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    Naquela noite, eles treinaram até o amanhecer.

    Azriel fez o mesmo jogo que havia feito quando se desfazia em sombras e aparecia atacando-a. Mas vendada, Astéria não tinha a mínima chance de sequer ver alguma movimentação dele. Ela apenas pressentia. Ouvia. Começava a se familiarizar com o cheiro dele e captava-o pelo ringue. Sentia sua intuição e seus sentidos despertando a cada hora que passava. Tornando-se parte dela novamente, deu as boas-vindas para aquele pedaço de si há muito esquecido.

    Os movimentos de Astéria estavam se tornando mais rápidos e precisos, mesmo estando mais cansada a cada hora. Suas previsões de onde Azriel surgiria, cada vez com menos margem de erro.

    Quando sentiram a exaustão, fizeram uma hora de pausa e se jogaram no ringue, deitados lado a lado de costas no chão. Ambos ofegantes e suados.

    Astéria levantou os olhos e finalmente se permitiu olhar para as estrelas da Corte Noturna. Ficou tão maravilhada com a visão que parecia que todo o cansaço sumiu de seu corpo. Astéria entrou em êxtase com o céu mais bonito que já havia visto em toda sua vida!

    Perguntou a Azriel se ele conhecia alguma constelação. Ele apontou uma das mãos cheias de cicatrizes para os céus e fez o desenho com os dedos no ar para mostrar a ela a constelação Andrômeda, que parecia uma pessoa empunhando uma vareta. Astéria riu do formato. Ele estalou a língua, mas abriu um sorriso. Em seguida, lhe mostrou Cetus, o monstro marinho. Astéria fez uma careta para o nome e Azriel apenas deu de ombros. O encantador continuou falando sobre as constelações que conhecia e fazendo o contorno delas com os dedos – a constelação Draco, a Hydra, a Lepus, a Lyra, o Pegasus e mais uma porção delas. Ele contou também que em Velaris, coração da Corte Noturna, era possível ver todas as constelações existentes – não importava que no resto do mundo algumas delas pudessem ser vistas apenas em determinados hemisférios. Astéria ficou fascinada com aquele fato. Sua constelação favorita havia sido a de Orion, o caçador empunhando o arco.

    Depois disso, se levantaram e continuaram o treinamento. Dessa vez, porém, treinaram com espadas.

    Azriel lhe entregou uma sobressalente do arsenal da Casa do Vento e a vendou novamente. Astéria era muito boa com espadas, apesar de preferir o peso leve e discreto das facas. Foi um pouco desajeitada até se acostumar com o peso da lâmina longa.

    Lutaram até o amanhecer sem descanso. Quando o céu começou a ficar roxo no horizonte, Azriel anunciou o fim daquele treino. Elogiou-a pelo imenso avanço em seus movimentos e a evolução de seus sentidos.

    No final daquele treino, Astéria sentia-se um pouco mais acostumada com a escuridão por ter estado vendada durante todo o tempo.

    Voltaram para dentro da Casa e Astéria dormira até meio dia, sendo acordada por Cassian esmurrando sua porta gritando que ela tinha dez minutos para estar vestida e esperando por ele no ringue ou ele lhe jogaria um balde de água fria.

    Treinara a tarde inteira com o comandante entre socos, chutes, espadas e corridas na escadaria de dez mil degraus para melhorar sua resistência. Astéria não desmaiara daquela vez, mas chegara apenas ao centésimo degrau antes de cair no chão implorando para Cassian por água.

    Durante o jantar, Rhys começou a treiná-la nos escudos da mente. Ele atacava suas barreiras durante toda a refeição em momentos aleatórios, mas Astéria estava sempre com os escudos em pé. Encontrou-se novamente com Azriel no ringue depois daquela refeição. Treinaram até quase o amanhecer, fazendo uma pausa de uma hora onde se atiraram no chão e encararam as estrelas como na noite anterior.

    E assim ela passara as primeiras duas semanas na Corte Noturna. Dormia pela manhã, treinava com Cassian à tarde, com Rhys durante o jantar e com Azriel à noite.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora