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  Arrastava seus pés pelos corredores, preguiçosa. Tinha certeza de que carregava uma expressão muito carrancuda, já que todos que passavam por ela abaixavam o olhar ou faziam reverências profundas em sua direção.

  Revirava os olhos sempre que isso acontecia. Sim, ela estava em um péssimo humor. Mas isso não significava que iria atacar qualquer um que cruzasse seu caminho.

  Entrou na enorme varanda banhada pelo sol da manhã onde o primeiro desjejum era servido. Não havia nem sinal de Helion, Varus, Rhysand ou os acompanhantes de Rhysand. Apenas Asaph sentado desleixado em uma cadeira branca estofada, com um pires em uma mão e uma pequena xícara na outra. Ele soprava o líquido dentro olhando para os jardins.

  – Bom dia, meu sol! - Asaph saudou.

  Astéria soltou um grunhido em cumprimento, causando risos no macho.

  – Sim, sim! Um ótimo dia para se carregar um ótimo bom humor, não é mesmo? - Disse ele com escárnio.

  Astéria lhe dirigiu um olhar assassino enquanto se sentava à sua frente. Passou os olhos rapidamente pelas comidas em cima da mesa decorada com uma toalha de seda em tom marfim, pensando se conseguira comer alguma coisa. O estômago logo lhe respondeu com um embrulho de que não estava afim de receber nada que não fosse café puro para despertar a mente exausta. Pegou o bule delicado e serviu a xícara a sua frente.

  Bebericou devagar o líquido preto, encarando um ponto fixo na mesa. Deixou-se devanear por um momento relembrando o jantar de ontem. Pela Mãe, estava tão irritada! Se antes ela já não tinha ânimo para bancar a anfitriã de mais uma Corte, agora tudo o que sentia era vontade de se trancar em algum lugar até que os convidados fossem embora. Estava pensando seriamente em pedir aquilo a Helion. Varus e Asaph poderiam se virar com o Grão-Senhor para entretê-los.

  Sentiu o olhar atento do macho a sua frente e voltou a encará-lo. Ele analisava cada pedaço de seu rosto com um vinco entre as sobrancelhas.

  – O que é?

  Asaph soltou um risinho

  – Estou apenas lhe admirando, com essa bela e harmoniosa expressão assassina. - Respondeu ainda entre risos - Desse jeito vai espantar nossos convidados antes do meio dia.

  Astéria pensou por uns bons segundos se deveria ou não jogar seu café nos lindos cabelos do amigo. Por fim, apenas respirou fundo e decidiu que não valia a pena desperdiçar sua bebida com ele.

  – Não iria me importar muito caso eles de fato desejassem ir embora mais cedo. - Retrucou em um murmúrio.

  – Isso tudo pelos questionamentos de Feyre?

   – Isso tudo não é da sua conta! 

  O macho revirou os olhos com sua resposta agressiva. Sentiu uma pontada de remorso em seu coração pela grosseria proferida, mas realmente não estava bem para ser questionada novamente. 

  Astéria sempre ficava daquela forma quando precisava responder coisas sobre o período em que Amarantha comandara Prythian. 

  – Ela só lhe fez umas perguntas. É normal que as Cortes fiquem curiosas com a nova imediata de Helion.

  – Sei disso. - Resmungou.

  – Então qual o motivo de sua irritação com eles?

  – Minha irritação não é exatamente com eles, Asaph. Assim como não é da sua conta!

    Ela não queria explicar. Não estava irritada necessariamente com Feyre, ou qualquer outro convidado da Corte Noturna.

  Estava irritada em ter que interagir. Em ter que fingir ser educada, simpática, receptiva. Estava exausta de fingir estar bem. De receber questionamentos de seu passado ao qual não queria responder. De ouvir um "sinto muito" e sentir os olhares de pena.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora