Caroline
Julho de 2039
Lívia já estava contando a sua história de vida há um tempo e eu não sabia qual revelação tinha me deixado mais chocada. O ápice deve ter sido quando descobri o grau de parentesco entre ela e a mulher que eu quero ver morta; isso explica muita coisa sobre a rivalidade das duas, mas também me deixa em uma sinuca de bico. Qual a probabilidade de a Duquesa, sentada ao meu lado, querer me matar se descobrir sobre os meus planos de vingança? Nós já tínhamos esvaziado a garrafa de vinho e eu estava levemente alterada; afinal o nervosismo me levou a virar uma ou duas taças. Lívia se levanta e olha para mim por um instante.
- Está cansada? – Ela pergunta. Já tínhamos entrado no domingo, porém, eu precisava tirar todas as dúvidas que estavam na minha cabeça.
- Não, ainda tenho algumas perguntas para fazer. – Respondo rapidamente.
- Ótimo porque eu também estou cheia de questões sobre a senhorita. – Ela me olha com a sobrancelha arqueada e eu percebo que estava na minha vez de jogar o jogo da verdade. – Vou dar uma rápida olhada em Dani e já volto.
- Tudo bem. – Concordo enquanto a mulher me deixa sozinha.
Sinto uma gota atingir a minha testa e dou um pulinho de susto; olho para cima e a chuva resolveu aparecer. Levanto rapidamente, pego as taças, a garrafa vazia, os celulares; e me direciono com destino ao interior da casa. Deixo tudo na cozinha e estou caminhando até a sala de estar quando esbarro em Lívia, derrubando os dois telefones; só não vou de encontro ao chão porque, em um movimento de reflexo, ela me segura pela cintura.
- Me desculpe, não vi você chegando. – Sussurro, de maneira desconcertada, sentindo as suas mãos manterem os nossos corpos colados e a sua boca próxima demais da minha. Ela passa a língua entre os lábios e isso me hipnotiza; deixo o olhar fixo em sua boca e percebo que estamos a pouco de fazer uma besteira. - Você já pode me soltar. – Falo ainda olhando para os seus lábios.
- Tem certeza? – Ela me questiona, e dessa vez eu encaro os seus olhos.
- Sim, sua vaqueira galante, me solte! - Insisto, com um sorriso no rosto.
Ela mostra um sorriso cafajeste, entretanto, tira as mãos de mim, indo em direção a cozinha e voltando um tempo depois com uma jarra de água e dois copos.
- Venha, vamos aproveitar essa chuva lá na varanda. – Lívia me chama indo para o outro lado da casa.
Sento em uma das poltronas no momento em que meu celular sinaliza uma mensagem. Olho a tela e vejo Aisha lembrando da minha existência mais uma vez.
Aisha:
Caroline, querida. Não sei se estou gostando da sua postura enquanto curte o clima da fazenda. O combinado foram três relatórios diários e você atenderia todas as minhas ligações.
Essa conta é financeiramente importante e o jurista responsável recebe uma ótima comissão, mas devo lembrá-la de que eu decido quais clientes passo para cada advogado meu. Me retorne pela manhã, sem falta.
- Chefe pegajosa? – Lívia pergunta.
- Sim, ela não gostou de você ter atendido ao meu telefone e resolveu me colocar no lugar de subordinada. – Respondo, enquanto ainda olho para a mensagem.
- Me deixe ler. – Entrego o celular a ela; a mulher lê e franze o cenho no meio do processo. – Olha só, uma verdadeira abusada. Caroline, sou eu quem decide quais advogados serão responsáveis por um cliente e também é de minha autoridade definir o quadro de funcionários, porém, isso você já sabe. Aisha está descendo do salto, finalmente; e que negócio é esse de três relatórios diários? O que ela quer saber? Quantos centímetros as minhas plantações crescem ao dia?
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UMA NOVA CHANCE (Original)
AcciónCaroline saiu de Pernambuco, em busca de uma vida melhor na capital paulista, no entanto, depois de perder o amor de sua vida, em um acerto de contas, a mulher decidiu retornar ao Nordeste, à procura de vingança. Após se instalar na cidade de Caruar...