Todos haviam sentido. Aquele eco de poder que ela gritara para o mundo, fazendo Velaris estremecer.
Foi o grito de guerra de uma deusa.
As imagens ficavam sendo repassadas na mente dele.
O momento em que eles chegaram à escadaria da Casa do Vento e ela estava lá, atirada de joelhos, gritando e chorando e soluçando e vomitando. Então Rhysand se ajoelhou a frente dela, e ela simplesmente o golpeara. Como se estivesse tão submersa em dor que não havia reconhecido o Grão-Senhor.
Ela se encolhera no chão, tremendo e arfando, os olhos fechados com força. Então sombras e raios de sol começaram a circundar seu corpo, protegendo-a como um casulo.
Azriel arregalou os olhos ao ver aqueles poderes, principalmente a escuridão, conforme suas próprias sombras cantavam em seus ombros, tentando desesperadamente acalmar aquelas que sofriam ao redor dela. Sua mente ficara tão chocada que ele não conseguia sequer se mover, observando-a.
E havia sangue. Escorrendo de seus olhos, de seus ouvidos, de seu nariz. Ela se curvou para frente e vomitara o sangue pela boca.
Feyre foi quem estendeu as mãos para os ombros dela na segunda vez, e ela golpeara de novo, afastando-se antes de atirar a cabeça para trás e gritar. Mais um grito de pura ira. Puro ódio. Pura dor. E percorrera novamente o mundo, fazendo Velaris estremecer mais uma vez. O chão tremeu aos pés deles e algo revolveu o ar, como se tivesse ficado rarefeito.
Ali, de novo aquela deusa de guerra.
Uma redoma se ergueu em volta do corpo encolhido no chão, estalando em um tom dourado. Um escudo involuntário, feito de luz.
Luz e raios de sol, libertos enfim.
Azriel ficou imóvel ao observar o poder desaprisionado. Feyre abriu a boca, chocada, soltando um soluço com a garganta, e Rhysand estremeceu, assombrado.
Azriel não ousou se aproximar conforme sentia o próprio coração ruir ao ver a dor que ela jorrava para fora. A dor de cinquenta anos, que explodira por algo que eles não sabiam. Não ousou interromper conforme aquela alma desesperada ecoava, desaprisionado junto com o poder todo o luto do que lhe fora feito.
Mas suas sombras cantaram, querendo se fazer ouvir acima da dor gritada, e Azriel as libertou em direção a ela.
Sua própria escuridão desceu de seus ombros, gentilmente roçando contra aquele escudo dourado, que se abriu minimamente para deixá-las entrar, como se a luz dela reconhecesse suas sombras.
As sombras do encantador começaram então a roçar seus cabelos e as laterais de seu rosto que agora se escondia nas mãos. Roçaram os pulsos e desceram por suas costas, acariciando-a, acalmando-a, cantando-lhe uma canção de ninar que costumavam cantar ao próprio Azriel, séculos atrás, de volta a cela separada para ele na fortaleza do pai.
Ela cedeu aos poucos, como se nós fossem desamarrados de seu corpo. O escudo se desfez em minúsculos pontos de luz até desaparecerem no ar. E suas sombras continuaram cantando e acariciando seus longos cabelos negros como a noite sem estrelas, até que ela se deitasse no chão e soluçasse pela última vez.
Astéria estava dormindo há três dias agora. E Azriel não saíra do lado dela.
Trocava de turnos com Nestha ou Mor apenas quando precisava comer ou se banhar, e deixava o próprio quarto com um rosnado para que se acontecesse qualquer coisa enquanto ele estivesse fora, deveriam avisá-lo imediatamente.
Rhysand chamara Melisandre, a curandeira que havia retirado o veneno da base das asas de Azriel após ser atingido na Cidade de Ossos. Melisandre examinou Astéria da cabeça aos pés, contando com a ajuda de Amren e Azriel para despi-la.
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Herdeira de Sol e Sombras
Lãng mạnAstéria venceu a guerra de Hybern como imediata e comandante do Grão-Senhor da Corte Diurna. Agora, precisava vencer a guerra de sol e sombras dentro de si. Todos os dias ela tentava domar o mar revolto de trevas em que seu coração submergiu após os...