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Savannah  piscou lentamente. Em quê, Any poderia ter mentido para ela? A garota não trajava o perfil de mentirosa, pelo contrário, sempre fora bem direta e sincera em relação aos seus pensamentos.
 
-- Como assim mentiu? Ao que se refere? -- Savannah  perguntou com cautela, vendo o rosto da menor tomar uma coloração rosada.
 
-- Sobre o carro e o celular. -- Ela disse, fitando as próprias mãos por um momento. -- Eu não fui roubada, eu os vendi.
 
-- E por quê? -- Savannah  perguntou. A menor exalou o ar de seus pulmões e Savannah  percebeu seu tom de voz baixar um decimal.
 
-- Porque a dívida da minha mãe era muito alta e eu, bem, não tinha outra forma de pagar. -- Confessou, coçando um dos olhos. O sono era evidente nela. -- Fui expulsa da casa onde eu morava na Flórida porque atrasei o aluguel e passei a viver em meu carro, mas antes de eu sair chegou a notificação da morte de minha mãe e da dívida. -- Savannah  balançou a cabeça digerindo as novas informações.
 
-- Posso, huh, te fazer um pergunta? -- Savannah  perguntou e Any assentiu. -- Como conseguiu aqueles machucados?
 
-- Pedindo carona. -- Ela confessou baixinho, com a voz frágil e voltando a fitar suas mãos. -- Um grupo de mulheres achou que eu era, você sabe, prostituta porque eu estava pedindo carona de noite na beira da estrada e com um vestido. -- Savannah  abriu a boca incrédula e sentiu seu sangue fervilhar ao imaginar alguém machucando Any . -- Elas pararam e, o resto você sabe. -- Disse enrubescendo mais. -- Queimaram minha mala de roupas também, por isso eu só tinha um vestido. Agora tenho dois, Sofya me deu o outro.
 
-- Então veio para cá para pagar o hospital com o dinheiro do seu carro e celular?
 
-- Sim, eu já não tinha nada lá mesmo. Tentei pedir carona para voltar, mas ninguém parou desta vez. -- A garota disse, soltando um suspiro derrotado. -- Então retirei algum dinheiro do que eu tinha guardado e estou limpando vidros. Pelo menos tenho o que comer.
 
-- Onde dormiu? -- Any realmente se sentia embaraçada com tal situação, pois cada vez corava mais.
 
-- Na rua. -- Savannah  sentiu seu coração se comprimir ao ouvir aquilo tudo. -- Eu tentei te contar aquele dia no restaurante, mas fiquei com vergonha ou medo de você me xingar por ter mentido. -- A garota parecia tão derrotada e abatida que a qualquer momento desmoronaria, Savannah  tinha certeza.
 
-- Ny, eu jamais faria isso. -- Savannah  disse, tocando em suas mãos suavemente.
 
-- Desculpe ter mentido. Eu geralmente não sou a favor de mentiras, mas eu tentei dizer a verdade e acabei apanhando e... -- Savannah  puxou Any para seus braços quando viu que a menina havia começado a chorar. Ela não se importou em colocar Any em seu colo, mesmo tendo algumas poucas pessoas olhando para elas.
 
-- Não chora, por favor... -- Savannah  pediu baixinho, acariciando as costas da menor.
 
-- Eu estou tão cansada disso tudo. -- A menor disse entre o choro, afundando seu rosto no pescoço de Savannah ; seu choro aumentou a intensidade, no entanto, ainda era baixo; Any não gostava de chamar a atenção.
 
-- Você deveria ter me dito isso antes, Ny. Eu jamais teria te deixado só, eu esperaria sem problema algum você efetuar o pagamento e depois a gente daria um jeito.
 
-- Desculpe. -- Any lamuriou novamente; pequenos soluços escapavam por entre seus lábios; ela não queria chorar, mas foi inevitável.
 
-- Não se desculpe, tudo bem? -- Savannah  perguntou e Any assentiu. -- Vai ficar tudo bem agora. Entendido? -- Any desencostou-se do ombro de Savannah  e assentiu, levando uma mão ao rosto para enxugar as lágrimas.
 
[...]
 
Após acalmar a menor, a comida finalmente chegou e elas comeram quietas, Any se sentou em seu lugar e vez ou outra Savannah  contava algo para descontrair, fazendo Any rir.
 
-- E Sofya decidiu ficar lá. Iria transar, com certeza. -- Savannah  disse revirando os olhos, fazendo Any rir novamente.
 
-- Não acredito!
 
-- Sim, acredite. Não sei como fizeram, o homem parecia ter um braço entre as pernas. -- Outra gargalhada não tão alta de Any ecoou no lugar, fazendo Savannah  sentir seu estômago se revolver em êxtase ao ouvir tal som.
 
-- Andou reparando na bagagem dele, hm? -- Any perguntou sugestivamente, fazendo Savannah  revirar os olhos.
 
-- Era como se ele tivesse três pernas. -- Savannah  disse horrorizada. -- Eu não tinha reparado até o meninão dele começar a ganhar vida própria. -- Disse fazendo uma careta.
 
-- Acabamos de almoçar, não fale coisas nojentas na mesa. -- Any brincou e Savannah  riu, respirando fundo e se levantando.
 
-- Vamos?
 
-- Vamos. -- Any disse tristemente.
 
-- As meninas não vão acreditar quando te verem. -- Savannah  disse, deixando o dinheiro sobre a mesa. Any lhe olhou confusa.
 
-- Como assim? Elas virão para cá? -- Any perguntou confusa.
 
-- Não, Any . Você vai para lá comigo. -- Savannah  disse, vendo as orbes castanhas se arregalaram surpresa. -- Você realmente acha que eu te deixaria aqui sozinha?
 
-- Savannah , eu não tenho como retribuir. -- Any avisou sinceramente. -- O único dinheiro que tenho eu estou ganhando limpando os vidros. -- Savannah  sorriu de forma terna e esticou a mão para Any , que segurou um pouco relutante.
 
-- Eu só quero que nunca mais chore daquele jeito, morena. Se você estiver feliz e segura já estará me retribuindo. -- Savannah  disse e Any se levantou também, se jogando nos braços de Savannah  e a abraçando fortemente.
 
-- Você é o melhor ser humano deste mundo. Obrigada, Sav. -- A menor disse, se arrepiando ao sentir Savannah  lhe dar um beijo na curva de seu pescoço.
 
-- Agora vamos. -- Savannah  disse, se afastando do pequeno corpo e recolocando o chapéu em sua cabeça, já Any pegou suas próprias coisas.
 
E de dedos entrelaçados, saíram do estabelecimento. Any sorriu sem Savannah  ver, pois era a primeira vez em dois dias que sentia seu estômago completamente cheio, mas também sorriu por ter voltado a ver Savannah . Ela jamais imaginou que aquilo poderia acontecer, afinal ela era uma azarada de mão cheia e em sua vida só costumava acontecer coisas ruins.
 
Seu coração se acelerou quando sentiu Savannah  acariciar com o polegar sua mão. A maior realmente se importava com ela, Any podia sentir. Não era dó, não era pena, era afeto. Puro e verdadeiro.
 
E muito bem retribuído.

Destino Incerto (Savany) Onde histórias criam vida. Descubra agora