| Capítulo 25 |

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ISABELA
BRADENTON

...*...

Estou orgulhosa de mim mesma. Sei que isso pode soar um tanto quanto egocêntrico, mas é a verdade. Já faz três meses que minha mente tem conseguido me aprisionar no horror daquela noite, mas aos poucos sinto que estou rompendo essas barreiras. Aos poucos sinto que estou expulsando Ethan da minha cabeça e o deixando no lugar na qual ele nunca deveria ter saído, o passado.

Primeiro fiquei sozinha por duas horas seguidas, sem qualquer ataque de pânico. Depois, enfrentei o medo de sair só, indo até o supermercado sem a companhia dos meus pais. Mudei de cidade e passei dias sem pensar no que Ethan havia feito. Contei, pela primeira vez, o que aconteceu sem chorar, mesmo que resumidamente e pulando muitos detalhes. Então, por fim, fiquei com um cara sem que toda aquela angústia me inundasse... sinceramente, que se foda o egocentrismo, tenho todo o direito de me sentir orgulhosa disso.

Isso me faz lembrar da minha terapeuta... suas palavras não fizeram muito sentido quando ditas. Na verdade, elas soavam como um absurdo. O motivo ? Eu estava mentalmente exausta e desacreditada demais para sequer imaginar que aquilo poderia ser real. Que eu deixaria de ter medo... mas agora, tudo faz sentido. É como se eu ainda pudesse ouvi-la.

Isa, entendo que seja angustiante olhar pela janela e ver o seu agressor voltar a viver, enquanto você mesma não consegue fazer isso. Entendo que você tenha pressa para voltar a ser uma adolescente normal, mas arranjar encontros no tinder não vai fazer isso acontecer mais rápido. Certas feridas levam mais tempo para cicatrizar que outras, então não se desespere. Um dia você vai olhar para trás e sentir orgulho, não do que você passou, pois isso ninguém no mundo merece experimentar, mas orgulho de ter superado. Sentirá orgulho por ter sido forte o suficiente para enfrentar o pior inimigo que o ser humano poderia ter, sua própria mente.

Mas, por agora, não se cobre tanto. Não seja tão má consigo mesma. Você não é fraca e muito menos culpada pelo que aconteceu, afinal de contas, ninguém vem com um trailer. Você não sabia quem ele era e não escolheu passar por tudo aquilo, então quando sua mente tentar te convencer disso, lembre-se que o culpado tem um nome diferente do seu, e é Ethan...

Ela estava certa... todo esse tempo, ela estava certa. Ainda lembro nitidamente do que a levou a me dizer todas essas palavras e quebrar seu padrão de consulta, que geralmente se resumia a me ouvir vomitar todas as minhas frustrações e medos, sentada em uma poltrona a quase três metros de distância.

Eu havia chegado aos prantos e com a certeza de que nunca mais seria a mesma. Me xinguei por vários minutos, brava por achar que não fui esperta o suficiente para notar quem Ethan era. Na noite anterior eu tive a certeza que não conseguia mais ficar com nenhum cara, após cinco encontros frustados, o que acabou me fazendo acreditar que Ethan havia destruído mais algo em mim.

Então, ela ouviu cada palavra que vociferei por seu consultório e me assistiu cair de joelhos, exausta de tentar me reerguer e, a cada tentativa, descobrir algo novo que Ethan havia quebrado. E, depois de tudo, quando a única coisa que eu fazia era soluçar com o rosto enterrado nas mãos, ela sentou ao meu lado e me abraçou, para logo depois despejar sobre mim todas aquelas verdades.

Ela sabia que eu não estava frustrada porque não conseguia me relacionar. Não, Débora sabia que ia muito além daquilo. Ela sabia que eu só estava daquela forma porque todas as minhas tentativas de recomeçar estavam dando errado. Ela entendia que aquela foi só mais uma tentativa desesperada de esquecer o que aconteceu. Assim como as duas semanas de aulas que perdi, por achar que não ver ele era a solução. Ou talvez como a garrafa de Bourbon que roubei da coleção do meu pai e sequei, em apenas uma noite. Foram tentativas idiotas ? Foram, mas eu só não sabia mais o que fazer para arrancar da minha cabeça aquelas duas noites, que atormentavam cada segundo do meu dia.

𝑁𝐴 𝑆𝑂𝑀𝐵𝑅𝐴 𝐷𝐸 𝑈𝑀𝐴 𝐸𝑆𝑇𝑅𝐸𝐿𝐴Onde histórias criam vida. Descubra agora