acumulou em meu peito nas últimas quatro horas, enquanto finalizava meu expediente. Saber que falhei mais uma vez com minha mãe, junto à exaustão da semana agitada, foi como um gatilho para tudo o que reprimi nos últimos três meses.

Encaro o relógio em meu pulso, marcando exatamente três horas da tarde. Merda. Será que ela ainda está aqui ? Não, acho que não. Mas, ela disse que ficaria até que eu pudesse voltar, então talvez ainda esteja. O que vou dizer ? Obrigado por ter cuidado dessa mulher que um dia foi minha mãe ? Desculpa por ter te colocado nessa situação ? Obrigado, se não fosse você eu provavelmente teria de fechar a oficina mais cedo e ter um grande problema com meu chefe ? Desculpa por ter tomado tanto do seu tempo ?

Acho que só estou receoso de encara-lá por conta do que viu, uma parte vulnerável da minha vida. Uma parte que tenho tentado esconder de todos, não porque tenho vergonha da minha mãe, mas porque o olhar de pena deles já irritam o suficiente, não preciso de mais.  Sem contar, que Isa parece ser boa demais para deixar alguém na mão. Vi em seus olhos o quanto estava determinada a ajudar e que não importava o que dissesse, ela insistiria. O que é um grande problema para quem precisa mantê-la longe.

𝑁𝐴 𝑆𝑂𝑀𝐵𝑅𝐴 𝐷𝐸 𝑈𝑀𝐴 𝐸𝑆𝑇𝑅𝐸𝐿𝐴Onde histórias criam vida. Descubra agora