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  Havia um imã entre o esverdeado dela e o âmbar dele.

  Sentiu o frio na ponta do estômago junto de mais arrepios conforme o encarava. Todos os pensamentos sumiram. Evaporaram exatamente como o gato preto fizera nas sombras da cortina.

  Só existia o macho a sua frente. Os olhos dourados encarando-a como se pudesse ver sua alma e as sombras que rodopiavam na volta dos ombros e das orelhas.

  Ela pôde ouvi-las!

  Um constante chiado baixo vindo da que se enroscava na orelha esquerda do macho.

  Não era uma língua daquele mundo. Sequer sabia se era de fato alguma língua. Mas sabia que conseguia ouvir os ruídos das formas negras.

  Quis se afastar. Quis correr e gritar e chorar quando finalmente conseguiu organizar os pensamentos e tomar consciência que aquele macho estava em volta de sombras. Ele parecia ser feito de sombras.

  Não suportaria a náusea de ver escuridão se enroscando no corpo do guerreiro a sua frente por muito tempo.

  Bile subiu por sua garganta e ela arquejou, dando um passo cambaleante para trás. Seu coração parecia que ia explodir em suas costelas e as mãos suavam tanto que ela pôde jurar que uma gota pingou no chão.

  Examinou rapidamente as vestes em couro negro do macho. As asas de morcego pendendo das costas, iguais às de Cassian. A diferença era que as do comandante pareciam ser quase acolhedoras, apesar de intimidantes. Mas ali, naquele illyriano, ela conseguia associar a imagem apenas a de um demônio. Um absurdamente lindo demônio, com sombras girando ao seu redor.

  – Você está bem? - A voz veio grave e gentil ao mesmo tempo, terminando de preencher cada poro de sua pele e intensificando o frio no estômago. Astéria estremeceu pela milésima vez.

  – Era seu? - Perguntou de volta. Seu tom não passou de um sussurro.

  O macho franziu as sobrancelhas, abaixou um pouco o queixo e respondeu no mesmo tom que ela:

  – O que era meu?

  – O gato! - Deixou transparecer urgência. Precisava saber se o gato também era parte das sombras que rodopiavam em volta daquele corpo musculoso.

  Ele olhou para os lados examinando minuciosamente cada canto do cômodo.

  – Que gato? - Perguntou cauteloso quando se voltou novamente para ela. Astéria ofegou.

  – Você não o viu? - Sua voz saiu esganiçada.

  – Temo que não tenha o visto. Onde ele estava? - O macho se aproximou um passo, confusão e curiosidade pesavam em suas feições.

  Astéria imediatamente deu outro passo para trás, chocando-se contra um corpo quente que não ouviu se aproximar, mas que carregava o cheiro de eucalipto muito familiar para ela.

  – Querida, o que houve? - A voz de Helion veio suave em seu ouvido enquanto as mãos fortes seguravam seus ombros.

  Astéria balançou a cabeça para os lados. Seus olhos continuavam arregalados e vidrados no macho a sua frente, que a encarava de volta.

  – Nada. - Respondeu - Eu- - Não conseguiu completar a frase. Sentia que ia vomitar a qualquer momento.

  – Azriel. - Rhysand se fez ouvir. O macho imediatamente voltou-se para o Grão-Senhor que encarava a cena muito intrigado de seu lugar no sofá - Vá encontrar Feyre e Mor. 

 O guerreiro assentiu.

  Lançou um último olhar intenso a ela e se decompôs em sombras.

  Astéria desabou de joelhos no chão. Rhysand se levantou bruscamente do sofá e Helion ajoelhou-se ao lado dela.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora