17

1.4K 210 443
                                    


Orion  cruzou com a espada de aço negro no ar, deixando um zumbido de estilhaço para que preenchesse os ouvidos de Astéria.

Os olhos de gelo encaravam-na com intensidade por trás do aço negro. Sorriam para ela. Ao mesmo tempo que a expressão era branda e séria, os lábios completamente imóveis. A calmaria do encantador de sombras era palpável.

Astéria contra-atacou ao lado esquerdo, e o macho defendeu suavemente, quase como se brincasse com ela. Ele espetou para frente, em direção ao ventre dela, ao qual Astéria desviou com rapidez e girou Orion em direção ao pescoço do encantador. O macho deu dois passos para trás, fugindo de sua lâmina, e parou.

Ela também parou. Sabia que não deveria, mas parou. Ofegante e gelada da água do mar. Astéria sabia.

Sabia que Rue havia a encontrado aquela noite no salão da Corte dos Pesadelos, e só sairia de lá com ela. Sabia que não podia deixar que ele a seguisse até Velaris – não podia arriscar Velaris. Sabia que se ficasse nas masmorras até o amanhecer com Azriel, Rue não a atacaria. Sabia que se saísse de lá ao amanhecer e lutasse com Rue à luz do sol, teria chance de ficar um pouco mais forte e resistir antes de ser levada por fim.

Astéria sabia, porque no passado muitas vezes ela fora a caçadora, e não a caça.

Rue dera mais um passo para trás, abaixando um pouco a espada de aço negro. Astéria não abaixou Orion, porém não atacou. Estreitou os olhos para o encantador, que a encarava com atenção.

– Astéria – O nome dela dançou naqueles lábios pálidos com suavidade –, vim para conversar.

Ela riu.

– Mesmo? E sua iniciativa de conversa foi envenenando meu vinho?

– Aquilo foi apenas algo para chamar sua atenção. E a quantidade de acônito que pus em seu vinho não lhe causaria mal algum, visto a quantidade que carrega em suas próprias veias.

O sol aqueceu as costas de Astéria com vigor. Luz atravessou cada pedaço do tecido branco do vestido, atingindo a pele molhada. Era como se a estrela a saudasse. Ela buscou dentro de si a própria luz, e juntou-a com os raios que a aqueciam, pronta para usar sua magia quando Rue voltasse a se mover.

Astéria ergueu uma sobrancelha para ele.

– Quanta gentileza de sua parte, encantador, me envenenar com tão pouco veneno. – Respondeu irônica, girando Orion no pulso. Sua espada pesava por entre os dedos, como se cantasse à presença daquele macho. O cabo encrustado com a pedra ônix formigava. Astéria levou rapidamente os olhos para a espada, lutando para não franzir o cenho, e voltou-os para as órbitas de gelo que continuavam a encarar com intensidade e calmaria.

Rue sorriu.

– Você realmente tem um humor ácido.

Astéria ergueu uma sobrancelha.

– Posso saber quem anda comentando sobre meu humor com você?

Rue observou-a por mais alguns instantes, em completo silêncio. Então, calmamente, ele embainhou a espada de aço negro na cintura e ergueu as mãos vazias no ar.

– Não vim para machucá-la.

Orion pesou ainda mais entre seus dedos. O punhal da espada começando a queimar as palmas de Astéria.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora