William
Estou preparando café novamente, fazendo todo o barulho possível para preencher o silêncio, quando Maitê aparece na cozinha. Fico surpreso com a determinação estampada em seu rosto. Ela para e seus olhos brilham diante a visão do meu peito nú. Seu olhar vai baixando e o brilho desvanece quando ela aponta para o meu abdômen. Ou para as duas cicatrizes que o desfiguram.
Maitê: O que aconteceu?
William
Eu olho para baixo. Não sei por quê.
William: Nada. (Balanço a cabeça e volto minha atenção a Maitê, ainda despreparado para falar sobre isso. Além disso, sei que ela não chegou aqui toda resoluta para falar das minhas cicatrizes. E a primeira vez que ela as vê desde o acidente.
William: Tudo bem? (Depois de balançar a cabeça também, ela se recompõe, ficando ereta e confiante.
Maitê: Conte-me como nos conhecemos. Quero que me conte tudo.
William
Eu me sento cautelosamente no banco, dividido entre a alegria por ela ter perguntando e o medo da pressão de ter que responder. Foi tudo tão intenso, um redemoinho imenso de emoções e sentimentos, que pensar em contar a nossa história de repente parece assustador.
William: Não sei por onde começar, Maitê (admito, quando ela se junta a mim, sentando em outro banco. (Me aflige a ideia de não fazer jus á nossa história. Ela inspira, pensativa, os olhos analisando o meu rosto.
Maitê: Então mostre pra mim.
William
Dou um risada nervosa.
William: Acho que você não está preparada pra isso. (Não quero fazê-la surtar em meio a esse turbilhão que ela está vivendo. Agora não é como quando nos conhecemos. Não posso passar por cima dela como um rolo compressor, como fiz aquela época. Ela está vivendo um momento delicado. Frágil. Sinto como se todo o nosso futuro dependesse de como vou abordar o assunto.
Maitê: Preparada pra quê?
William
Fecho os olhos e engulo em seco.
William: Para o meu jeito.
Maitê: Seu jeito?
William: Sim, meu jeito. (Abro os olhos e encontro os dela. A maneira como ela me olha apenas serve para amplificar minha preocupação.
Ela não sabe como interpretar isso. Ou a mim.
William: É assim que você chama (explico) O "Meu jeito" (prossigo quando ela curva a cabeça, inquisitiva.) Eu sou irracional. (Dou de ombros.) Aparentemente. (Respiro fundo, o que me ajuda a continuar.
Um controlador. (Volto a encolher os ombros.) Aparentemente. (Já está difícil e eu mal arranhei a superfície.) Eu sou possessivo e quero tudo do meu jeito e... (Aperto os lábios quando ela arregala um pouco os olhos.) Aparentemente. (Digo baixinho.)
Maitê: Você disse "aparentemente" vezes demais.
William: Aparentemente (murmuro e desvio o olhar do dela, relutante em expressar tudo o que ela precisa saber.) Que merda! (Arfo, frustado.)
Maitê: Você falar muito palavrão, também.
William
Meus olhos voltam para ela em um segundo e encontram um olhar desaprovador. Eu poderia rir, mas decido tossir.
William: Mas você não, que fique registrado. Quase nunca, na verdade. (Eu me recuso a sentir culpa por mentir tão descaradamente. Isso pode significar o fim de sua boca suja.)
Maitê: Eu não falo palavrões?
William: Jamais. (Balanço a cabeça. Ela dica imersa em pensamentos por um momento e então inspira uma quantidade tamanha de ar me preocupo com o que vai dizer em seguida, já que precisa de tanta preparação.)
Maitê: Estou pronta (declara ela.)
William: Pronta pra quê? (Estou perdido.)
Maitê: Pra você me mostrar.
William
Ela morde o lábio, sem tirar os olhos de mim, enquanto eu tento compreender o que é que ela está pedindo para fazer.
William: Eu não tenho tanta certeza, Maitê.
Maitê: Eu tenho.
William
Ela se aproxima mais de mim e pousa a mão no meu peito, forçando-me a respirar fundo por causa do contato.
Maitê: Tenho um vazio sem tamanho na cabeça. É onde você e as crianças deveriam estar, e está me matando não vê-los ali dentro.
William
Ela me empurra de leve, trazendo o rosto para perto do meu.
Maitê: Você está aqui, na minha vida, mas não aqui dentro.
William
Ela bate com o dedo na própria têmpora e, mesmo suave, o toque traz uma careta de dor em seu rosto. O movimento lembra a nós dois de que ela precisa ir com calma. Seus ferimentos visíveis ainda não estão totalmente curados também.
Maitê: E sei que você tem que estar aqui. Ver aquelas fotografias só tornou esse instinto ainda mais forte.
William
Sua voz treme outra vez e eu afasto a mão dela da cabeça, segurando-a com força na minha.
Maitê: Preciso que você faça o que for necessário.
William
Sua determinação, ainda que expressa com a voz derrotada, me transtorna. Então eu me lembro de quem está diante de mim. Posso ser um estranho para ela, mas ela ainda é minha esposa. A mulher mais forte que já conheci. Eu não estaria na vida dela se não fosse assim, nem ela na minha. Ela já me atacou antes, tomou para sí tudo o que eu tinha para dar.
William: Tudo o que for necessário? (Rebato, só para ouvi-la repetir a frase.
Só para eu saber que estamos falando a mesma língua.
Maitê: O que for necessário
William
Confirma ela, com as palavras e com a cabeça. Ela está me dando permissão. Dizendo que está tudo bem se eu for... Eu mesmo?
William: Sem pressão, então? (Dou uma de engraçadinho, pensando por onde começar. A resposta me vem imediatamente. Vá tomar um banho. Vamos dar um passeio.
Continua...

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Submissa
Fiksyen PeminatEle a quer e esta determinado a te-la. Maitê sabe que está prestes a entrar em um relacionamento intenso e conturbado, mas o que fazer se ele não a deixa ir? ⚠️ Plágio é crime ⚠️ Essa história é de minha autoria.