William
Como esperado, o grupo está nos aguardando quando chegamos, todos sentados em torno de uma mesa de canto, com dois assentos reservados para mim e Maitê.
Assim que Ana nos vê, ela se levanta da cadeira e acolhe Maitê em um abraço, aproximando-se tanto quanto a barriga permite.
Ana: Como é bom te ver.
Maitê: Ainda somos tão jovens na minha cabeça.
Ana: Como está indo a ioga?
Maitê: Ótima. Conheci uma moça, Zara, um amor de pessoa, e ela mencionou que a empresa para a qual trabalha está sempre à procura de novos decoradores. É provável que eu dê uma olhada nisso.
Ana: Isso é fabuloso!
William
Fecho o rosto mais ainda, mas desta vez para fulminar com os olhos a roupinha vulgar, pensando no que eu tinha na cabeça para deixá-la sair assim, antes de puxar a cadeira para ela.
William: Senta-se (Ordeno, recebendo vários olhares incrédulos de todos os lados da mesa.) Por favor (completo, entre os dentes. Maitê acomoda-se na cadeira, a tensão obviamente palpável, não somente por causa do meu problema com o vestido ou por ela estar falando de um emprego para o qual não vai se candidatar. É a primeira vez que nossos amigos a vêem desde o acidente. Ivan, Sebastian e Angel parecem nervosos, nenhum deles sabendo o que dizer para ela.
Maitê sente o clima, por isso me lança um olhar preocupado e depois suspira, voltando a atenção para eles, que aguardam em silêncio.)
Maitê: Prazer em conhecê-los
William
O grupo todo RI e a tensão diminuí como resultado de sua piada.
William: Bebidas? (Agito o braço no ar, chamando o garçom. Todos fazem seus pedidos de bebidas alcoólicas, exceto Ana. Inclusive minha esposa. Acho que não.
William: Água, por favor (digo ao garçom, indicando Ana e Maitê.) Pra mim também. E uma taça de vinho pra Angel. (Aponto para ela.)
Sebastian: Traga uma garrafa, por favor
William
A mão de Maitê toca meu braço e ela se estica, quase sussurrando.
Maitê: Eu quero vinho.
William
Ela pensa que eu não a ouvi. Eu a ouvi perfeitamente. Mas alto do que todos os que gritaram os pedidos para mim.
Sorrindo constrangido para o garçom, que parou de anotar os pedidos no seu bloquinho e olha para mim, viro-me para a minha esposa.
William: Vc não vai beber. (Meu tom é de advertência e seria melhor que ela tomasse conhecimento. Todos em silêncio. Assistindo. Nervosos.) Água (Olhos desviando de mim e de Maitê. Climão. Começo a morder o lábio, espiando pelo canto dos olhos. O olhar de pura indignação no rosto de minha esposa me faz estremecer. Porra, ela está enfurecida.)
Maitê: É melhor vc pedir o meu vinho, Levy.
William
Maitê se aproxima, o olhar cheio de fogo, fazendo-me recuar devagar. Ouço Ivan tossir para disfarçar uma risada e Sebastian bufar. Canalhas. Eles deveriam estar do meu lado. Ela acabou de sair de um acidente de carro horroroso. Beber álcool seria tolo, além de extremamente irresponsável de minha parte permitir que ela beba.
Maitê: Agora
William: Não é seguro. A última coisa de que precisa é de álcool pra embaçar sua mente já embaralhada.
Maitê: Embaralhada? Minha mente não está embaralhada, William. Peça vinho pra mim ou eu juro que...
William: Vc jura o quê?
Maitê: Eu... Eu não sei
William
Ela gagueja antes de encontrar a frase que estava buscando.
Maitê: Peço o divórcio
William
Dispara, com força. A mesa toda se agita e tem uma reação de susto, a minha mais forte. Maitê olha surpresa para todos.
Maitê: O que foi?
William
Ana balança a cabeça, querendo me dizer algo, e Ivan solta o ar que estava prendendo.
Ivan: Bandeira vermelha. Touro bravo à solta. É só o que eu digo.
William
Avisa Ivan, antes de desaparecer atrás do copo, enquanto eu luto para manter a calma e não destruir o restaurante como um tornado. Divórcio? Essa palavra foi banida da nossa vida.
Maitê: Bem... Eu só quero uma taça de vinho.
