CAPÍTULO 6 - BRINCADEIRA DE CRIANÇA

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Caroline

Julho de 2039

Estamos em uma terça-feira com cara de domingo porque aparentemente, ninguém pretende trabalhar hoje; entro na cozinha, fazendo o meu trajeto até a piscina. Resolvi parar de evitar os olhares de Lívia e ser mais adulta; afinal, depois de ontem, está claro que por mais que eu lute, o meu corpo não tem o interesse de resistir. Estou usando um short curto e colado, com a parte de cima do biquíni, exibindo o abdome chapado. Paro no lugar, ao encontrar Glória conversando com Dani, enquanto ele come uma tigela de uvas.

- Não entrou na piscina ainda? – Pergunto, alisando os cabelos secos dele.

- Não, estávamos brincando de algo que eu não consigo lembrar o nome. – Ele fala, fazendo uma expressão de quem estava forçando a mente, na intenção de lembrar. – Mamãe me ensinou várias brincadeiras hoje e eu comecei a confundir. Você joga a bola para cima e chama o nome de alguém; essa pessoa corre e pega a bola; depois dá alguns saltos e tenta acertar os outros. – O menino explica, da forma como consegue lembrar.

- Sete pecados. – Respondo, assim que ele termina.

- Isso! Vovó Glória, é esse o nome. – O rapazinho exclama, levantando os bracinhos. – Obrigado, Caroline.

- Por nada. E agora, qual é a brincadeira? – Questiono, interessada.

- Não sei, mas eles estão todos abaixados ali, olhe. – O pequeno aponta na direção da parte externa da casa e eu vou até a porta para constatar que eles estão brincando de... cuscuz? Ponho as mãos nos quadris, sorrindo da brincadeira nada saudável, quando Daniel passa por mim e corre, se juntando ao restante das crianças.

- Mamãe, como é essa? Me deixe participar também! – Ele exclama, todo empolgado.

- De jeito nenhum, nessa você não vai, Dani. – Interrompo imediatamente e todos me olham. Lívia deixa cair um graveto que estava segurando e analisa cada centímetro do meu corpo, chegando a descer o maxilar; Denise fecha a sua boca e faz um sinal de quem está limpando a baba; só assim, ela se recompõe.

- Por que eu não posso brincar? – O pingo de gente me pergunta.

- Vai por mim, campeão; você vai querer passar longe dessa brincadeira. – Respondo, apontando para o monte de areia formado no chão.

- Ele pode ser café com leite. – Johnny sugere e todos riem.

- O que é café com leite? – Daniel questiona a Johnny.

- É quando você pode brincar, entretanto, não precisa seguir todas as regras. Nesse caso, você terá regalias. – Carlos se antecipa na explicação.

- Mas assim eu não quero. – O menino conclui, cruzando os braços.

- Venha doçura, vamos assistir eles brincarem; eu te explico as regras e na próxima, se você ainda quiser, nós daremos um jeito. – Falo, esticando a mão; ele prontamente a segura e me acompanha.

- O nome dessa brincadeira é cuscuz. Está vendo aquele monte que Denise está moldando com as mãos? – Pergunto e ele confirma com a cabeça, sentando não ao meu lado, mas no meu colo. – Sua mãe vai colocar o graveto preso no monte e todos ficarão em volta dele. – Informo, no momento em que Lívia olha em nossa direção e percebe o filho nas minhas pernas. – Agora, está vendo aquela árvore lá embaixo, com uma camisa pendurada? – O garoto olha para onde estou apontando e novamente confirma. – Aquilo é chamado de mancha. Todos vão tirar pequenas porções do monte de areia até o graveto cair; quando isso acontecer, quem o derrubou, precisará alcançar a mancha com o objetivo de se salvar, entendeu?

UMA NOVA CHANCE (Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora