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A coroa de Feyre reluzia, abrindo caminho entre aquelas pessoas que não disfarçavam o desdém no olhar – e mesmo assim, estavam perfeitamente imóveis. O queixo da Grã-Senhora estava erguido, a coluna ereta e as mãos dançavam ao lado do corpo conforme ela se movia na mais pura graciosidade. Cada passo dela retumbava, parecendo fazer a rocha ao chão tremer, com uma batida pulsante e constante.

Amren, ao lado esquerdo de Feyre, sorria de canto com os olhos nublados estreitados para a multidão – uma predadora analisando sua caça. Mor era um misto de sensualidade, magnitude e selvageria em seu andar. Uma piscadela aqui, uma risadinha assustadora ali, um erguer de queixo lá. Ela provocava e se derramava em superioridade em seguida.

Astéria vinha por último. E era a que mais atraia atenção.

Olhares curiosos, olhares desejosos, olhares de desprezo, olhares impressionados. Muitos olhares. Muitas reações.

Astéria formigava enquanto mantinha sua expressão séria, mas um sorriso de canto desafiador repuxado nos lábios vermelhos. A tatuagem no braço esquerdo pinicava e queimava, fazendo-a conter o ímpeto de olhar para baixo. Ao fundo, ela sentia algo se revirando, como as sombras de Azriel se reviravam pelo contorno dele mesmo.

Elas subiram os degraus do altar ao fundo do salão de ébano polido, onde um único assento enorme, encrustado de pedras ônix, repousava no centro.

Feyre sentou-se no trono, cruzando as pernas e apoiando os pulsos com suavidade nos braços da cadeira. Soberana.

Amren parou ao lado esquerdo da Grã-Senhora, a mão com unhas longas e negras apoiada no encosto do trono. Tudo nela gritava perigo. Caçadora.

Para a surpresa de Astéria, Mor sentou-se no meio dos degraus. As pernas abertas deixando que o vestido vermelho caísse pelo meio das coxas torneadas. O queixo altivo e a expressão debochada, mirando um único macho em frente a toda aquela multidão. Ludibriadora.

Astéria subiu a escada, deixando que a saia translúcida de seu vestido branco roçasse a coxa a mostra de Mor, que rapidamente ergueu a cabeça para ela, abrindo um meio sorriso. Astéria sorriu de volta antes de mirar Feyre e Amren no altar.

A Grã-Senhora estendeu a mão direita calmamente em sua direção. Astéria sorriu quando pegou os dedos de Feyre e virou-se para a Corte dos Pesadelos, conforme sentava-se no braço do trono, escorando-se no encosto e cruzando as pernas. Enigmática.

Mor olhou para elas por cima do ombro e gargalhou venenosa, antes de se voltar novamente para todas aquelas pessoas.

Um único macho estava parado alguns passos a frente da Corte silenciosa e curiosa. Os ombros rígidos e os braços cruzados para trás. A expressão de desgosto não disfarçada, especialmente quando encarava Morrigan e franzia o nariz.

Astéria notou a semelhança com os traços da loira sentada na escadaria. Os mesmos olhos castanhos, a mesma boca carnuda, o mesmo tom de cabelos dourados. Tão lindo e jovial quanto a filha.

Aquele era Keir.

A tatuagem de sol no pulso esquerdo pinicou mais uma vez, e Astéria finalmente percebera a ponte jogada entre as almas durante todo aquele tempo.

O laço estava vivo entre ela e Azriel, e ela repassava tudo para o encantador sem sequer notar. Azriel formigava a tatuagem como resposta, demonstrando a tensão pela entrada delas e a expectativa de como as coisas seguiriam agora.

"Não havia percebido que estávamos conectados". Ela se esforçou para lançar o sussurro entre as estrelas, as sombras, o sol e a lua de suas almas.

Não houve resposta, mas sabia que a mensagem havia chego até o encantador. Ele não repassava nada para ela pela ponte. Ela não havia percebido a conexão deles, mas não reprimiu o laço. Azriel também não.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora