Os olhos verdes se abriram cautelosamente, pois os raios fortes de sol atingiam-lhe o rosto. Soltou uma longa respiração e se espreguiçou, levando uma de suas mãos até seu olho esquerdo e o coçando.
Era, decerto, muito cedo ainda; seu relógio biológico soava sempre junto com o nascer do sol, fazendo-a acordar mesmo se tivesse dormido bem tarde na noite anterior.
O frio era ainda mais intenso do que pela madrugada, Savannah achava o frio daquele horário do dia o pior de todos os horários. Ela pegou sua escova de dentes e, junto com uma garrafa de água, sua toalha de rosto e um copo plástico, ela saiu do caminhão. Se debruçou sobre a beira da estrada e começou a escovar seus dentes. Resmungou algo quando vestígios de água respingaram em sua roupa e ao terminar sua higiene matinal deu uma olhada no cenário ao seu redor.
-- Bom dia! -- A moça que dormia na cabine, aparentemente, havia despertado, dando um leve susto em Savannah.
-- Dia! -- Savannah respondeu cética. -- Se quiser escovar seus dentes eu tenho uma escova extra no meu porta-luvas.
-- Faria mesmo a gentileza de me ceder sua escova nova? -- Any perguntou contente e Savannah acenou, indo buscar o objeto. -- Oh, céus, obrigada. -- A garota agradeceu assim que Savannah lhe entregou a escova de dentes.
-- Desculpe ter esquecido a porta do caminhão aberta. Tenho o hábito de acordar só e...
-- Não se preocupe. -- Any disse após terminar de escovar seus dentes e jogar um pouco de água em seu rosto. -- Eu já estava acordada, de todo o modo.
-- Certo. -- Savannah disse, caminhando outra vez para o caminhão. Any entrou no mesmo e se sentou ao seu lado, esperando Savannah ligar o caminhão, no entanto, ela não o fez.
-- Não irá dirigir agora? -- A garota perguntou curiosa.
-- Não. Esperarei as garotas acordarem. É proibido transportar pessoas na parte de trás. Só faço isso à noite e mesmo assim nem sempre. É perigoso.
-- Oh. -- Any expressou, vendo Savannah pegar algumas coisas no isopor.
-- Sirva-se. -- Ela disse séria e Any sorriu sem graça antes de pegar um sanduíche para si e uma garrafinha de suco. -- Dormiu bem? -- Savannah perguntou de repente. -- Eu sei que não é um lugar muito confortável, mas infelizmente é o melhor que posso te oferecer.
-- Dormi muito bem na verdade. -- Respondeu com um sorriso puro. -- À propósito, não deveria me ceder sua coberta. Acordei de madrugada e te vi encolhida em seu banco, desculpe. -- Disse, dando uma mordida no sanduíche.
-- Não se preocupe, sou mais acostumada do que você a esta vida de estrada. -- Savannah disse sinceramente. -- Esta noite dormiremos em um hotel; precisamos de uma noite descente de sono e de um bom banho. -- Any empalideceu ao ouvir aquilo.
-- Será que eu...hm, poderia dormir em seu caminhão? -- Savannah franziu o cenho em confusão.
-- Por que, se estou dizendo que teremos uma cama confortável à nossa disposição?
-- Eu, hm... -- Enrubesceu e olhou para baixo. -- Não tenho dinheiro para pagar um hotel. O dinheiro que eu tenho é para outra coisa.
-- Não posso me dar ao luxo de te pagar um quarto, mas se não se incomodar pode dividir o quarto comigo e com a Sofya. Só tem duas camas, mas a gente dá um jeito. Qualquer coisa posso dormir no chão ou...
-- Não quero me aproveitar de sua hospitalidade. Realmente posso dormir aqui. -- Any disse prontamente.
-- Pois eu me oponho. Você dormirá conosco em um quarto descente. -- Savannah disse solenemente e Any soltou uma risadinha gostosa. -- Do que ri?
