Capítulo 1 - Prefácio: O orfanato

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Eu nasci um ômega macho, tenho em meu cerne uma loba, cujo nome é Kamaria, não me lembro de muitas coisas, pois eu era muito pequeno quando tudo aconteceu, só tinha alguns sonhos, mas não sabia se eram realmente uma lembrança ou um sonho mesmo, neles eu via meus pais e sentia o carinho deles por mim, não tenho fotos deles, a única coisa que tenho é um medalhão que estava escondido em minhas roupas quando alguém me deixou na porta do orfanato, sem nenhuma carta ou um bilhete sequer, apenas me abandonaram em uma noite chuvosa.

A responsável na época era a Dna Laura,uma beta adorável, justa e sempre se preocupava com o bem estar de todos nós. Ela me deu o nome de Raul, pois segundo ela, após me pegar na porta do orfanato, a chuva parou e a lua saiu toda majestosa, ela brincava que meu nome ao contrário era Luar.

E foi ela que encontrou e guardou o medalhão, até eu ter a idade de 10 anos e me entregou antes dela ir embora e outra pessoa assumir o local, ela pediu para que eu o escondesse e eu o fiz, escondendo sob uma tábua solta abaixo da minha cama.

Até essa idade tanto eu como todos que passaram pelo orfanato, viveram uma vida tranquila apesar de tudo, Dna Laura era uma pessoa maravilhosa. Infelizmente ela não podia me adotar, como ela mesmo dizia, "não tinha as qualificações para tal segundo o governo", mas também nunca fui adotado, creio que por ser um simples ômega macho, sem nenhuma beleza ou qualidades, os adotados eram os alfas e os ômegas mais fofos, mas haviam critérios rígidos para a adoção de ômegas, já que muitos tentavam os adotar para serem escravos sexuais.

Me lembro de quando aquele homem horroroso ficou no lugar da adorável Dna Laura, a vida de todos nós virou um inferno. Começamos a passar fome, nossas roupas eram trapos, mas tinhamos uma única roupa "nova", para os dias de visitas das autoridades do governo e quando vinha algum casal para escolher um de nós, fora isso usávamos roupas gastas.

Antes com a Dna Laura, íamos a escola e ela nos ensinou desde cedo a arrumar nossa cama, ajudar a lavar a louça, ajudar a fazer a comida e éramos felizes assim, pois ela sempre dizia que teríamos que ser independentes quando fossemos grandes, ou então ajudar nossos pais adotivos, mas com a chegada do carrasco, fomos obrigados a lavar nossa própria roupa, ajudar a limpar o chão e os banheiros, ajudar a lavar a louça, cuidar do jardim e os mais velhos faziam a pouca comida que nós era oferecida. E passamos a aprender com um professor, que vinha nos ensinar.

O nosso carrasco fazia o mínimo para nós mantermos saudáveis e não ficarmos doentes, para poder ganhar mais dinheiro. Alguns de nós simplesmente desapareciam da noite para o dia, os boatos eram que eles eram vendidos para famílias ricas, não sei, só sei que perdi muitos amigos, nunca mais os vi. Eu nunca era escolhido, pois nosso carrasco sempre dizia que eu era um ômega feio e sem atributos, isso me deixava muito triste, mas foi o que me salvou.

Apanhavámos se fazíamos algo que ele considerava errado ou sem motivo algum mesmo, mas ele tinha métodos que não deixava marcas e aqueles que tentavam falar com alguém, eram castigados e não virava nada, porque ele fazia parecer que aquele orfanato era o melhor do estado, então paramos de tentar, mas eu tinha dentro do meu coração que iria conseguir fugir, muitos tentaram, mas acabavam por ficar uma semana ou mais dentro do cubículo, que era onde éramos colocados como castigo.

Eu sempre fui mais quieto, gosto muito de conversar com Kamaria, mas meu sorriso sumiu depois que Dna Laura foi embora, ela não podia nem nos visitar, me tornei arredio e sempre tentava fugir e ficava de castigo no minúsculo cubículo, sempre no escuro e de tempos acendiam uma luz forte, sentia frio e muito medo, choramingava baixinho e me ofereciam somente água e pão para comer. A única conversa que tinha era com minha loba, ela tentava me consolar e me deixava vivo, me dando esperanças, embora achava que iria morrer antes de conseguir fugir.

O dia finalmente chegou, foi em um dia de visitas, onde estavam todos agitados e ocupados, peguei meu medalhão enquanto todos estavam lá embaixo e aproveitei que todos estavam admirados com os filhotes fofos que estavam fazendo travessuras, fui até o quintal na parte de trás e consegui passar por entre as grades, já que eu era um ômega pequeno e corri tanto até não saber onde eu estava, nem olhei para trás, só parei quando faltou ar em meus pulmões, minhas pernas fraquejaram e meus pés estavam machucados.

Olhei assustado para os lados e me vi sozinho, não tinha nem como encontrar Dna Laura, chorei muito naquela noite, mas estava livre do nosso carrasco, dormi embaixo de uma ponte, junto aos moradores de rua, que não me perguntaram nada e uma senhora muito velha me acolheu naquela noite e mesmo eu recusando ela dividiu o único pão que tinha comigo, eu tinha 15 anos na época e vivi nas ruas por um curto período, vou fazer 18 anos em breve.

Agora sei me defender, aprendi a lutar e mesmo sendo um ômega pequeno, me tornei forte, aprendi a esconder meu aroma e agora vivo com um pequeno grupo entre 15 a 19 anos, todos fugindo de algum lugar ou de alguém, juntos nos defendemos e cuidamos uns dos outros.

Fazia pequenos bicos para me manter minimamente, não preciso de muito para viver e todo alimento que consigo divido com meu grupo, somos no total de 5, sendo 3 ômegas comigo e 2 betas, não confiamos em muitas pessoas e me mantenho quieto, basicamente só converso mesmo com Kamaria.

Hoje vivemos em uma comunidade, escondidos em um local seguro, lá temos um quarto onde dormimos em um grande ninho, todos juntos, alguns preferiam dormir em sua forma de lobo e tinhamos um banheiro, mas já cheguei a dormir em um banheiro na estação dos trens, até os encontrar.

Muitas vezes acordo a noite com pesadelos, mas tento não incomodar ninguém, apenas subo no telhado e fico admirando a lua e as estrelas, as vezes canto até adormecer novamente, em minha forma de loba.

No momento, consegui um trabalho como ajudante em um restaurante, basicamente tenho que lavar a louça e limpar o local após todos saírem e o dono me deixa trazer a comida que seria jogada fora, por causa disso ele me paga menos, pois desconta uma parte do meu dinheiro, mas não preciso de muito e ele não faz perguntas, a única coisa que preciso tomar cuidado são os dias de inspeções, fico sempre escondido até eles irem embora, então não sou ninguém na sociedade, não existo na verdade, assim como muitos como eu.

IRONIAS DO DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora