Denise
Agosto de 2039
Segunda-feira
Entre 11h45 e 12h
- Eu estou indo até aí, buscarei Glória e você fica com a responsabilidade de reposicionar a segurança dos homens restantes. – Me posiciono, tentando conter o nervosismo. – Lívia, mainha está sendo levada para Paulo Afonso.
- Após terminarmos em Belém de São Francisco iremos até lá, já temos a informação de que Clarice é uma moeda de troca e vamos nos garantir nisso. – Caroline se pronuncia e eu não escuto a voz da minha irmã, provavelmente Lívia está tão em choque quanto eu. Saio da casa com Carlos na minha cola e paro perto do carro para escutar o que ele tem a dizer, desligando o comunicador junto com ele, antes do diálogo.
- Isso está com cheiro de emboscada, como se estivessem tentando nos afastar uns dos outros e... – Tenta formular um raciocínio lógico.
- E nos pegar sozinhos e desprevenidos. – Completo e ele concorda. – Então estão conseguindo, porque eu não posso deixar Glória sozinha lá, no estado em que a fazenda se encontra; ela é idosa e precisa de cuidados. Johnny não conseguirá fazer muito; essa segunda-feira já durou uma semana e nem chegamos ao meio dia. – Resmungo.
- Só tome cuidado, preste atenção no caminho e não pare em nenhum momento, você pode encontrar algum comboio no trajeto e se isso acontecer, se esconda no acostamento. – Me orienta e eu o escuto atentamente. – Não temos certeza se têm homens por perto e é melhor prevenir quanto a isso.
- Tudo bem, cuide da segurança aqui e não deixe encostarem nos meninos. Se tiver alguém por perto, eu sei quem é; e se eu o encontrar no caminho, vou matá-lo. – Declaro e ele me encara confuso. – Dênis, se ele souber que Niara e Arlete estão aqui, virá rapidamente. O homem é completamente louco quando o assunto são as duas; ele acha que elas são propriedade dele. Então você garante a vida das crianças e eu as delas, entendeu?
- Entendi, pode deixar, eu vou avisar ao restante e daqui tomaremos conta. – Confirma e eu entro no carro, não sem antes perceber que Dani está me olhando de longe, de uma das janelas da casa; saio em disparada e olho a mansão novamente, percebendo Lucas em outra janela, também observando o movimento; esses meninos vão precisar de terapia, com certeza.
Ativo o meu comunicador e foco na minha missão. Saio voando do terreno e dirijo pela estrada de terra em velocidade moderada, olho os arredores na intenção de procurar por alguma equipe escondida, contudo, não consigo ver ninguém; no meu ouvido, o resto do pessoal fala pelo comunicador, no entanto, com a cabeça no limite de tantas preocupações, não presto atenção em nada; isso é um erro gravíssimo, já que algo importante pode ser dito.
Tome cuidado, por favor, e volte bem.
Uma mensagem aparece no painel e vejo que Niara está acompanhando os meus passos. A minha garota tem se virado em mil para sozinha dar conta da equipe toda; e nos mostrou o quanto é competente, mas depois disso tudo acabar, precisaremos de pelo menos mais um com ela, para casos extremos como este. Se a mulher precisar sair do posto, estaremos cegos e surdos até o seu retorno.
Entro na PE 365, depois de um tempo na estrada de terra, e acelero com tudo, levo o carro a mais de cento e vinte por hora e presto muita atenção no meu trajeto; na velocidade em que eu estou, não resistirei se sofrer algum acidente. Olho pelo GPS e não há ninguém no caminho seguinte, devo pegar a 232 e até parece que uma das estradas mais importantes do estado está interditada, quase não passo por outros veículos por aqui e lá está ainda mais tranquilo. Isso começa a me preocupar, é uma emboscada e eu estou indo direto na direção dela. Tento pensar em alguma estratégia, preciso pegar Glória e não consigo formular nada mais eficiente para mudar o que estou fazendo agora.
