As marcas do medo.

Capítulo 1

Alerta1 - Possui detalhes e descrições sobre sexo.

Alerta2 - Possui Gatilhos emocionais, sobre violência psicológica, emocional e física. Além de temas como suicídio, depressão e ansiedade.

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'Muitos anos se passaram neste lugar, chegou a hora de dizer adeus a tudo que construí aqui'. Penso enquanto arrumo a minha mala, em algumas horas minha vida terá mudanças das quais nunca quis pensar. - 'Ao menos é por uma boa causa, meu irmão precisa de mim, ou talvez sou eu que precise dele.' Definitivamente eu não tinha me decidido.

Tento mudar o foco dos meus pensamentos e continuo arrumando a mala, cada peça de roupa me remete a alguma lembrança, algumas boas, outras nem tanto, minha concentração é interrompida com o barulho de batidas na porta do quarto, lembro de não ter trancado e isso me dá um calafrio, tento manter a calma e contínuo de costas para a porta, sabia exatamente quem era, tentei ignorar e continuar o que estava fazendo.

- John, preciso falar com você! – Escutei sua voz com decepção, por um minuto tive a esperança dela desistir e ir embora, respiro fundo. Sabia que isso não aconteceria, já tinha fugido desse encontro por vários dias, mas não queria encarar tudo de novo. 

- Sarah, acho que tudo que tínhamos para conversar já foi dito. – Tento respirar para continuar. - Eu não quero ouvir mais nenhuma explicação e você não é mais bem-vinda aqui. – Solto sem olhar para ela.

- Antony me contou que você vai para Nova Iorque...

Eu sabia que ela viria assim que soubesse e meu desejo era de sair de lá sem essa conversa. Nem isso esse desgraçado consegue respeitar. Infelizmente o meu plano de sair sem encontrá-la não funcionou, não fui rápido o suficiente.

- Claro que o Antony te contou! – Respondo ironicamente.

- É verdade?

- É... – Olho a arrumação da mala e me sinto completamente perdido. O que eu estava fazendo com a minha vida? Era um súbita maneira de punir? 

- Você não pode largar sua residência, esse é o seu sonho John. – Ela dispara. - O que você está fazendo? Vai abandonar seu sonho por minha causa? – Ela acaba gritando com indignação, qual o direito que ela tinha de me cobrar qualquer coisa?

- Não te devo nenhuma explicação sobre a minha vida. Não somos mais nada. – Eu sinto a fúria, sinto que vou explodir, tento respirar fundo e me acalmar. - Isso não tem nada a ver com você. O mundo não gira em torno do seu caráter. – Respondo sem perceber que em poucos segundos eu já estou gritando com ela. Sabia que não tinha esse direito, faço a besteira de olhá-la e sei que não posso, ainda não estava pronto, as imagens chegam a minha cabeça, me viro novamente, tentando me manter calmo.

- John, eu seu que te feri! E sei que talvez nunca me perdoe... você não merecia o que te fiz. – Escuto seus soluços enquanto diz, não chore, por favor. – Olha para mim, por favor. Eu não quero destruir sua vida! – Sua voz tremula era tudo que eu não queria naquele momento.

- É um pouco tarde para essa cena e lágrimas, pensasse nisso antes de me trair com o meu amigo. Vocês me dão nojo. – Digo ainda virado de costa, revivo tudo na minha cabeça, sinto meu rosto formigar, não consigo conter as lágrimas. – Como você teve coragem, Sarah? – Escuto minha própria voz tremula e sei que não consigo continuar essa conversa, sento-me na cama e apoio minhas mãos no rosto, tentando controlar meu choro, mas é impossível, meu peito dói, minha garganta seca, meus olhos estão pesados, eu não consigo pensar em nada lógico. – Saia do meu quarto, eu preciso respirar!! – Minha voz fica ainda mais instável.