-- Você é sempre tão séria assim? -- Perguntou em um sorriso. Savannah soltou um resmungo baixo e lhe encarou.
-- Não sou séria.
-- Bem, desde que chegou não tive motivos para rir e que eu saiba eu ainda não bati forte com minha cabeça a ponto de rir do nada.
-- Bem, desde que cheguei só te vi séria.
-- Oh, desculpe. -- Any pediu desconcertada pela resposta que ganhou de Savannah. A mais velha suspirou e meneou a cabeça.
-- Não! Me desculpe você. -- Disse ela. -- É que não sou acostumada a falar com pessoas além de minhas irmãs e minha cunhada. Minhas respostas se moldaram à forma como lhes respondo. Eu não tive a intenção de ser rude.
-- Tudo bem. -- Any respondeu, comendo em silêncio e admirando a bela paisagem através da janela da frente. -- Então, qual é a sua história? -- Ela perguntou após algum tempo.
-- Eu não tenho uma história.
-- O quê? -- Any proferiu rindo. -- Claro que tem. Me diz! Um ex-namorado que partiu seu coração? Uma família que te espera voltar ansiosamente? -- Savannah torceu a boca e Any prosseguiu. -- Vamos lá, todos temos uma história.
-- Qual é a sua? -- Savannah perguntou, vendo Any sorrir e franzir os olhos.
-- Hey, eu perguntei primeiro. -- Savannah nada disse. -- Se eu te contar a minha você me conta a sua?
-- Talvez.
-- Savannah!
-- O meu talvez é tudo o que você tem, senhorita Soares. -- Any bufou e assentiu.
-- Bem, cresci no litoral; fui criada por meus avós grande parte da minha vida; sou solteira... -- Os olhos castanhos analisaram meticulosamente os orbes esverdeados em busca de tentar reconhecer se aquela informação lhe agradava, no entanto a mulher permaneceu imóvel. -- E estava indo para San Diego visitar o túmulo de minha mãe.
-- Certo.
-- Sua vez.
-- Como eu disse, eu não tenho uma história. -- O risinho nasalado de Any fez Savannah lhe encarar.
-- Você me enganou.
-- Pelo contrário, te disse a verdade desde sempre.
-- Tudo bem. Dirige desde que idade? -- Any perguntou, vendo Savannah rosnar algo baixinho.
-- Você faz perguntas demais, Any.
-- E você dá respostas de menos.
-- Você não precisa saber da minha vida pessoal. Isso é apenas uma carona; não seremos amigas para toda a vida, daquelas que trocam mensagens após uma longa aventura.
-- Você é bastante mal humorada para uma mulher de vinte e sete anos. -- Any constatou ainda com um meio sorriso em seus lábios.
-- E você é bastante intrometida para uma de vinte e seis. -- Any se calou diante daquilo. Não iria arruinar sua única carona por discutir com uma garota teimosa e ranzinza.
A porta foi aberta por uma Sina faminta e calada. Seu bom-humor matinal era nulo e por isso Savannah nada disse.
-- Bom dia, Sina! -- Any saudou.
-- Fale comigo depois das dez da manhã. Por esse horário de agora sou movida unicamente a fome. -- Any se encolheu no banco ao ter recebido uma patada de uma segunda pessoa em menos de cinco minutos. O mau-humor pela manhã naquela família era nítido.
O olhar de Savannah pousou em Any ao notar a garota corar diante da falta de educação tanto dela como de Sina.
-- Any, eu não quis...
-- Tudo bem, Savannah. Você tem razão. É só uma carona. -- Savannah assentiu, mas se sentiu levemente molesta com algo que não sabia o que era.
___________________Para quem me pediu aqui está...
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Destino Incerto (Savany)
FanfictionSavannah Clarke uma caminhoneira; levava a sua vida na tranquilidade das estradas de todo o país. Aos seus vinte e sete anos não se via fazendo outra coisa senão dirigir, exatamente como seu pai a ensinara. A garota possui mais duas irmãs adotivas...