36.

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LIZZIE

Sinto vontade de correr. Quero correr daqui o mais rápido possível e esquecer que um dia eu vi essa mulher que queria me abortar. Continuo agarrando o braço do Colen porque sinto que se por um momento eu soltar, vou perder todo o meu apoio e cair no chão. A mulher que me abandonou está bem aqui, na minha frente, e eu não consigo fazer nada a não ser ficar paralisada onde estou. Eu quis procurar ela, mas depois da história que o meu pai me contou, tudo o que eu menos queria era me esbarrar com ela, mas é claro que as coisas não acontecem como eu quero. Ela não mudou muito desde as fotos que vi dela com o meu pai e também com Aaron. Ela tenta se aproximar de mim, mas quando me ver recuando os passos para trás, ela para.

— Você está com medo de mim?

A mágoa está transparecendo através dos seus olhos azuis, iguais aos meus. Olhar para ela é como se eu estivesse olhando para uma versão de mim mais velha, porque os traços dela são iguais aos meus. Continuo calada, ainda em conseguir falar nada. Olho para Dean, e tenho certeza que os meus olhos imploram para que ele me tire dessa situação, porque ele toma atitude e agarra a minha mão, tirando a mão do Colen.

— Acho melhor eu ir. — Colen diz, baixinho, e sai da lanchonete. Eu também queria sair, queria fazer qualquer coisa que me tire daqui.

— É o seu namorado?

E é quando ela faz essa pergunta que percebo que essa mulher não sabe nada da minha vida. É claro que ela não sabe, ela nunca quis saber. Nunca quis nem sequer me ter, foi embora quando eu nasci e me deixou como se eu fosse um objeto qualquer que pode ser desfeito a qualquer momento. Tomada pela raiva que começa a me consumir, me viro para Dean e digo, quase sem voz:

— Vamos embora.

Dou o primeiro passo, e então ela coloca a mão no meu braço e me faz parar.

— Lizzie, por favor, me deixa falar com você. Eu procurei tanto por você, filha.

Os olhos dela começam a encher de lágrimas e eu tento pensar no que devo fazer. No que é certo fazer. Então, para tentar livrar o peso que sinto no meu coração e tirar de vez essa história toda a limpo, caio sentada na cadeira que estava antes com Colen, sem olhar pra ela. Ela se senta na minha frente e Dean fica parado, sem saber se deve ir ou ficar. Ele está assustado, assim como eu. Eu arrasto uma cadeira ao meu lado e olho para ele, que se senta ao meu lado. Ele estica a mão aberta no meu colo, querendo que eu a segure, então eu a enlaço na minha, tentando criar a coragem que ele tenta me passar. Ela olha para Dean e depois volta a olhar pra mim.

— Você está tão grande e tão...linda. — ela diz, limpando as lágrimas que começam a cair nas bochechas.

— Por que...por que você resolveu vim atrás de mim só agora? — minha voz sai embargada, porque eu estou prestes a cair no choro. São muitas sensações; raiva, emoção, tristeza...

— Eu estive procurando por você há muito tempo, mas seu pai nunca deixou eu me aproximar. Eu falava com ele que queria conhecer você, mas ele não deixava. Nunca deixou.

Ela estica a mão para pegar a minha que está apoiada em cima da mesa, mas eu a tiro rapidamente.

— Você me abandonou. — digo, com a voz por um fio. Dean aperta mais a minha mão.

— Se você soubesse o tanto que eu me arrependo por isso, Lizzie...eu quase não consigo viver quando penso no que eu fiz. Meu casamento com o seu pai foi muito turbulento e eu estava com a cabeça cheia e...

— E resolveu deixar a sua filha que não tinha culpa de nada?

Ela me encara por uns segundos, com uma expressão de mágoa com as palavras que eu falei.

— Você está certa, eu fui uma pessoa horrível, mas eu quero consertar o meu erro, se ainda tiver como fazer isso.

Olho para Dean, tentando enxergar uma opinião dele. Ele me olha por alguns segundos e volta a olhar para a minha mãe. Minha mãe...sinto uma ânsia ao mencioná-la assim.

— Você quer ter uma relação de mãe e filha com ela como se nada tivesse acontecido?

Dean está com raiva. Ele parece estar sem acreditar no que está ouvindo, mas tentando entender o porquê de ela estar atrás de mim depois de ter me rejeitado. Quem perguntou foi Dean, mas ela responde olhando para mim, como se fosse eu quem estivesse feito a pergunta.

— Eu só quero ter uma relação boa com você e me aproximar, se você quiser. Quero poder te ajudar e...

— Agora você quer ajudar? Depois de anos, depois de ter passado a vida sem uma mãe ao lado dela, você quer ajudar? — Dean diz, ríspido. Dessa vez, sou eu quem aperto a mão dele, porque não quero que ele seja rude assim. Quero ter uma conversa com essa mulher que é uma estranha pra mim e tentar entender ela.

A garçonete aparece para deixar o pedido dela, mas ela nem presta atenção na comida à sua frente e direciona o olhar para Dean.

— Eu estive muito tempo atrás dela, você não imagina o quanto. É difícil não poder falar com a sua própria filha. Foi o David que me impediu de ir te ver!

— Ele só quer o meu bem. — falo baixinho, abaixando a cabeça para o meu colo.

— Eu também quero o seu bem, quero te ver feliz. Tudo o que eu mais quero na vida é ver os meus filhos felizes. — ela continua chorando — eu quis tanto ver Aaron...eu sinto tanta falta dele. E eu queria conhecer você. Quero poder ser a sua mãe. Eu quero participar da sua vida, nem que seja pelo menos um pouco.

Volto a olhar para ela, enquanto ela limpa as lágrimas com os dedos. Começo a lembrar de cada parte da conversa do meu pai; ele falando que ela queria me abortar; ele falando que ela não quis me ver depois que eu nasci; ela batendo no Aaron. Mas ao mesmo tempo, ela está na minha frente dizendo que não é mais a mesma pessoa e que quer tentar consertar o que fez. Minha cabeça começa está uma confusão e começa a latejar, me querendo fazer sair daqui agora mesmo.

— Eu não vou conseguir fingir que nada aconteceu, mas podemos tentar.

Dean se vira para mim, surpreso. Os olhos da minha mãe se enchem de esperança.

— Eu preciso pensar.

— Tudo bem, tudo bem. — ela dá um sorriso. — esse é o meu telefone.

Ela me entrega um papel com o número dela e eu me levanto da mesa, me sentindo fraca. Começo a andar em direção à porta da saída, sem olhar para trás, porque não quero saber se ela está me olhando. Quando chego do lado de fora, solto o ar pesado que estava segurando e coloco as lágrimas para fora, entrando em pânico com tudo que acabou de acontecer. Dean atravessa a porta e corre até mim, me dando um abraço apertado.

— Eu sinto muito por isso. — ele sussurra.




O que vocês acham? Que ela deveria perdoar a mãe? 👀

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