vinte e oito

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NATALYA

Provavelmente eu tinha um problema com encontros.

Lembrava muito bem de como eu havia ficado mal quando levei um bolo de Pedro no nosso – quase – primeiro encontro. Óbvio que fiquei chateada e brava com ele por conta daquilo.

Achava que não iria acontecer outra vez. Ou, se acontecesse, eu não ficaria tão mal como da última, mas me enganei.

Horas atrás eu estava tentando me convencer sobre algo em mim, para que eu não estragasse o meu encontro com Philippe, mas ele não teve a mesma preocupação.

O mesmo cara que havia me consolado do bolo da última vez, tinha acabado de me dar um também.

Que engraçado.

Me sentia uma idiota outra vez. Ao menos eu não estava jogada na grama onde cachorros faziam xixi.

Dessa vez eu estava no meu quarto, sentada bem no cantinho da minha cama com a parede e brincando com o lençol. Ainda estava com o vestido, maquiada e com um penteado legal no cabelo. O que ele havia elogiado.

— Pãozinho? — Ouço, com leves batidas na porta.

— Oi. — Respondi baixo.

— Você quer sair com o seu pai e eu? — Minha mãe perguntou e eu me senti ainda mais ridícula.

Eles também tinham um compromisso hoje a noite. Um encontro deles dois. Adoravam fazer aquilo, mesmo depois de anos de casados.

— Não precisa, mamãe. — Respondo. — Aproveitem a noite de vocês dois.

— Não queremos que fique aqui sozinha. — Falou.

— Eu estou bem, juro. — Falo. — Não me importo em ficar sozinha. Podem ir tranquilos.

— Você liga se precisar de alguma coisa, está bem? — Pediu.

— Combinado. Tenham um bom encontro. — Digo.

Ela agradeceu e se despediu, se afastando em seguida.

Senti minhas vistas embaçarem por conta das lágrimas em meus olhos e coloquei as mãos no rosto.

— Que droga. — Murmuro com a voz embargada.

*
natcomy
eu odeio a minha vida amorosa.

*
dias depois

— Achei você. — Ouço a voz de Philippe e olho para cima, vendo ele parado na minha frente.

— Infelizmente. — Murmuro, voltando a atenção para o livro nas minhas mãos.

Não o via desde quando combinamos o nosso encontro. Ele não apareceu, eu não o procurei e ele não fez questão de me mandar ao menos uma mensagem, então ficamos naquela.

A verdade era que eu nem estava afim de olhar para a cara dele, então não me importei pelo sumiço do mesmo.

— Você está me ignorando a uns dias. — Disse, se sentando ao meu lado. — Fiz alguma coisa?

Deixei o livro sobre as minhas pernas e o olhei, sem acreditar no que eu estava ouvindo.

— Se você fez alguma coisa?! — Repito. — É sério que está me perguntando isso?

Philippe arregalou levemente os olhos, me olhando ainda confuso.

— Desculpa. — Pediu.

— Pelo que? — Pergunto.

— Pelo o que fiz. — Respondeu e eu levantei as sobrancelhas, esperando ele explicar. — Eu não sei o que fiz. — Falou baixo e fez careta.

Eu suspirei.

— Nós tínhamos um encontro, três dias atrás. — Falo, para ver se aquilo clareava a memória dele.

— Ah, droga... — Murmurou. — O encontro.

Pressionei os meus lábios, desviando o olhar do dele.

Eu era mesmo tão insignificante assim? Para depois de dias ele não ter lembrado de mim? Do que tínhamos combinado?

— Naty... — Chamou.

— Fiquei te esperando como uma idiota, Philippe. — O interrompo, voltando o meu olhar para ele. — Estava tão animada, toda ansiosa, querendo que as horas voassem para termos o tal encontro. Esperei você lá em casa, como combinado, e você não foi.

— Me desculpa, Naty. — Pediu. — Eu confundi a data, achei que...

— Foi você quem escolheu a data! — Digo. — Como pôde esquecer?

— Eu sei, eu... — Suspirou. — Desculpa, de verdade. Me confundi.

Confirmo de leve com a cabeça, desviando o olhar outra vez. Sentia vontade de chorar.

— Natalya, juro que não foi proposital. — Insistiu. — Eu não faria isso.

Ignorei.

— Podemos marcar um novo encontro... — Sugeriu baixo. — Eu te busco em casa e então nós vamos em um restaurante que você gosta. Vai ser leg...

— Philippe? — Ouvimos e então levantamos a cabeça, vendo Nayara. — Oi! — Sorriu abertamente. — E oi, Natalya. — Resmungou.

Não a respondi. Philippe murmurou um "oi" como resposta para ela.

— Coincidência te achar aqui, Phil. — Ela continuou, ainda sorrindo. — Queria dizer que eu adorei o nosso encontro na sexta. Podíamos repetir. Tudo. — Falou e mordeu o lábio, o encarando de cima a baixo.

Franzi o cenho, olhando para Philippe.

— É, nós... — Ele disse baixo. — É. — Falou.

— Amanhã a noite eu estou livre. — Nayara falou, piscando para ele. — A gente se fala?

— É. — Repetiu.

Nayara sorriu, me olhando e em seguida jogando um beijo para Philippe, saindo logo depois.

Deveria estar escrito "trouxa" na minha testa naquele momento.

— Você estava com ela. — Falo baixo. — Na noite que combinamos de sair, você me deu um bolo para sair com ela.

— Naty... — Philippe murmurou.

— Eu sou tão idiota. — Sussurro, sentindo meus olhos arderem. — Meu Deus, eu sou a maior idiota de todas! — Falo.

— Você não é idiota, olha... posso explicar o que aconteceu. — Disse rápido.

— Sei o que aconteceu. — Digo com a voz embargada, me levantando rápido. — Não é a primeira e nem a última vez que me trocam pela minha irmã.

Philippe abriu a boca para me responder, mas eu saí antes dele falar alguma coisa e antes que eu chorasse na frente do mesmo.

**
ô dó da minha pitiquinha
🥺

Twitter ━━ Philippe CoutinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora