Capítulo 32

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William
Victória: Essa é a idéia mais estúpida que vc já teve, William, e olha que vc já teve algumas muito ruins nessa vida.
William
Victória bate com a xícara de café na mesa, enfurecida pela minha sugestão.
Eu não reajo porque estou entorpecido, mas minha idéia "estúpida" é a melhor chance de ver Maitê melhorar.
Ela despertou há três dias. Três dias de lágrimas, frustrações e desesperança. Para nós dois.
Eu já estive naquele quarto estudando-a, observando sua mente girar, vendo-a estreitar os olhos e ofegar enquanto luta para recuperar suas lembranças perdidas. Ela tem se tratado com um terapeuta que quer dar continuidade às sessões depois que ela deixar o hospital. Maitê não pareceu muito convencida quando agendou uma nova consulta. Eu não a culpo. Foi uma hora de estresse para nós dois, cada pergunta feita pelo terapeuta resultando em lágrimas da Maitê e agonia para mim.
Ela não consegue se lembrar de nada sobre nós.
O médico diz que ela está pronta para ir para casa, mas ela está indo para casa com um homem que ela basicamente conhece há três dias e dois filhos que são estranhos para ela. A dor que esse pensamento causa em meu peito é excruciante, mas é assim que as coisas são. Estou sendo cem por cento honesto comigo mesmo e com a Victoria.
Maitê não nos conhece. Essa é a verdade nua e crua.
William: Eu não quero que meus filhos se sintam como eu me sinto, Victória. Eu não quero que vejam a mãe olhando pra eles como dois estranhos, porque é muito sofrimento.
Victoria: Mas o médico disse que ela precisa estar ao lado da família pra ajudá-la a se lembrar.
William
Bato o punho na mesa, dominado pela frustração. Sinto apenas um pouco de culpa quando a mãe da Maitê pula na cadeira.
William: Ela acha que tem vinte e poucos anos, pelo amor de Deus! Na cabeça dela, ela ainda é solteira, em início de carreira. Tudo depois disso desapareceu e eu vou mover montanhas para assegurar que ela encontre a mim e aos gêmeos em meio ao caos que é a cabeça dela.
William
Respiro fundo e me deixo afundar na cadeira, permitindo que o silêncio se instale entre nós. Ver minha sogra sem palavras é uma novidade para mim.
William: Estou pedindo que leve as crianças de férias. Mantenha a mente delas ocupadas. Deixe que seja crianças. Eu te prometo, Victória, eu juro, eu sei que se conseguir reacender  lembranças de mim e de Maitê, como nos conhecemos, como nos apaixonamos, o resto virá à tona naturalmente. Vc precisa confiar em mim. Eu já falei com a escola. Eles foram compreensivos e solidários, dadas as circunstâncias.
Victoria: Quanto tempo quer?
William: Uma semana, talvez duas. Não sei.
William
Talvez todo o tempo do mundo não seja o bastante. Talvez as lembranças tenham se perdido para sempre. Eu estremeço por dentro. Não. Tenho que ser otimista. E não há maneira alguma de eu sobreviver muito tempo sem meus filhos por perto.
William: Vamos nos falar todos os dias. Por favor, Victoria. Eu preciso desse tempo.
William
Os lábios de minha sogra tornam-se uma linha fina. Percebo que ela tem dificuldade em deixar outra pessoa tome conta da filha dela, sempre teve, mas ela precisa me dar carta branca desta vez.
Victoria: E o que planeja dizer às crianças, já que elas acham que vão pra casa com a mãe hoje à noite?
William
Ela não vai me fazer duvidar de mim mesmo. Eu sei o que é melhor para minha família.
William: Vou conversar com eles. Eles vão entender.
Victoria: Vc espera que eles entendam, William. O mundo deles também virou de cabeça pra baixo. Eles precisam do pai, assim como precisam da mãe.
William
Passo a mão na barba já crescida demais sobre minha mandíbula, tão incrivelmente exausto. Será que a vida não me desafiou o bastante?
William: E eu vou trazer nós dois de volta prometo. Porque, neste momento, nem Maitê nem eu somos nós mesmos.
William
Colocando a bolsa no colo, Victoria me estuda do outro lado da mesa. Provavelmente se perguntando de onde estou tirando forças, já que certamente pareço tão mal quanto me sinto.
Victória: Vc esta acabado.
William
Seu insulto é uma forma de dizer que concorda sem ter que literalmente proferiu as palavras, típico de uma sogra.
William: É, bem, os últimos dias tem sido difíceis. (Suspiro, correndo os olhos pelo café, quando avisto os cabelos pretos de Ana. Ela nos procura por alguns segundos antes de me ver. Então me oferece aquele sorriso compadecido que têm me dado toda vez que a vejo desde que Maitê foi internada.
Ana: Oi, alguma novidade?
William: Qual? Tipo se minha esposa já sabe quem eu sou? (Indago, levantando-me da cadeira. Nenhuma das duas responde minha pergunta sarcástica, ambas permanecendo em silêncio e incomodadas.
William: Vou buscar as crianças. Conversar com elas.
Victória: Onde elas estão?
William: Com os meus pais. (Dou um beijo em Victória, apertando de leve o braço dela em sinal de agradecimento. E sei que ela aprecia minha gratidão quando aperta o meu em retribuição.) Eu ligo pra vc.
Victória: Está bem. (Solto ele e vou em direção ao quarto da minha filha.)
Ana: Vou dar a ela um tempo com Maitê antes de ir pra lá. (Dou o braço a ele.) Vamos, eu te acompanho até seu carro. 
William
Deixo que a barriga de Ana indique o caminho para o estacionamento, tentando não pensar no que vem pela frente. É perda de tempo. Nada pode me preparar.
Ana: William, é preciso que vc saiba que o acidente foi notícia ontem no jornal local. Eles mencionaram Maitê, vc, até mesmo o hotel. E a perda de memória dela. Estão convocando testemunhas.
William: A polícia já me disse que ela estava sem o cinto de segurança, ainda estou furioso com isso, mas impossibilitado de extravasar. Aparentemente, ela estava procurando o telefone na bolsa. (Engulo em seco, segundo a raiva.) Ela tem bluetooth. Não entendo por que ela precisava do telefone.
Ana: Uma mensagem de texto. Um e-mail.
William
Aceno com a cabeça, embora não haja desculpa que torne o descuido dela aceitável.
William
Victoria e Osvaldo vão levar as crianças pra praia por uns dias (sinto seu olhar de surpresa em mim.) Tudo isso é muito pra Maitê, Ana (Começo a explicar, esperando que ela entenda meus motivos.
William: Posso ver como ela está oprimida. Eu, os filhos, doze anos de lembranças perdidas de sua vida. Vc é uma das únicas pessoas em torno dela agora que ela efetivamente conhece.
Ana: Então o que vc vai fazer?
William: Ela pode nunca mais recuperar a memória, Ana. (Encolho os ombros e me preparo para o que vou dizer depois, assombrado.) Eu sou um estranho para ela. Um homem qualquer. Então tenho que ir ao começo de tudo e tentar fazer com que ela se apaixone por mim outra vez. (Ana toca meu braço.)
Ana: Vc já fez isso antes. Pode fazer de novo.
William
Dou uma risadinha, vendo além da melhor amiga de Maitê.
William: Agradeço todos os dias a sorte de tê-la encontrado, Ana. Que, apesar de todos os meus defeitos, ela me amou. (Dou um sorriso tenso, que traduz a tristeza que sinto.) É um milagre insano ela ter me aceitado, pra começo de conversa. Sinto que ela foi minha chance em um milhão. E se a minha chance acabou? E se eu não conseguir fazê-la enxergar? (Engo a mão e aperto o punho cerrado contra o peito, tentando domar a dor crescente.) Seria o meu fim.
Ana: Onde está o William Levy que eu conheço e amo? (Dou um soquinho no braço dele.)
William: Ama?
Ana: Sim, amo (Dou outro soquinho nele) A derrota não lhe cai bem, William. Maitê não se casou com um homem que desiste facilmente. Na verdade, eu acho que vc vai descobrir que ela se casou com você exatamente porque vc não desistiu. Um homem que não está nem ai para o que as pessoas pensam. Um homem que passa por cima de tudo à sua frente pra conseguir o que quer. Vc a quer de volta?
William: O quê? (olho perplexo para ela.)
Ana: Sua esposa. Vc a quer de volta?
William: Que pergunta idiota. E pegue leve nos socos, está bem? (Ela ignora minha bronca e aponta um dedo no meu rosto, forçando-me a dar um passo atrás ou o teria enfiado em meu olho. Ana Brenda é uma dessas pessoas que é impossível não respeitar, mesmo que nem sempre concorde com ela. E agora estando grávida, é mais sábio não discutir com ela.
Ana: Então faça o que sabe fazer de melhor e lute por ela. (Ajeito a bolsa no ombro, me esforço para disfarçar meu lábio trêmulo.) Minha melhor amiga não se casou com um covarde de merda.
William
Arregalo os olhos e então dou uma risada. Chame-me do que quiser, mas jamais me chame de covarde de merda.
William: Olha essa boca, porra. (Esbravejo em voz alta, mas timidamente, atraindo a atenção de várias pessoas à nossa volta, não que isso me incomode muito.)
William
Ana Brenda me deixa e vai embora a passos rápido. Ou o quanto uma mulher em fim de gravidez é capaz de ser rápida.
Ana: Guarda isso pra sua mulher (Grito por sobre o ombro.)
William: Eu não sou um covarde de merda! (Disparo no ouvido de um senhor estúpido o bastante para se aproximar de mim. Ele quase pula de susto e sai de perto depressa. Não há espaço para culpa. Era ele ou Ana, e Ivan me esfolaria vivo se eu a assustasse. Corro para o carro, abro a porta com força e me jogo no assento, olhando pelo espelho retrovisor. Olha o estado em que estou. Não estou exatamente aumentando as chances de minha esposa se apaixonar por mim, com essa cara. Preciso dar um jeito em mim. Com urgência. Preciso fazer isso antes de ir buscar as crianças. Elas têm que me ver o mais normal possível, para que, quando lhes explicar o que está acontecendo, elas saibam que estou cem por centro comprometido e preciso que elas estejam também.
Continua...
Esse capítulo é dedicado a Prisci079 Parabéns linda tudo de bom hoje e sempre que vc realize todos os sonhos  que Deus te abençoe grandemente te amo muitos beijos  ❤😘😘😘   

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