CAPÍTULO 34 - SACRIFÍCIO

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Lívia

Agosto de 2039

Nós já estávamos no ar há cerca de trinta minutos e Lis levava a aeronave a todo vapor; as seguranças pessoais tinham a minha mãe como uma mainha para elas também, afinal de contas, entraram na equipe ainda muito jovens, e Dona Clarice sempre foi muito protetora com as duas. Vick e Lis moravam na residência principal e eram a sombra da minha mãe, chegaram na mesma época que Denise e nós só não éramos mais grudadas, porque eu e a minha irmã morávamos em Cabrobó.

Do alto, já era possível ver Paulo Afonso e não demoraríamos a chegar na fazenda principal de Thaís. A minha cabeça estava a mil. A minha mãe sequestrada, a minha irmã atacada, as crianças correndo riscos, Carol mais pálida do que eu, de tanto passar mal. Graças a Deus, aos poucos as coisas estavam se normalizando; Denise apareceu com Niara, provavelmente muito machucada, porém, ouvir a sua voz antes e durante o ataque de Triunfo, me dava a certeza do quanto a minha caçula era dura na queda; a fazenda de Salgueiro foi completamente destruída, no entanto, escutar Johnny afirmar que estava bem e que conseguiria cuidar de Glória, nos trouxe um alívio; Caio nem necessitava de precauções, o meu primo deveria estar jogando baralho com os seguranças de Recife; e Alícia esteve conosco o tempo inteiro. 

Há poucos instantes, descobrimos que Triunfo estava abatida, contudo, mantinha-se segura. Isso nos deu a garantia da segurança também de Arlete e Carlos, além das nossas duas joias preciosas. Eu já pretendia dar a Daniel um acompanhamento psicológico, até porque os pesadelos o torturavam demais, e agora, diante de tudo, acredito que Lucas entrará nesta cota. Henrique, o novato, também estava bem e pelo visto, os nossos filhos teriam um segurança particular, já que pelo comunicador pudemos perceber como eles possuíam afinidade, embora aquela segurança precisasse ser feita com arma de água, provavelmente; Caroline não estava muito feliz com o os conhecimentos do garoto. Para mim aquilo não era um absurdo, aquela sempre foi a minha realidade, mas para ela, era inexplicável e eu a entendia; ainda estava no processo de saber educar um jovem corretamente, Dani nunca esteve vinte e quatro horas por dia comigo.

Naquele momento, nós só tínhamos uma questão para resolver, a minha mãe precisava ser salva daquela última aventura e logo em seguida voltaria a Pernambuco, na intenção de curtir a sua aposentadoria. Depois das estratégias tomadas por nós, conversei com Denise e resolvemos que moraríamos juntas em Cabrobó, ou qualquer outra cidade; ela teria uma outra mansão e ficaríamos ainda mais ligadas. A ideia era construir outros chalés, parecidos com o de Carlos e Johnny, que abrigariam Arlete, Glória e quem sabe a nossa mãe, além de Lis e Vick; não era porque Dona Clarice estava saindo do ramo que dispensaria as suas acompanhantes. A fazenda em Cabrobó era a terceira maior de todas, perdendo apenas para os terrenos em Santa Cruz do Capibaribe e Taquaritinga do Norte, esses possuíam área quase igual e eram gigantescos. Facilmente conseguiríamos abrigar todos no mesmo lugar, se considerássemos um desses, sem precisar tirar a privacidade de ninguém; e aquilo diminuiria consideravelmente a quantidade de viagens.

Então eu estava mais certa do que nunca, queria mainha perto de mim e de Denise até o fim; já tive sustos suficientes e aquilo tudo ainda não tinha acabado. Sem falar que enquanto para todos no helicóptero, a única preocupação era ela, eu ainda precisava observar outra pessoa. Caroline insistiu em vim conosco, claramente não queria me deixar fazer uma escolha entre tirá-la da linha de frente e ir até Paulo Afonso, entretanto, as ânsias e os vômitos me deixaram em alerta, a minha garota passava muito mal e a agitação só estava piorando. Além da saúde, o humor dela passou a oscilar constantemente.

Primeiro foi sobre Henrique, após o garoto pedir uma arma para derrubar uma aeronave em Triunfo; a jurista não gostou nada daquilo e me lançou um olhar mortal, enquanto dizia que o menino não a respeitava. Eu achei graça daquele princípio de surto, ainda mais quando a mulher percebeu a cena e tentou disfarçar. Depois, os meninos foram abordados no meio de uma conversa com Arlete, sobre o questionamento de terem ou não armas de paintball; a doutora tinha fogo nos olhos, desaprovando o equipamento como brinquedo, e aquilo me fez soltar uma piadinha; eu esperava que ela levasse na esportiva, afinal, não era hora para aquele assunto, entretanto, fiquei sob ameaça de passar por uma greve de sexo, e a minha garota parecia falar bem sério; hormônios.

UMA NOVA CHANCE (Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora