Livro 1 - Água : Capítulo 4 -Desafio

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Não sei para onde eu estava sendo levada. Mas eu tinha um pressentimento ruim sobre isso. Eu queria me livrar da pessoa que me carregava, mas se eu fizesse mais uma cena, as coisas poderiam piorar.

Sou levada para um carro. Sou deitada no colo de quem imagino ser Kiha. Sinto uma sensação maternal. E me acalmo. Permaneço de olhos fechados até pararmos.

— Mira? Você esta bem? – Fala Kiha alerta

Olho ao meu redor e olho para o homem que está dirigindo. Ele tem cabelos claros e olhos bem escuros. Ele seria lindo se não me desse tanto medo.

— Estou! Mas para onde vocês estão me levando? – Falo um pouco rápido.

— Temos ainda muito que conversar. Mas por enquanto só queremos que você descanse. Queremos o seu bem Mira. Não precisa ficar assustada.

— Mas, Suki...

— Não se preocupe, sabemos que você não tinha a intenção de machuca-la. Soubemos o que ela fez com você , e as medidas já estão sendo tomadas.

È assim mesmo que eles tratam quem é dobrador. Eles sempre estão certos diante dos cidadãos normais. Não sabia que esse tratamento se aplicava a pessoas de classe como Suki.

Saio andando do carro, noto que estamos em uma rua muito diferente da minha, cheia de mansões e bem arborizada.

— Você ficará comigo, até a confirmação do seu teste. Depois disso você e sua família terão sua própria casa.

Eu ainda vou ter que fazer um teste? Eu ainda sou obrigada a ir para a escola? É mesmo verdade que dobradores são financiados pelo governo?

A casa de Kiha é grande, a maior que eu já havia estado, tem água por toda a parte, no chafariz no meio da sala, no lago no jardim, na piscina nos fundos. Sina, o moço que me da arrepios se despediu de mim. Fiquei sabendo por Kiha que ele é um funcionário do Governo que ajuda os dobradores, mas ele não tem uma energia muito boa. Até Kiha constatou isso. Sou levada até o que eu imagino ser um quarto de hospedes. Kiha me disse para ficar a vontade enquanto ela prepara o jantar. No banheiro em anexo ao quarto existe uma fonte. Sou tentada a brincar com a água que jorra dela. Com muita dificuldade eu consigo controlar uma pouca porção. Fico cansada rapidamente e a água cai no chão. Molhando tudo. Fico preocupada. " Eu só faço bagunça" Falo para mim mesma. Estou mais exausta do que com fome. Hoje foi o pior e o melhor dia da minha vida. Deito na cama e durmo. Ignorando todo o resto.

Estou perto de uma grande árvore. Grande mesmo, as raízes se estendem por quilômetros, a copa é mais alta que o maior prédio da cidade. Me sinto uma formiga perto dela. Preciso escalar e descobrir onde estou. Nunca subi em árvores antes e nem sei por onde começar. Minha primeira tentativa é fracassada. Tento mais algumas vezes e caio com força no chão. Desisto e me sento. Tento pensar em como eu vim parar aqui, mas eu não consigo me lembrar de nada. Olho ao meu redor e finalmente noto o pântano. Agora eu sei onde estou. Eu já estive aqui antes.

— Mira?

Ouço a voz de Kiha. Me assusto inicialmente ao perceber onde estou.

— Acho que adormeci. – Falo me espreguiçando.

— Não tem problema Mira, ontem foi um dia difícil.

— Que horas são?

— Já está na hora de irmos, seu teste é daqui a duas horas.

Estou morrendo de fome, mas não quero ser inconveniente. Kiha me oferece um uniforme e diz para eu tomar um banho. A obedeço. Tomo um banho rápido, e saio às pressas não tendo noção do tempo. Ao chegar à sala noto uma farta mesa de café da manhã, uma coisa que eu nunca vi antes. Ela me pede para sentar e me servir. Prontamente a obedeço. Não consigo me controlar e como mais do que eu devo.

— Me desculpe- Falo comendo um pedaço de pão.

— Não se contenha, por favor, coma. – Ela fala com um sorriso no rosto.

Agora eu consigo notar suas feições. Ela não aparenta ter mais de 30 anos e tem um lindo e longo cabelo castanho. Olhos tão azuis quanto o céu. Não parece uma professora.

— Podemos ir?

— Ah sim.

Apesar de estar nervosa, quero logo acabar com isso.

Acho que essa semana eu bati o recorde de andar de carro, três vezes em uma semana. Eu deveria estar feliz, sempre amei essa tecnologia. Um dos meus sonhos era ter um carro, acho que com a minha nova condição, ele pode ser realizar. Mas , o meu nervosismo esta batendo recordes. Não quero pensar do que estão me chamando na escola. Pelo menos Hina estará lá. Eu espero.

Os corredores da ala oeste são vazios, nenhuma única alma viva por aqui. Estou seguindo Kiha, ela não me dirigiu uma única palavra desde o café da manhã. Ela entra em uma sala com uma porta gigante. Ao entrar noto que a sala parece com um ringue de batalha de dobra, um esporte que está desaparecendo. Um homem franzino de cabelos brancos está no alto das arquibancadas. Kiha se aproxima do centro da arena , e finalmente fala:

— Senhor, essa é a garota de quem eu te falei. Ela teve o descobrimento tardio, e foi a principal causadora do evento de ontem na piscina. – Ela diz seriamente.

Parece que estou em um tribunal. Um arrepio corre a minha espinha, quando eu noto Sina, o homem de ontem, ele está discretamente sentado nas laterais dos acentos.

— Se , apresente. – Kiha ordena a mim.

— Não sei o que dizer. Meu nome é Mira, e eu tenho 14 anos.

— Certo. Prazer em conhecê-la Mira – Fala o homem franzino, que eu imagino ser o diretor.

— O prazer é todo meu. – Digo sem jeito.

— Podemos prosseguir com o teste, com a sua permissão.

— Por favor, continue - Fala o diretor aparentemente ansioso.

Sou atingida e caio no chão. Sinto uma dor no meu joelho e vejo que Kiha me atacou. Não sei que tipo de teste é esse, mas Kiha me ataca novamente. Dessa vez sou arremessada para frente. Olho para ela, e ela está fazendo aquele movimentos de dobra , acho que ela espera que eu ataque. Me levanto, tento fazer alguma coisa com a água que essa no poço, na lateral da arena , mas diferente de antes, não consigo controlar muito. Imito os movimentos de Kiha, mas ela me acerta novamente. Isso está me deixando furiosa. O diretor começa a rir.

— Talvez ela não seja tão promissora, como você disse Kiha, talvez ela só sirva para a medicina, ou para limpar o chão.

Olho para o Diretor, ele realmente está debochando de mim. Eu odeio quando riem de mim. Sempre quando eu fico com raiva, eu não consigo me controlar bem. Mas as melhores coisas que eu já fiz na minha vida, eu estava com raiva.

Kiha está pronta para me atacar de novo, ela controla uma espécie de chicote de água. Olho para ela com a mesma raiva, e imitando seus movimentos consigo tirar a água do seu controle. Ela parece surpresa, e assim que ela olha para o diretos distraído, eu a ataco, e ela cai em um dos poços.

O diretor olha para mim, com o mesmo olhar de surpresa de Kiha.

— Você dobra água, como se dobra-se fogo.

Ele diz, se retirando da arena.

— Fale para Kiha, que você está aprovada.

Avatar - A lenda de Mira ( Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora