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Rhysand não se movia. Não falava. Sequer parecia respirar. O rosto bronzeado do Grão-Senhor estava pálido, enquanto os olhos violetas enevoados encaravam com assombro a figura prostrada a sua frente.

Rion ainda tinha os braços presos por Azriel e Cassian, e olhava para Rhysand com um sorriso selvagem nos lábios. Os cabelos negros e compridos embaraçados em frente aos olhos que brilhavam com intensidade entre as mechas – espelhos das íris do irmão.

Feyre respirou fundo ao lado do parceiro antes de falar:

– Então você já sabe sua origem.

Rion soltou uma risada grave.

– Se eu sei que sou um bastardo renegado a esta Corte de Pesadelos, enquanto meu irmãozinho mestiço ficou com o trono e a glória? – O sorriso se abriu mais – Sei. Sempre soube.

Os ombros de Rhysand estremeceram e as asas de morcego irromperam em uma onda de escuridão que fez o salão do trono tremer. Os súditos recuaram em sussurros assustados.

– O que foi, irmão? Ofendido? – Rion passou a língua entre os lábios carnudos.

Rhysand puxou o ar para os pulmões.

– Rion, não é? – Perguntou, apenas para fingir algum controle.

– Ah, pelo menos ele sabe meu nome! Que honra ser reconhecido, irmãozinho.

A boca do Grão-Senhor se contraiu.

– Você foi trazido aqui em julgamento. Foi descoberto que compactuou com as rainhas humanas, abrindo os portos do litoral da Corte Noturna e permitindo a entrada e o fluxo de um veneno comercializado por elas, extremamente nocivo para feéricos. O que tem a dizer em defesa?

Rion soltou mais um riso rouco. Um riso que fez a coluna de Astéria estremecer em antecipação.

– Nada. Era um bom ouro em jogo. Infelizmente, não vivo o luxo de uma cidade estrelada com um trono confortável para me sentar.

Amren sibilou a esquerda de Feyre, e a Grã-Senhora apenas ergueu os dedos para mandá-la recuar. Mor sequer piscava ao lado da anciã, parecendo espantada com a semelhança de Rion com Rhysand.

Astéria também estava.

O corpo inteiro de Rhysand estremeceu de novo. Uma das asas de morcego roçou as costas de Feyre. O rosto do Grão-Senhor tremia – Astéria não sabia se por raiva ou para impedir algumas lágrimas de escorrerem –, mas os olhos eram uma noite de tempestade.

– Levem-no. – Rhysand murmurou.

Azriel e Cassian assentiram em sincronia, e o encantador atravessou o comandante e o irmão bastardo para longe do salão do trono.

Um silêncio profundo se seguiu por alguns instantes, enquanto Rhysand não erguia seus olhos tempestuosos do piso de mármore. As asas de morcego estavam completamente abertas atrás do corpo, como se pronto para alçarem voo e fugir de uma ameaça.

– Keir. – Ele chamou.

O administrador da Corte dos Pesadelos deu passos para frente, tão pálido quanto qualquer um.

– Meu senhor. – Disse abaixando o queixo.

Astéria quis atirar uma faca em seu pescoço pelo cinismo.

– Você sabia sobre a existência de Rion. – Rhysand declarou, frio.

Keir arregalou os olhos.

– Eu... senhor, eu-

– Astéria. – Rhysand impediu a fala de Keir, voltando-se para ela.

A encantadora deu dois passos para frente.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora