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O focinho gelado tocou seu nariz, despertando-a na escuridão.

Astéria arquejou, afastando o rosto e abrindo os olhos.

O gato estava sentado em seu travesseiro com a cabeça inclinada para o rosto dela. Os olhos dourados brilhando na escuridão, parecendo alertas. Os bigodes farfalhando.

Astéria levou alguns segundos para lembrar onde estava. Piscou para o braço forte circundando sua cintura, piscou para o gato e piscou a mão dela entrelaçada nos dedos cheios de cicatrizes. O rosto do encantador permanecia aconchegado em sua nuca.

O gato soltou um fiapo de miado, saltando da cama. Astéria entendeu que ele queria que ela o seguisse.

Suspirou baixinho, delicadamente erguendo a mão entrelaçada na de Azriel e tirando-a de sua cintura. O encantador remexeu o rosto em seu pescoço, causando-lhe arrepios. Ela prendeu a respiração para não ofegar e acordá-lo. Puxou o travesseiro que estava deitada e colocou por baixo do braço de Azriel.

Saiu da cama devagar. Abaixou-se no chão e agarrou a bainha de sua espada.

Azriel se remexeu novamente, abraçando o travesseiro e enterrando o rosto na fronha. Astéria mordeu o lábio o observando. O mesmo ímpeto da noite anterior de passar a mão pelos cabelos negros lhe surgiu. Ela tratou de seguir o gato na escuridão antes que o fizesse.

O gato a aguardava ao lado da porta, a ponta do rabo batendo de forma quase impaciente. Astéria andou na ponta dos pés, e quando se aproximou, o gato virou-se para a porta e a arranhou de leve, desaparecendo em seguida.

Astéria revirou os olhos, mas abriu a porta devagar, rezando ao Caldeirão para que Azriel não acordasse.

Os guardas que os acompanharam no navio não estavam de prontidão na saída do quarto. Astéria franziu o cenho. Deveria estar na hora da troca dos turnos.

O gato soltou outro miado suave, já no meio do corredor, e saiu andando novamente.

— Espere, seu demônio! – Astéria sussurrou o resmungo, fechando a porta atrás de si.

Uma brisa fria deslizou por ela, arrepiando sua coluna. Astéria prendeu Orion nas costas e conjurou uma túnica preta e grossa, cobrindo o corpo vestido apenas da camisola de seda, deixando que o punhal de sua espada pendesse para fora da túnica.

Correu atrás do gato pelos corredores, os pés de descalços não deixando um ruído sequer no chão de mármore. O animal desaparecendo e reaparecendo nas sombras, os olhos dourados constantemente olhando por cima do ombro para ver se ela ainda o seguia.

Seu gato a guiou até a escadaria que descia para a cozinha dos criados. Astéria franziu o cenho, observando enquanto ele desaparecia nas sombras corredor abaixo, e o seguiu.

A cozinha estava escura, com tudo no exato lugar que ela e Azriel haviam visto horas antes. O gato parou em frente a porta de madeira que dava para a lateral esquerda da casa, arranhando-a. Astéria a abriu com cuidado, ouvindo vozes ao fundo.

Ela parou, escondida na escuridão. O gato parou aos seus pés, deitando no chão.

Ouviu a voz de Naqib e a de uma mulher que não era Thyra. A voz tinha um tom maduro, frio e furioso.

O gato disparou de seus pés pela escuridão, parando na esquina que contornava a casa, de onde vinham as vozes. Astéria fechou a porta de madeira e o seguiu, ajoelhando-se na grama.

Cobriu a cabeça com o capuz e lentamente estreitou o pescoço, mirando duas figuras paradas em pé no gramado, no perímetro que iniciava o pequeno bosque entre os fundos do palacete e o vulcão.

Herdeira de Sol e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora