18.

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LIZZIE

Meu pai não quis conversar comigo. Ele simplesmente chegou ontem à noite, disse que estava muito cansado, me deu um beijo na testa e foi dormir. Ele nem sequer quis jantar. Eu apenas desisti de ter a conversa e fui dormir. Agora, estou me arrumando para ir à faculdade, pela primeira vez na semana indo sem moletom. Os dias estão frios, mas hoje um pouco do sol resolveu aparecer e eu pude largar o moletom. Faça babyliss no cabelo e pego a minha bolsa. Quando estou saindo de casa, meu pai me para.

— Vou deixar você.

— Mas como eu vou para o ensaio?

— Eu te dou o dinheiro do táxi, vamos.

Ele termina de beber o café e deixa a xícara na mesa, indo para a garagem em seguida.

— E o Aaron?

— Ele vai depois no carro dele.

Aqui cada um tem o seu carro, mas Aaron sempre pega carona com o meu pai para ir trabalhar. Entro na Land Rover cheirosa e limpíssima do meu pai. Tenho até medo de encostar nesse carro, meu pai ama mais ele do que eu e Aaron juntos! Eu sempre quis dirigir mas ele nunca deixou, nem eu e nem Aaron. Aaron não passa muito longe, ele tem uma Mercedes! Meu pai deu pra ele quando ele completou dezoito, a carteira de habilitação também, assim como quis fazer comigo, mas eu não quis. Aceitei apenas a carteira porque não conseguiria pagar por tudo. O carro é muito bem cuidado, não tem um arranhão sequer, ao contrário do meu, mas eu o amo mesmo assim. Acho que ele quer tentar uma conversa comigo, mas por enquanto só está em silêncio. E acho que não seria tão apropriado assim ele falar de assunto tão sério enquanto está dirigindo.

— Você vai tomar café com o Dean, não é?

— Sim.

E o carro volta a ficar em total silêncio. Sempre fui muito aberta com o meu pai e sempre conversamos abertamente sobre qualquer coisa, nunca precisamos ficar em um clima tão estranho assim. A última vez que ele ficou estranho foi quando eu contei que perdi a virgindade com o Mike, mas isso nem se compara com o assunto que ele está tendo que lidar agora. Ainda estou chateada com ele, mas quero entender o que Aaron falou sobre eu não saber da história toda. Estou com medo de ter algo por trás de tudo que me faça mudar a dúvida de tentar ir atrás da minha mãe. Por um lado eu quero conhecê-la, saber os motivos por ela ter me deixado e querer vir atrás só agora e por outro, eu não quero sofrer caso eu consiga me aproximar e em seguida ela querer ir embora de novo. Também não quero magoar o meu pai. Mais do que qualquer coisa, eu não quero de forma alguma magoar a pessoa que me ama e que cuidou de mim e de Aaron sozinho. Quando eu era pequena e não entendia muita coisa, meu pai dizia que a nossa mãe precisou se mudar à trabalho e escrevia algumas cartas pra mim e pra Aaron, que acreditávamos que era ela que tinha escrito. Ele nos ajudava a escrever uma pra ela e depois de alguns dias, a carta dela chegava pra gente. Eu ficava feliz e radiante, achando que ela realmente iria voltar um dia, mas depois que Aaron viu ele escrevendo a carta e pôde entender o que estava acontecendo e me contou, eu finalmente caí na real e o meu pai, chorando, teve que explicar a situação de que ela havia ido embora e nos deixado. Hoje em dia tenho certeza que Aaron sabe mais coisas do que eu sobre o assunto, mas ele não quer me contar nada.

— Filha, eu sei que você está magoada por eu não ter contado sobre a sua mãe, mas é uma história meio complicada que eu não queria ter que te falar, mas vou precisar pra você entender o meu ponto de vista e entender que é melhor manter a distância dessa mulher.

— Pai, você não acha melhor conversar sobre isso quando não estiver dirigindo?

— Não, eu estou bem. Ontem eu passei a noite acordado pensando no que deveria falar pra você. — ele respira fundo e dobra no fim da rua da cafeteria que eu costumo ir com o Dean. O trânsito está parado, o que ajuda na nossa conversa. — Quando a sua mãe descobriu que estava grávida de você, ela quis abortar.

Meu coração acelera e começo a apertar os dedos no banco de couro do carro, nervosa, despreparada para o que eu irei ouvir.

— Eu não deixei, é claro. Eu abominei a ideia. Eu sei que o corpo é dela, mas você é a minha filha e eu não queria deixar isso acontecer, até porque eu também queria muito uma menina. Nós brigávamos muito por isso e eu prometi que cuidaria de você caso ela não quisesse, e assim foi feito. Aaron era pequeno, mas percebia as brigas e chorava a noite toda. Um dia eu acordei de madrugada e não vi ela na cama, e quando fui atrás, ela estava batendo no Aaron e mandando ele não dar um pio sequer para não me acordar, se não apanharia mais.

— Meu Deus...

— Eu explodi com ela e queria que ela fosse embora, mas eu não podia deixar ela ir por sua causa. Quando você nasceu, ela não quis nem sequer olhar pra você. Eu não entendo a raiva dela por você e pelo o mundo, eu acho que nunca irei entender e nunca irei me perdoar por ter me relacionado com uma mulher tão cruel. Eu dei uma quantia em dinheiro para ela ir embora e deixar vocês dois comigo. Ela queria levar Aaron, não queria ficar sozinha, mas eu não deixei. Disse que iria para a justiça caso ela tentasse levar o meu filho e que não daria dinheiro algum à ela, e ela desistiu da ideia e decidiu ir embora com o dinheiro que eu dei. — ele faz uma pausa e respira fundo de novo. — Eu sinto muito, filha. Você merece todo o amor do mundo e eu faço o que tiver que ser feito para ver você feliz. Não foi fácil cuidar de uma bebê tão pequena, mas eu amo demais você e não ia deixar você nas mãos de uma mulher daquela. Nem você e nem Aaron.

Ele para o carro em frente à cafeteria e continua sem olhar pra mim. Tento segurar um soluço, não quero chorar na frente do meu pai e o deixar mais mal ainda. A rejeição dói, e está mais do que claro que ela foi embora por minha causa. Porra, ela queria me tirar. Ela sequer quis olhar pra mim quando eu nasci. Se eu estou aqui e viva, é tudo graças ao homem que está ao meu lado, agora com a cabeça encostada no vidro. O clima está pesado, e nem eu e nem ele temos coragem de olhar um pro outro.

— Eu peço por favor, pra você não ir atrás dela. Quando eu atendi ao número desconhecido que ela ligou, nem acreditei quando ouvi a voz dela depois de tanto tempo e que ela estava atrás de se aproximar de vocês dois, mas principalmente de você. E eu não quero isso, e eu também não quero que você queira.

Ele olha pra mim, e eu continuo olhando para a frente e observando a movimentação dos alunos indo para a faculdade que se encontra a poucos metros da cafeteira.

— Eu não vou atrás dela. — falo baixo, tão baixo que tenho dúvida de que ele tenha escutado. — preciso ir.

Tomo coragem e olho para o meu pai, que afirma com a cabeça e me dá o dinheiro do táxi antes de eu sair do carro e sentir o vento frio no rosto. Encontro Dean na nossa mesma mesa de sempre, dessa vez junto com Logan e Hero. Ele abre um sorriso alegre, mas fica com o semblante preocupado de imediato quando repara no meu rosto. Ele se levanta da mesa e se aproxima de mim.

— Ei, o que aconteceu?

Não digo nada, apenas o abraço e deixo as lágrimas que estavam presas saírem, sem me importar com quem está olhando.







Não digo nada, apenas o abraço e deixo as lágrimas que estavam presas saírem, sem me importar com quem está olhando

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