Sebastian: Ai vamos nós
William: Retira o que disse. (Exijo.)
Maitê: Peça vinho pra mim.
William: Não (ela segura o meu rosto pela mandíbula, apertando-me com força.)
Maitê: Peça.
William
Uma batalha de olhares que supera todas as outras nos mantém imóveis pelo que parece uma eternidade. Estou absurdamente irado, mas bem lá no fundo, para além da raiva, sinto-me feliz. Ela sempre soube quando me deixar vencer e agora não é uma dessas vezes. Ela está testando as águas. Está conhecendo o que é ser nós de novo. É um esforço. Um esforço imenso, mas...
William: Está bem. Vc pode beber uma taça (eu cedo, pensando que ela me pegou em um bom-dia e é melhor que aprecie.)
Maitê: Veremos.
William: Sim, veremos (concordo, arrancando os dedos dela do meu rosto, mantendo o olhar.)
Ana: Terminaram?
William
Ana suspira, aceitando a garrafa de vinho quando o garçom se aproxima, servindo Angel e depois Maitê, rapidamente, antes que eu mude de idéia. Não passa despercebido a ela o fato de que estou de olho na quantidade de liquido que preenche a taça dela.)
Ana: É bom ver que vc não deixou de ser vc.
William
Erguendo um brinde a todos, Ana bebe um gole de sua água.
Maitê: E então? Quando é o casamento?
William
Trocamos de lugar pra ela conversar com as amigas. Meu olhar endurece quando ela pega a taça e olha para mim por cima da borda com um sorriso secreto, enquanto bebe o primeiro gole. Ela vai pagar caro por isso.
Eu me junto à conversa, mas minha atenção nunca deixa a taça de vinho da Maitê. Faz semanas que não bebe e temos que ter bastante cuidado quanto a qualquer reação com os medicamentos que ela esta tomando. Uns poucos goles serão como algumas garrafas.
Maitê: Com licença. Preciso ir ao banheiro.
William
Eu me endireito na cadeira, cogitando acompanhá-la enquanto ela se retira.
Ela está mancando? Ou está cambaleando porque já está bêbada? Não sei e preciso ter certeza. De qualquer forma, ela precisa de ajuda. Faço menção de levantar.
Ana: William, deixe-a
William: Mas...
Ana: Deixe-a
William
Sua ordem é quase um aviso. Como se algum dia eu fosse lhe dar ouvidos. Exceto que, desta vez, decido acatar. Não sei por quê, mas acato. Meus olhos vão da mesa para as costas da Maitê algumas vezes e ela se afasta cada vez mais de mim. Estou arrasado.
Ivan: Eu a ouviria
William
Diz Ivan,apontando para a barriga de sua namorada com o copo de cerveja.
Ivan: Sinceramente, cara. Eu a ouviria.
William: E se ela cair?
Ana: Ela bebeu uma taça de vinho. Agora sente-se.
Sebastian: Vamos, William. Saiba os seus limites, meu amigo.
William
Eu me deixo cair com força na cadeira.
William: Eu não sei de mais porra nenhuma (Admito, com a cabeça apoiada nas mãos.) Eu não sei se algum dia ela vai se lembrar de mim, das crianças, da nossa vida. Não sei de nada e isso tudo está partindo meu coração. (Seguro o choro, seguro muito, mas uma lágrima traidora cai na mesa, dando-me a impressão de fazer um estrondo ao bater na toalha. Estou perdendo as força. Estou me desfazendo em pedaços em praça pública. Ana está ao meu lado em um segundo, segunda por Angel do outro lado. Duas mulheres correm para consolar o Bebezão.
Angélique: Não se deixe abater pelas suas frustrações. Não há como ela esquecer o que existe entre vcs dois. Não para sempre.
Ana: Será que vc não está exagerando? Sufocando-a?
William: Não. Eu estou dormindo no quarto de hóspedes. Permito que ela use esse vestido ridículo. E agora ela está bebendo vinho mesmo que eu acho que ela não deveria estar bebendo. Não se pode dizer que eu a estou sufocando. (Eu fungo e tomo a minha água, desejando poder substituir por algo mais forte. Muito mais forte.
Ivan: Ela vai chegar lá. Mantenha esse ritmo.
William: Sim... (Engulo a minha frustração e me endireito. O que foi que tomou conta de mim? Choramingando como um bebê diante dos meus amigos.