São duas horas de trajeto, em uma velocidade aceitável, porém, como eu estou pilotando um carro e tentando alcançar a velocidade de um helicóptero, chegarei muito mais rápido que isso. Só preciso pegar a nossa vovó Glória e levá-la em segurança até a fazenda de Triunfo, a maior parte da nossa equipe está lá e se precisarmos fugir, as pessoas mais importantes estarão conosco e não com subordinados; já me basta a minha segunda mainha ter desaparecido, não posso perder outra, não desta vez. Com certeza Lívia e Caroline seguirão para Paulo Afonso, quando terminarem em Belém de São Francisco, e a única coisa que as impede de dar continuidade com esse objetivo, são os seus filhos, Lucas e Daniel; então nós precisamos garantir daqui que elas não sejam obrigadas a voltar até a fazenda. Estou quase chegando em Serra Talhada e lá precisarei diminuir consideravelmente a velocidade, afinal, é uma área urbana; observo o painel do carro e outra mensagem aparece para mim.
Eu aceito.
Mani responde ao pedido que a fiz na noite passada e eu abro um largo sorriso; visivelmente eu a deixei nervosa ao sair correndo, e ela deve estar acompanhando a minha velocidade. Calma, meu amor! Voltarei logo; penso enquanto continuo prestando atenção na estrada. Diminuo a velocidade ao entrar em Serra Talhada e aproveito para prestar atenção nos arredores, tem muita gente na rua e fica difícil saber quem é ou não suspeito, caralho. Continuo olhando até sair da zona urbana e logo volto a acelerar, não encontrei ninguém e vamos rezar para que realmente não tenhamos um ataque em Triunfo. Finalmente estou entrando na 232 e agora a brincadeira começa, vamos ver o quanto o motor desse carro aguenta; piso no acelerador e só diminuo a velocidade nas curvas mais fechadas, estou indo bem e até agora nada é suspeito.
– Gente, podem ter homens se deslocando para Triunfo. –Johnny avisa pelo comunicador e finalmente eu volto a prestar atenção nas conversas dos outros pontos. Olho pelo retrovisor e percebo um veículo em alta velocidade se aproximando de mim, como não o vi antes? Diminuo a velocidade e espero que me ultrapasse, entretanto, ele fica bem atrás de mim e me segue. De repente, o carro acelera e me dá um toque atrás, me jogando para frente e desviando a minha atenção da estrada.
- MERDA! – É tudo o que eu falo, ao subir o olhar e avistar um homem jogar um tapete de arame farpado no chão; freio o carro com tudo, na intenção de não capotar, mas é inútil, passo pelo tapete e estouro os pneus, sentindo o veículo derrapar imediatamente; seguro firme no volante, tentando evitar um giro, contudo, o carro tomba para o lado e capota em direção ao acostamento.
O meu corpo inteiro está dolorido e eu estou presa dentro do veículo, sinto um cheiro forte de combustível e escuto passos se aproximando de mim. O meu comunicador emite um chiado em meu ouvido e o local onde meu chip de localização fica, incomoda com uma dor latejante, provavelmente algo bateu bem ali o danificou ou provocou um corte, que ótimo, Niara vai achar que eu morri, no entanto, ainda não meu amor.
- Ela ainda está viva, devo atirar? – Um dos idiotas pergunta e eu fecho os olhos, enquanto tateio os lados à procura da minha arma. Não a encontro, entretanto, lembro da minha faca, presa na minha cintura; Lívia me viciou nessa faca e ela é muito discreta, levo a mão até o local onde o meu brinquedo deve estar e a encontro, deixo-a lá e levo a mão para outro ponto, com o objetivo de não chamar a atenção. – Ela está se mexendo, o infeliz indica, quando percebe o meu movimento, e aponta a arma na minha cabeça.
- Não, o chefe quer cuidar disso pessoalmente, fique com ela aqui e espere por ele. – Outro homem ordena e eu respiro fundo. Dênis, seu arrombado. – Tire-a do carro, vai explodir em pouco tempo. – É a última coisa que eu escuto antes de ser arrastada e apagar completamente.
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UMA NOVA CHANCE (Original)
AksiCaroline saiu de Pernambuco, em busca de uma vida melhor na capital paulista, no entanto, depois de perder o amor de sua vida, em um acerto de contas, a mulher decidiu retornar ao Nordeste, à procura de vingança. Após se instalar na cidade de Caruar...