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O sangue rugia em seus ouvidos.

Pulsava.

Ensurdecia.

As sombras também.

As unhas cravavam com tanta força nas mãos que gotas de sangue escorriam pela palma e se perdiam ao vento, conforme as imensas asas de morcego dobravam o ar a sua vontade. Havia uma fúria incontrolável em seu peito, implorando para ser liberta.

E ele a libertaria. Por ela. Mesmo que, no fundo, soubesse que não deveria.

Não era uma vingança sua para ser reivindicada. Ele sabia disso. Queria que sua parte racional tomasse o controle para conseguir deixar o sentimento de posse para trás. Mas não conseguia.

E antes que pudesse se impedir, já havia avisado a ela que voltaria ao anoitecer. Já havia pedido para suas sombras procurarem por sussurros no mundo em busca do traidor. Já dobrava as asas nos céus.

O problema era que apesar de não tão forte, Rue era um encantador discreto como ele, e poderia levar algum tempo até que suas sombras captassem sequer um vestígio do macho.

Azriel fechou os olhos e sentiu a brisa quente de verão chicotear contra seu rosto. Tentou aspirá-la, mas seus pulmões pareciam fechados. O ar se recusava a entrar. E cada vez que sua mente formava uma imagem de Rue e Astéria juntos...

A escuridão a sua volta ficou mais densa e emitiu chiados que ele mesmo queria emitir, se sua garganta não estivesse tão sufocada quanto o peito.

Pelo maldito Caldeirão, Azriel daria qualquer coisa para não sentir aquilo! Daria qualquer coisa para não querê-la. Mas no fundo, ele sabia que já era tarde demais.

Nidalus.

Azriel piscou, franzindo o cenho, conforme uma de suas sombras sussurrava em seu ouvido.

Nidalus. Rue estava na Corte Diurna. O que infernos ele fazia lá?

O encantador tomou fôlego, estendendo as asas de morcego sob o sol e esticando o corpo no ar, afim de mudar o curso de seu voo em direção à Cidade do Sol.

O coração de Azriel retumbou no peito com a ideia do outro encantador estar indo para a Corte de Astéria afim de um novo ataque. Não havia tempo de tentar contatar Rhysand. Rue já deveria estar perto.

Fechou os olhos e rezou para a Mãe para que Helion já estivesse de volta, então reuniu as sombras e atravessou as dobras do mundo diretamente para dentro dos portões do palácio de ouro.

Os guardas imediatamente sacaram espadas e lanças, apontando-as para Azriel. Uma fileira de arqueiros que guardava os telhados da frente do palácio armaram os arcos.

– Não se mova! – Um dos guardas gritou.

Azriel ergueu as mãos lentamente e suspirou.

– Sou Azriel, mestre-espião do Grão-Senhor da Corte Noturna. Tenho livre acesso à Corte Diurna e ao palácio por ser parceiro da mestre-espiã de Helion, Astéria. — Ele murmurou, calmo, mesmo que a palavra parceiro tivesse revirado seu estômago e trazido um gosto agridoce na língua — Preciso ver seu Senhor.

Os guardas embainharam as armas um a um, mesmo que a postura de seus corpos continuassem rígidas, prontos para lutarem a qualquer momento. Como qualquer guarda o faria. Os arqueiros nos telhados, porém, não baixaram as flechas.

–Helion não está. – O que havia gritado para que Azriel não se movesse, informou.

– E Varus?

O guarda balançou a cabeça em negativa.

– Ambos voltaram da Corte Noturna e saíram em seguida. O general Asaph está no comando do palácio.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora