UMA NOVA CHANCE (Original)

CAPÍTULO 4 - FUGINDO DAS DORES

Caroline

Julho de 2039

Arrasto o corpo até a água que cai do chuveiro e solto um suspiro, enquanto sinto a minha pele arrepiar de frio. Minha cabeça dói, meus olhos estão pesados, os neurônios não funcionam e cada músculo em mim lateja. Depois da longa conversa com Lívia, muita coisa ficou martelando nos meus pensamentos e toda aquela angústia, causada pela ausência de Lucas, voltou. Não me lembro por quanto tempo chorei sozinha no quarto, só recordo de ver os primeiros raios de sol do domingo tentarem penetrar a cortina da janela.

Antes do banho, eu tinha ficado um bom tempo na cama, apenas pensando na última coisa que ouvi antes de me recolher; eu precisava saber mais e iria até o fim. Resolvi levantar da cama quando percebi movimentos nos corredores da casa. Saio do banheiro e começo a vestir uma roupa, quando escuto um diálogo interessante, vindo do corredor.

- Mamãe, finalmente você saiu desse escritório, esqueceu do nosso passeio? – Dani pergunta e pela proximidade da voz, o pequeno deve estar em frente a porta do meu quarto.

- Como eu poderia esquecer? Afinal, hoje você vai se tornar o Zayron! – Prendo o riso com a resposta de Lívia, ela ainda precisa pesquisar bastante sobre personagens fictícios da atualidade.

- O que é Zayron? – Daniel pergunta no momento em que termino de me trocar e estou caminhando até a porta.

- Não é o que e sim quem; Zayron é... – Ela para de falar quando abro a porta e me deparo com os dois.

- Zayron é querer demais, não acha? – Pergunto, com um sorriso divertido no rosto. Lívia faz uma careta e tenta pensar em outro personagem; até finalmente decidir usar a cabeça.

- Por que você não escolhe quem vai ser hoje e depois me fala? – Ela completa e Dani começa a pensar.

- Tudo bem, eu vou no meu quarto, procurar ideias. – Ele fala, enquanto corre até o final do corredor.

- Dormiu bem? – A Duquesa me pergunta, cordialmente; mas mantém um sorriso safado no rosto.

- Não muito e parece que não fui a única, você está um caco também! – Retruco e ela morde o lábio inferior na intenção de prender o riso.

Ela concorda com a cabeça, enquanto me acompanha até a sala de jantar. A mesa farta me causava muita nostalgia, era assim que a minha mãe gostava. Ela sempre dizia: pode faltar outras coisas, porém, se eu tiver a mesa cheia de comida, estarei feliz. Em São Paulo, não tínhamos esse costume e agora, morando sozinha, eu não queria cozinhar apenas para mim, contudo, sentia muita falta da culinária gostosa do Nordeste. Sento em frente a Lívia e logo em seguida Daniel se joga ao lado dela. Comemos em silêncio e eu apenas observava o pequeno se deliciar com um prato de cuscuz como se fosse a melhor das iguarias. Vira e mexe, percebia a Duquesa me olhando, entretanto, a mulher logo desviava o olhar até o seu prato e continuava comendo um inhame com queijo branco, quase o mesmo que eu, porém, deixei o queijo coalho de lado e preferi ovos mexidos com a minha rodela.

- Mamãe, eu posso ir na frente? – Dani quebra o silêncio da mesa.

- Me espere no lago. – Lívia fala e Daniel sai correndo na direção do quarto dele, com a intenção de trocar de roupa.

- Um lago nesta fazenda? O que você fez, puxou um canal do São Francisco até aqui? – Pergunto, com a sobrancelha arqueada.

- Artificial... – A resposta sai quase como um sussurro e eu solto uma risada.

- Leite com pera... – Respondo com o mesmo sussurro e ela bufa.

- Eu não o mimo tanto assim, o lago já estava aqui antes dele chegar, você vem com a gente ou não? – Ela tenta se defender.