| Capitulo 32.3 |

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ISABELA
BRADENTON

...*...

A bipolaridade do silêncio é uma das coisas mais belas e expressivas que existem. Uma verdadeira faca de dois gumes, podendo te sufocar como um naufrágio em alto-mar e te acolher como uma manhã ensolarada pós-tempestade.

Assustador e tranquilizador, na mesma proporção.

O silêncio do luto? Aterrorizante. O silêncio após uma crise de risos? Aconchegante. O silêncio que precede um sermão? Angustiante. O silêncio da intimidade? Reconfortante. O silêncio de um desconhecido ? Desconcertante.

Algo tão quieto e sutil, mas que ainda sim consegue soar mais alto que qualquer barulho, gritando aquilo que palavras não são capazes de dizer.

O silêncio é definitivamente lindo, porém, são poucos aqueles que conseguem o compreender e apreciar sua beleza. Eu, por exemplo, levei muito tempo para entender o motivo pela qual o silêncio de algumas pessoas me deixava tão desconfortável e insegura, como se palavras tivessem que ser ditas para preencher algum tipo de lacuna que parecia existir.

Com Ethan era assim.

Lembro que em algum momento do nosso relacionamento cheguei a questionar os motivos pela qual era tão difícil apenas curtir a companhia do meu namorado, sem que nada precisasse ser dito ou feito por qualquer um dos dois.

Hoje sei que encontrar aconchego na quietude de alguém não é fácil e que vai muito além do que imaginamos. Não basta apenas conviver e gostar, é sobre as conversas inacabáveis, a confiança, a leveza da presença e os risos fáceis. É uma intimidade que vai se revelando na imensidão dos pequenos detalhes.

É algo natural e inesperado, acontecendo com as pessoas mais improváveis.

Afinal de contas, quem diria que um dia eu encontraria conforto no silêncio de alguém como Kaden? Um rabugento pessimista de humor instável que precisa urgentemente de terapia, mas que ainda sim consegue me passar conforto em um momento onde tudo o que escutamos é o som acolhedor da chuva que tem lavado as ruas de Winterford e obrigado ele a permanecer aqui.

Tudo bem que se levarmos em consideração que estamos falando de Kaden, talvez eu só tenha me familiarizado com a quietude que o envolve, pois desde que o conheci o silêncio tem andado lado a lado com ele. Sem contar que, até pouco tempo atrás, esses eram os momentos mais agradáveis, quando não estava falando algo que me dava vontade de espeta-lo com o tridente do diabo.

Na verdade eu ainda tenho vontade de fazer isso, a diferença é que agora é menos frequente.

De qualquer forma, estou feliz que esteja aqui, mesmo em silêncio. Mesmo quando tudo o que tem feito, a mais de meia hora, é me olhar da poltrona onde está sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos e o tronco levemente reclinado para a frente.

Kaden sentou ali para atender uma ligação pouco tempo depois que guardou o nebulizador.

Ele o tinha preparado cuidadosamente logo que notou meu nariz voltando a congestionar, afirmando que era melhor eu descansar o quanto antes. Tentei argumentar que não estava com sono, mas Kaden nem sequer fingiu ouvir e tudo o que me restou foi obedecer, enquanto ele se livrava do chá horrendo da mamãe.

Agora está ali, como se não tivesse nada mais importante para fazer além de me olhar, atento a cada movimento que faço e alerta a cada sinal. Sei disso mesmo que não esteja vendo seu rosto com clareza, devido o quarto consideravelmente escuro e da única fonte de luz que temos seja a que vem da varanda, iluminando apenas parcialmente o ambiente.

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⏰ Última atualização: Jul 13 ⏰

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