Destino Incerto (Savany)

39

-- Preparadas? -- Savannah  perguntou animada. Seu caminhão finalmente estava concertado. Ah! Como ela adorava dirigir; sentir que poderia ir para qualquer lugar que quisesse com seu caminhão; sentir o vento esvoaçar seus cabelos enquanto ela batucava seus dedos no volante em total silêncio...
 
Bem, algumas mudanças aconteceram no último mês, fato este que fez Savannah  franzir o cenho, já não desejava tanto o silêncio assim. Em seu mais profundo interior havia se acostumado com as vozes falantes de suas irmãs enquanto discutiam quem ficava com o salgadinho; havia se apaixonado pela risada de Any enquanto lhe contava algo bobo e a abraçava; havia voltado a apreciar o som da rádio quando o silêncio das garotas se fazia presente e, inclusive, havia se encantado pelo ronronar de Cristal enquanto ela a acariciava.
 
Por falar em Cristal, a gata havia passado mais tempo fora, brincando com seu novo amigo, do que na casa aonde haviam ficado.
 
-- Sim. -- Any respondeu, circundando seus braços ao redor de Savannah  e enchendo seu rosto de beijos.
 
-- Falta a Sofya, mas já vamos entrando porque ela ainda vai demorar alguns minutos. -- Sina disse, sabendo que Sofya poderia estar transando pela última vez dentro dos próximos dez dias pelo menos.
 
-- Cristal, vem! -- Any chamou, vendo a gata se esfregar no gato cinza escuro que tanto havia passado os últimos dias antes de correr em direção de sua dona.
 
-- Até Cristal achou um gato para fazer saliências. -- Sina disse rindo, vendo Any lhe olhar seriamente. -- Definitivamente esta foi a melhor viagem. Ano que vem a gente precisa mesmo repetir.
 
-- Cristal não faz essas coisas. -- Any disse com veemência.
 
-- Eu hein! Até parece que não. Passou todos esses dias vendo vocês naquela boléia e acha mesmo que ela...
 
-- Sina! -- Savannah  disse secamente, vendo que Any estava realmente ficando irritada. A loira riu e assentiu, entrando no caminhão seguida de Heyoon .
 
-- Vizinhas! -- Foi o suficiente para Any revirar os olhos tão descaradamente que Savannah  quase achou que seus olhos jamais voltariam ao normal. -- Que bom que ainda não foram.
 
-- Oi, Anne. -- Savannah  disse educadamente, sentindo Any se encaixar entre seus braços.
 
-- Fiz um bolo delicioso de laranja para vocês comerem na viagem. Se um dia voltarem para cá não hesitem em me chamar. -- Ela usava o plural, mas seus olhos não saíam de Savannah . Suas mãos se estenderam com o bolo e Any sorriu.
 
-- Savannah  odeia bolo de laranja, mas obrigada. -- Any disse, vendo o sorriso da mulher vacilar.
 
-- Não, Ny... Eu não... ouch! -- Sentiu um beliscão em suas costas e gemeu baixo de dor. -- Odeio demais bolo de laranja, mas agradeço. -- Savannah  disse pegando o bolo das mãos da mulher. -- Minhas irmãs adoram.
 
-- Sério? -- A mulher disse decepcionada. -- Se eu soubesse tinha preparado algum de seu agrado.
 
-- Muito sério. Outro dia ela vomitou só de sentir o cheiro do bolo. -- Any disse e Savannah  assentiu, forçando um sorriso em seu rosto.
 
-- Bem, bom proveito para as suas irmãs então. Boa viagem, garotas. -- Ela disse, acenando um tchau com as mãos e saindo.
 
-- Por que disse que eu odeio bolo de laranja? -- Savannah  perguntou confusa, se virando para sua namorada.
 
-- Porque eu não ia dar o gostinho de ela saber que você tem vontade de comer qualquer coisa vinda dela. -- Any disse séria.
 
-- Você é sempre ciumenta assim? -- Savannah  perguntou rindo.
 
-- Na verdade sou pouco ciumenta, mas ela te comeu com os olhos mesmo sabendo que você está comigo. Isso é uma tremenda falta de respeito. -- Any disse e Savannah  colocou o bolo no banco do caminhão, vendo Sina pegá-lo no momento seguinte.
 
-- Não precisa ter ciúmes, tudo bem? -- Savannah  disse enlaçando seus braços ao redor da cintura de Any. -- Eu gosto das coisas certinhas, sabe? Com você que eu dei uma pulada nas etapas...
 
-- Não só nas etapas. -- Any disse erguendo uma sobrancelha sugestivamente e Savannah  lhe fitou seriamente. -- Ok, prossiga. -- Savannah  assentiu e riu.
 
-- Como eu dizia, com você que eu pulei etapas, mas sou aquela pessoa chata tradicional, sabe? Que acredita que primeiro vem o namoro, depois a intimidade, depois o casamento, filhos... -- Disse, vendo Any sorrir ao ouvir aquilo. -- Acredito em coisas duradouras e, bem, para durar preciso cuidar para não perder. -- Suspirou, encostando sua testa na de Any. -- Eu jamais te trairia, Any.
 
-- Eu sei. -- Any sussurrou. -- Conheço você, mesmo em tão pouco tempo.
 
-- Então por que o ciúmes?
 
-- Não gosto de saber que te olham sentindo desejo. -- Assumiu. -- Eu sei que é inevitável porque você é absurdamente atraente, mas tem gente que sabe respeitar, sabe? Todos deveriam ser assim. Você está comigo, aquela bruxa não deveria... -- Savannah  gargalhou ao ouvir aquilo.
 
-- Ai, que vontade de morder. -- Savannah  disse sorrindo entredentes. Any ficava incrivelmente fofa com ciúmes e Savannah  não resistia.
 
-- Morde... -- A menor disse estendendo o pescoço para Savannah . O tom de inocente passou a ser carregado de malícia.
 
-- Por que sempre faz tudo parecer pervertido e excitante? -- Savannah  perguntou rindo. -- Não podemos agora... -- Savannah  disse enquanto distribuía beijos pela pele do pescoço de sua namorada.
 
-- Por que tudo que eu faço você acha que é porque eu quero sexo? -- Any questionou.
 
-- E não quer? -- Savannah  perguntou, arqueando uma sobrancelha e fitando as orbes castanhas.
 
-- Quero, mas... -- Any bufou e seus ombros caíram. -- Preciso ser menos previsível. -- Savannah  gargalhou ao ouvir aquilo. Sua risada cessou ao ver Sofya correndo em direção ao caminhão enquanto arrumava a alça de sua blusa.
 
-- Cheguei, cheguei! Podemos ir. -- Ela disse, entrando às pressas no caminhão. Cristal pulou atrás dela e Savannah  deu um selinho em Any, apenas para dar a volta no caminhão e ligá-lo.
 
-- Vamos para casa, garotas. -- Savannah  disse sorrindo, buzinando para Malcon antes de dar partida no veículo.
 
E a viagem de volta aconteceu da mesma forma em que tudo começou: Na estrada.