| P r ó l o g o |

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ISABELA
BRADENTON

...*...

Quando criança, costumava ouvir vovó Mary dizer que o amor é o sentimento mais puro e ingênuo, que surge do acaso e se aflora com os detalhes. Ela também dizia que não podemos prevê-lo, muito menos evitá-lo, e que quando nos damos conta borboletas já estão preenchendo nosso estômago e uma corrente elétrica nos acendendo por completo.

Sinceramente, isso não faz o menor sentido.

Não depois de ver meu coração sendo quebrado e descartado por aquele que dizia me amar. Não depois de me encontrar em pedaços incontáveis e as palavras que antes eram vista por mim como sabias, passarem a ser inúteis.

Durante doze meses sonhei e planejei uma vida com Ethan, o incluindo em cada mísero segundo da minha jornada, mas acabei esquecendo de perguntar se era recíproco e se em algum momento ele também me incluiu na sua vida dos sonhos. Durante doze meses vivi uma mentira, sendo enganada dia após dia com palavras vazias e abraços frios.

Entreguei meu coração para alguém que só queria meu corpo. Enganada e usada, é assim que me sinto.

— Isabela! – o som grave e levemente embriagado se choca contra o embaralhado de pensamentos que atormentam minha mente. – tem como você parar de caminhar só por um segundo ? Que droga, tá difícil acompanhar.

Traída. Me sinto completamente traída e violada, meu coração foi invadido e dilacerado de dentro para fora por alguém que demorei muito para deixar entrar.

O carro, que está estacionado a alguns metros, fica turvo, embaçado pelas lágrimas que inundam meus olhos. Já caminhei por essa passarela inúmeras vezes, mas em nenhuma ela pareceu tão extensa como hoje. Um gosto amargo toma minha língua a medida em que a imagem, de minutos atrás, ganha forma em minha mente.

O sorriso que estava estampado no rosto malicioso de Ethan e a mão que deslizava descaradamente pelas coxas daquela garota, Emma, uma das minhas melhores amigas... eu vi. Vi o momento em que ele segurou seu quadril e a colou em seu corpo, eles estavam totalmente entregues ao momento. Mas, foi o olhar deles que me fez desestabilizar, a tranquilidade que transmitiam.

Nada de culpa, nada de remorço, nem uma preocupação... não foi a bebida que os fez esquecer do coração que estava em jogo, mas o mal caráter dos dois. Nenhum deles pareceu disposto a hesitar, eles provavelmente teriam ido até o fim caso o meu soluço não tivesse interrompido a ceninha... ou já não foram ?

— tem como você me ouvir, porra ? – as palavras acariciam meu ouvido, me fazendo parar sobre os calcanhares. Me viro bruscamente para encara-lo

— você me chamou de que ? – murmuro, sentindo o vento frio chicotear em meu rosto, trazendo consigo o cheiro familiar da colônia masculina que tanto amei em algum momento, porque tudo o que sinto agora é ânsia.

Ethan para a alguns metros. Seus cabelos desgrenhados e a camisa amarrotada, um lembrete do que ele estava preste a fazer, caso eu não tivesse interrompido.

— o que você veio fazer aqui ?

Isso é sério ?

— o que vim fazer aqui ? – um riso sem humor me escapa. – é com isso que está preocupado ?

— quero saber que porra você faz aqui depois que falei que estaria fora. Anda me vigiando ? – retruca, como se isso fosse o maior problema. Seus olhos estão tomados por uma nuvem de fúria, bem diferente da calmaria que eu achei que encararia sempre que acordasse por todo o resto da minha vida.

𝑁𝐴 𝑆𝑂𝑀𝐵𝑅𝐴 𝐷𝐸 𝑈𝑀𝐴 𝐸𝑆𝑇𝑅𝐸𝐿𝐴Onde histórias criam vida. Descubra agora