Livro 4 -Fogo : Capítulo 2 -Conturbações ao mar

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Riku

Dois dias haviam se passado. Eu estava contendo toda a minha impaciência e excitação enquanto viajávamos para a tão temida união do fogo. Estava tendo um dejávu. Diferente de antes, quando me sequestraram para ir para lá, agora, estávamos indo por vontade própria.

Estávamos escondidos em um barco pesqueiro descaracterizado. Eu, Sina, Suni, Meelo e Mira. Diferente deles, eu me sentia ansioso. Quase feliz. Uma felicidade errada, que me diferia de todos eles. Mira ainda permanecia desacordada, com Suni cuidando dela. Meelo estava concentrado, talvez meditando. E Sina, estava abatido, com um olhar triste e perdido.

Mas, o que me deixava feliz em tudo isso? Talvez a perspectiva do novo? Eu não sei direito, mas eu consigo me imaginar em uma terra cercada por dobradores de fogo, aonde eu poderia me soltar, sem consequências, sem inibidores, sem tratamento! Eu vou poder ser quem realmente eu sou.

Foi o pai da Mira que preparou tudo isso. Eu não fiquei surpreso em saber que ela havia nascido na União do fogo, mas fiquei extasiado , que ela e o pai fugiram de lá. Eu fiquei muito tentado em perguntar o que havia acontecido, como eles haviam escapado, o por quê deles fazerem isso. Mas, Sina não me permitiu, mesmo abalado pela a morte da irmã, ele ainda queria ser o meu freio moral.

O barco balançava cada vez mais forte. O que me deixava enjoado, quase podia sentir a sensação dos inibidores, que costumavam me deixar distante do mundo e com essa mesma sensação de enjoo. Quando aquela viagem iria acabar? Me levantei. Eu precisava ver o sol. Ficar naquele lugar úmido e frio por tanto tempo, podia mudar drasticamente o meu humor, e isso não seria bom, para nenhum de nós.

— Aonde pensa que vai? – Sina me disse com uma pontada de raiva.

Eu me espreguicei.

— Ver o sol. – Eu respondi

Ele suspirou. Parecia preocupado.

— Não.

Comecei a contar meu número de respirações. 1, 2, 3. Era um dos exercícios do tratamento de raiva. Resolvi não responder. Apenas segui o caminho até a escada.

— Você não ouviu o que eu disse? – Sina disse se levantando.

Respirei de novo.

— Riku!Você está me escutando? – Ele disse quase gritando.

Olhei para ele, tentando fazer o meu melhor olhar sereno.

— Você precisa controlar essa sua raiva. – Eu disse segurando um riso.

Ele havia perdido a paciência.

— Faça o que quiser. Não me importa mais. Nada mais importa.

Nada mais importava, era isso que me deixava feliz. Agora nada mais importava para ninguém, não só para mim.

Eu continuei o meu caminho. Subi as escadas estreitas do barco, até dar de cara com a portinhola. Ergui com força, até que desse para passar.

O vento espalhou o meu cabelo. Olhei para o céu, e não vi nenhum sinal do sol. Somente nuvens pesadas e negras. Estava prestes a chover. Mas, mesmo assim, era melhor do que estar lá em baixo.

Haviam três homens trabalhando. Enquanto um içava a vela, o outro o gritava ordens para ele.

— O que você está fazendo aqui? -- O terceiro que eu ainda não havia visto me perguntou.

— Eu precisava ver o sol. – Eu disse

— Sol? Você está vendo o sol aqui? Estão desça. Chegaremos em breve.

Avatar - A lenda de Mira ( Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora