|Capítulo 23. 2|

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K A D E N
PRATT

...*...

Achei que conseguiria. Quando o diretor me procurou, cinco dias após a morte de Ryle, e mencionou uma homenagem no dia que a escola sediaria um dos jogos da competição estadual, eu aceitei. Aceitei porque achei que três meses seriam suficientes para superar. Aceitei porque achei que já estaria pronto para encarar tudo isso. Aceitei porque Ryle merecia algo assim. No entanto, não imaginei que aquilo mexeria tanto comigo.

Ver aquelas fotos foi como entrar em uma máquina do tempo que me levou direto para onde eu nunca deveria ter saído, o passado. Sei que muitos podem dizer que essa é uma forma errada de pensar, mas que se foda. Eu realmente não quero e nem consigo sair do passado. Os dias passam, as noites chegam e eu continuo desejando voltar para aquele tempo.

Tempo onde Ryle ainda estava aqui. Tempo que minha mãe ainda era minha mãe. Tempo que eu não precisava me abarrotar de deveres para ocupar a mente. Tempo que eu ainda tinha sonhos. Tempo que meu coração ainda batia.

Ver aquelas fotos também me fez lembrar porque tenho evitado tudo o que envolve Ryle. Me fez lembrar porque apaguei todos os seus vestígios da casa de nossa mãe. Me fez lembrar porque evito deixá-lo invadir meus pensamentos. Me fez lembrar dos motivos que me impedem de falar sobre ele.

É sufocante ver nossas memórias e saber que elas nunca irão se repetir. É uma sensação horrível, que me faz querer arrancar meu coração do peito.

Levo o cigarro até os lábios e dou uma tragada, deixando que a nicotina me preencha. Fumar não é um hábito meu, muito menos um vício. Sinceramente, nem sei porque estou fazendo isso agora. Encontrei os cigarros de Ryle algumas noites após o acidente e desde então tenho os mantido no bolso. O motivo ? Não faço ideia.

— foi aqui que uma amiga foi requisitada ? – a voz serena e brincalhona de Isa ressoa, alto o suficiente para me trazer de volta a realidade.

— não. – respondo, mais rude do que planejava. Sei que não deveria falar assim com ela, mas talvez isso a afaste, assim como todos os outros. Isa é uma garota incrível e isso já é motivo suficiente para mantê-la longe, principalmente depois daquela noite.

— só não vou te acertar com um soco agora porque entendo o mal humor. – fala, sentando ao meu lado e trazendo consigo o cheiro agradável de seu perfume. – não precisamos conversar, posso só ficar aqui.

— tanto faz. – murmuro, dando outra tragada no cigarro.

Consigo ver, pela minha visão periférica, o momento que Isa me lança uma olhadela, parecendo chateada com meu desprezo. Uma parte minha quer pedir desculpas por falar assim com ela, mas a outra me lembra que isso é o necessário para afastá-la. Isa se mostrou ser uma garota insistente e que não cede fácil, principalmente quando se trata de ajudar outras pessoas. No entanto, sei que tudo tem limite, inclusive sua compaixão. Sei que um momento ela vai cansar de tentar, assim como todos os outros.

Se minha mãe ouvisse isso, provavelmente me diria aquela famosa frase de Maquiavel e que eu não deveria decepcionar Isa apenas para fazê-la se afastar. Ela também diria que eu deveria encontrar outra forma de manter distância, de preferência uma que não envolvesse uma Isa chateada. No entanto, eu não consigo.

Já tentei várias vezes afastá-la, mas quando noto, já estou rindo das suas idiotices. Tento falar apenas o necessário, mas ela, de alguma forma, consegue me arrancar palavras. Me afastar é tudo o que tenho tentado fazer, no entanto, manter distância de Isa é algo que tem se tornado cada vez mais difícil. É como se algo sempre estivesse nos juntando.

𝑁𝐴 𝑆𝑂𝑀𝐵𝑅𝐴 𝐷𝐸 𝑈𝑀𝐴 𝐸𝑆𝑇𝑅𝐸𝐿𝐴Onde histórias criam vida. Descubra agora