Mira
Tive que segurar um riso. Vê-lo discursar é doentio. As mentiras que saem da sua boca e seu olhar de deboche não me enganam.
Sevi e Suni me olham preocupados. Claro por que eu estaria sorrindo em uma situação como essa? Na verdade nem eu mesmo sei. Talvez seja uma pontada de satisfação no meu ego. Como se eu dissesse para todos: Eu avisei.
Me recompus, tudo é muito mais grave do que parece.
— Mira?
— Sim, acho que já podemos ir.
Nos despedimos de Sevi que ainda me olha estranho.
— Até mais. – Eu apenas acenei para ele.
Saindo daquele lugar notamos que não havia mais ninguém nas ruas. Nem um carro ou pedestre. E segundo Suni, aquele lugar era um dos mais movimentados da cidade. Aquilo era estranho.
Ao andar pelas ruas vazias, ouvimos uma sirene aguda.
— O que é isso? -- Suni me pergunta.
— Eu nunca ouvi isso nessa parte da cidade. Mas eu já a ouvi antes.
Eu demoro em lembrar, mas esse som é familiar. Quando eu ainda morava na cidade da fuligem, há uns três anos atrás houve um atentado, um carro explodiu perto da delegacia e dois policiais morreram. O toque de recolher foi absoluto e a caça aos terroristas foi impentuosa. Invadiram as nossas casas para no fim culparem a UCG. Mas, eu me lembro daquele som, do desespero das pessoas. Meu pai disse que antes isso era comum. Que ficar na rua era um setença. Mais um dos motivos para ele ter se juntado a UCG.
— Suni, vamos sair das vias principais.
— Vocês ai! Paradas.
Ouvimos o carro chegando. O policial de megafone nos viu.
— Corra!
Nós saímos em disparada. Pelos becos escuros. Um trovão rasga o céu e ilumina tudo antes de começar a chover. A chuva é forte e atrapalha a minha visão. Suni está na minha frente, ela consegue andar sem ao menos escorregar, já eu, a cada passo é um desafio.
A sirene da viatura soa atrás de nós. E ao olhar para trás só consigo ver o farol do carro.
Suni faz um desvio, ela entra em outro beco, um menor e bem mais estreito que aquele que estávamos. Acho que o carro não conseguirá passar.
Ao perder a viatura de vista, nos abrigamos sob um toldo de metal.
Suni está vermelha, sua respiração inconstante.
— Que merda foi isso? – Ela me pergunta tentando recupera o fôlego.
— Eu não sei, mas acho que tem haver com o pronunciamento do Haru.
— Que droga! – Ela diz.
Enquanto descansávamos ouvimos passos. Apesar da chuva barulhenta, nos podíamos ouvi-los. Os guardas, dois deles pelo menos. Olhei para a Suni e acenei com o olhar, teríamos que atacar para sair dali.
A chuva atrapalhava tudo. Porém ainda era uma vantagem para mim. As gotas se congelaram com um pouco de esforço e assim eu pude moldá-las a minha vontade, apesar de haver tanto água nesse momento, é bem mais difícil se concentrar com tantos recursos. OS guardas pararam ao ver o que ia acontecer e simplesmente abriram caminho.
— Isso parece ser uma armadilha. – Suni me diz.
— Sim. – eu apenas respondo.
Assim para evitar qualquer tipo de problema. Eu congelo as roupas molhadas dos guardas, que é o suficiente para para-los, pelo menos por enquanto. Assim Suni sai em disparada. Estou pronta para ir atrás dela.
Sinto uma presença atrás de mim. Olho rápido. E por causa da chuva só consigo ver uma silhueta alta. Sinto uma pressão no meu pulmão, como se todo o ar quisesse ir embora. Caio de joelhos em uma poça e tusso tentanto recuperar o fôlego.
— Mira! – Ouço Suni gritar ao longe.
Não tenho força para falar, para avisá-la, para mandá-la fugir. A única coisa que faço é tentar recuperar o ar perdido.
Ele é só uma mancha no meio daquela chuva, mas consigo ver todos os seus movimentos. Por um momento ele corta o ar e afasta toda aquela água para longe. E finalmente consigo vê-lo, se aproximando rapidamente, pronto para me atacar de novo.
Um dobrador de ar. Ele é velho, possui cabelos prateados e rugas proeminente, bem alto . Não acho que eu já tenha visto antes, porém ele é habilidoso. Ele desliza pelo caminho com suavidade, até estar de frente para mim.
— A senhorita está presa. Por desacato ao toque de recolher, por desordem pública e por atacar um membro da guarda.
Enquanto ele fala, eu finalmente consigo levantar.
Minha garganta dói, o ar é rarefeito, assim eu o ataco como ele fez comigo, tentando puxar todos o ar a sua volta, porém não há efeito. O guarda apenas sorri, como se eu fosse uma coisa insignificante, e isso me faz sentir raiva.
Eu o ataco com um chicote de água, tentanto ao máximo me manter longe dele. Suni está perto, por algum motivo eu a sinto, como se fosse uma vibração. Acho que ela está tentando me avisar.
— Suni! Vai embora! Encontre Meelo. Eu te encontro lá depois.
Eu falo, mas sinto que é inútil, ela não me deixaria sozinha. Ela é muito leal para isso.
— Suni? – O homem ri. – Filha de Tobi? Não posso acreditar. – Ele diz como se a conhecesse.
Eu consigo ver Suni, ela esta distante, mas encara o homem com reconhecimento.
— Tio Jinta?
Tio Jinta? Isso está estranho, ela realmente parece que conhece esse homem.
O homem se desarma e a chuva começa a cair normalmente.
— Eu não posso acreditar. O que você está fazendo aqui? Seu pai sabe que você está aqui?
Suni está próxima a mim agora. E eu estou confusa.
— Quem é ele? – Eu pergunto.
— Ah, ele é o Tio jinta! Um dos amigos do meu pai. Por que o senhor está aqui? Achei que o senhor trabalhava no exército, tio Jinta.
O homem agora apresenta um semblante tranquilo.
— Ah, isso é informação secreta, criança. E o que você está fazendo aqui? Com ela? – Ele me olha com uma pontada de desprezo.
Suni se emburra.
— Ela é minha amiga!
Ele suspira.
— Você sempre se colocando em problemas. Andem saiam logo da vista da guarda. Você teve sorte, por ser eu, mas se fosse qualquer outro dobrador do esquadrão, vocês não teriam tido chance.
Suni ficou séria.
— Todos estão aqui?
— Sim, e lamento dizer, fora vocês duas, todos os outros dobradores já foram capturados.
Me espanto.
— O que você quer dizer com isso.
Ouço mais passos, vindo em nossa direção, àqueles guardas conseguiram se soltar.
— Vão logo, e não se deixem pegar. O comandante não está aqui para ajudar a preservar a paz, nossa missão agora é diferente, ele quer tomar o poder, e vai usar tudo o que puder para fazer isso, e está usando aquele garoto para isso. Não se enganem, o Avatar Haru é apenas mais um fantoche.
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Avatar - A lenda de Mira ( Repostando)
PertualanganO mundo não é mais o mesmo. O número de dobradores está caindo a cada geração. O mundo está em paz. A tecnologia evoluiu muito e os dobradores não são mais necessários. Mas quanto mais raros eles ficam, mais poderosos e influentes eles são. O últi...