Capítulo 57

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William
Maitê teve uma ressaca terrível no dia seguinte.
Eu tive que rir.
Não consegui evitar.
Mas dias depois, ela ainda parecia um pouco fora do normal.
Eu, claro, liguei para o médico dela para verificar se não estava deixando algo passar, e ele me garantiu que estava tudo bem.
Apenas algo que estava no ar, aparentemente.
Ela não esta bem há quase uma semana, embora tenha conseguido ir à ioga ontem.
Eu estava em dúvida, mas ela insistiu.
Até permiti que ela fosse tomar um café com aquela nova amiga dela.
Está vendo?
Sei ser sensato.
Olho para as crianças, que estão tomando café da manhã.
Estou achando-as um pouco pálidas também.
Ou estou sendo paranóico?
William: Vocês dois estão se sentindo bem? (Os dois fazem que sim com a cabeça, mas nem sequer olham para mim, com os olhos grudados em seus tablets.
Vou até eles e tiro os aparelhos das mãos deles, recebendo como resposta dois choramingos.) Banho.
Vamos ao casamento do tio Eugênio hoje. (Eles resmungam e saem arrastando os pés.) crianças boazinhas. (Dou um sorriso sem-vergonha e ambos me fuzilam antes de desaparecerem.
O telefone da Maitê toca e eu o pego da mesa, olhando para a tela ao subir a escada para ver como está a minha esposa.
William: Zara (digo em voz alta e atendo o telefone.
Hora de me apresentar à nova amiga.) Olá. (Ouço um falhar e então o celular fica mudo.
Olho para a tela com a testa franzida e vejo o momento em que chega uma mensagem.)
Ligue pra mim quando estiver livre. Só queria saber como você está.
William
Tomo a liberdade de responder por Maitê.
É o William. Marido da Maitê. Estamos a caminho de um casamento. Direi a ela pra te ligar amanhã.
Ah! O famoso marido. Ouvir falar demais de você. ;-)
William
Ela piscou para mim?
Olho desconfiado para o celular, perguntando-me o que exatamente Maitê anda contando para ela que mereça uma piscadela.
Não sei, mas preciso me lembrar de perguntar.
Fico surpreso quando encontro Maitê sentada diante do espelho, alisando os cabelos.
William: Você parece mais animada. (Jogo o celular da Maitê na cama e me sento atrás dela, com um joelho de cada lado, aproximado-me até ficar com a pélvis colada ao seu cóccix.)
Sua amiga da ioga te mandou uma mensagem de texto.
Eu disse a ela que você ligaria amanhã.
Maitê: Você leu e respondeu uma mensagem minha?
William: Sim. (Não demonstro arrependimento algum, porque não o sinto.) Então, o que tem dito à tal Zara sobre mim?
Maitê: Disse que você é possessivo, irracional e controlador, mas é tudo porque você me ama com cada osso do seu corpo.
William: E cada gota de sangue nas minhas veias. (Acrescento, olhando para ela com malícia, olhar que esmaece quando noto que ela não o retribui.
Ela parece pensativa.) Ei! O que houve?
É sua cabeça?
Ainda está se sentindo mal? (Merda, será que ela teve um lampejo e não me contou por que está em choque?
Horrorizada?
Ou ainda pior, questionando por que ainda está casada comigo?
Pilhas e pilhas de razões para o seu desânimo caem sobre mim de uma vez e filtro as informações, tentando reduzi-las a algo óbvio.
Maitê: Estou grávida.
William
Tudo menos isso.
Há uma espécie de bloqueio entre meu cérebro e minha boca, que me deixa incapaz de falar.
Grávida?
Como?
O bloqueio subitamente se desaloja e começo a tremer como um infeliz, com o corpo frio.
William: Desculpe, o quê? (Os olhos dela, espertos porem cautelosos, estudam-me pelo reflexo.)
Maitê: Eu...estou...grávida.
William
Desta vez ela enuncia bem as palavras, como se eu não tivesse pegado a da primeira vez.
Grávida. Grávida. Grávida.
William: Grávida (Finalmente consigo dizer, engolindo um nó.) Como? (Ela dá de ombros, parecendo um pouco tímida.)
Maitê: Os antibióticos, eu acho.
Às vezes, eles interferem na eficácia da pílula.
William: Puta merda. (Respiro fundo, batendo com o punho fechado na testa.
A ironia não me passa despercebida.
Nem a Maitê, a julgar pela retorcer de lábios.
Quando nos conhecemos e ela virou meu mundo de cabeça para baixo, passei semanas roubando suas pílulas sorrateiramente, em uma missão selvagem e ousada de engravidá-la, para certificar-me de que a teria para sempre.
Não foi uma gravidez acidental, ao menos não de minha parte.
E não mudaria coisa alguma.
Adoro meus filhos, jamais ficaria sem eles, mas isso não significa que eu queria mais.
Maitê: Sabia que você não aceitaria bem.
William
O murmúrio suave da Maitê invade a balbúrdia que são meus pensamentos.
Estou impressionado com a calma dela.
Por que ela não está surtando comigo?
Continua...

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