William: Ai está ela. (Esfrego os olhos rapidamente, ao mesmo tempo que Ana e Angel voltam aos seus lugares.
Sebastian: Não se preocupe. Não vamos contar pra ela que vc estava chorando.
William: Foda-se (puxo a cadeira para mais perto e ela vem, aproximando naturalmente até meus lábios tocarem sua face.) Desculpe (suspiro contra a sua pele.) Eu fico preocupado, é só isso. (Ela me olha e sorri, acariciando o meu rosto de leve.)
Maitê: Eu tenho vc comigo, então ficarei bem, certo?
William: Certo. Precisamos fazer as pazes. Beija-me. (Ela não questiona a minha ordem. E eu sei que é mais por instinto do que por querer ser espertinha ou tentar me acalmar. O beijo é apenas um selinho caprichado, mas mesmo assim sou engolido inteiro, capturado no momento. Até que uma tosse interrompe minha alegria. Em torno da mesa, vejo todos nos observam. Esperando. Sorrindo.
Maitê começa a brincar com o seu guardanapo e eu volto para minha cadeira, sorrindo ao ver que ela está corando.)
Maitê: Desculpe.
Ana: Mais vinho?
William: Vá com calma, baby.
Maitê: Eu estou bem.
William
Uma hora mais tarde, ela não está nada bem e eu estou furioso comigo mesmo por ter recuado. Não sou teimoso apenas por diversão. Sempre há razões perfeitamente válidas para eu insistir em algo, e a razão para eu não querer que ela bebesse fica evidente quando ela se levanta cambaleando. É bom que Ana não tente me impedir desta vez. Lançando um olhar fulminante para cada um dos meus amigos, para que fique cientes de que os estou culpando por isso, pego Maitê pelo cotovelo e a conduzo para o banheiro.
Maitê: Eu não estou bêbada.
William: Fique quieta (resmungo, entrando com ela no recinto e abrindo a porta de uma das cabines.) Já pra dentro. (Fico no lugar da porta em vez de fechá-la, segurando uma de suas mãos enquanto ela baixa a calcinha com a outra.)
Maitê: Está sorrindo por quê?
William: Só estou surpreso por vc não me mandar sair.
Maitê: eu nem pensei nisso. Além do que, tivemos filhos juntos. Suponho que vc estava lá na hora do parto.
William
Minhas bochechas doem com o meu sorriso, lembranças carinhosas do dia em que meus bebês nasceram vêm à minha mente como se tivesse acontecido ontem. O tempo passou voando.
William: Foi o dia mais lindo da minha vida. E o mais estressante. (Pego um pedaço de papel higiênico e ofereço a ela, para em seguida ajudá-la quando ela termina.) Acho que é hora de ir pra casa.
Maitê: Mas está sendo uma noite deliciosa. Ouvir todas aquelas histórias.
William: É tarde.
Maitê: Mandão. Posso beber mais uma taça antes de irmos?
William: Não. Vamos embora agora. ,(abraço minha mulher com um braço enquanto tiro a carteira do bolso com a outra mão e pego algumas notas com os dentes. Maitê as arranca da minha boca antes que eu tenho chance de cuspi-las.)
Maitê: Ele não vai me deixar beber mais uma (jogo o dinheiro na mesa.) Que tédio.
Ana: Só a saideira, William. Ela só está alegrinha.
William: Alegrinha pra mim é o mesmo que bebeda.
Maitê: Eu estou me divertindo. Não há muito que me faça feliz neste momento. Estou casada com um homem que não conheço, não reconheço meus filhos e perdi doze anos da minha vida.
William
Todos se encolhem na mesa. Eu os ignoro e também ignoro minha esposa, pondo as mãos nos seus ombros enquanto mordo a língua.
William: Diga adeus
Maitê: Tchau!
William
Eu a faço dar meia-volta e passo a guiar seus passos para fora do restaurante. Preciso reverter isso antes que eu perca a paciência. Estou tão perto.
William: Vc vai ganhar uma transa de castigo, mocinha. (Abro a porta e olho muito sério para ela quando ela me fita com os olhos baixos.
William: Está imaginado a coisa toda: nós dois trepando enquanto ela está algemada à cama.) o que mais está imaginado?
Maitê: Nada
William
Estou a ponto de pegá-la no colo, quando ela para abruptamente, fazendo-me colidir com as costas dela, lançando-a alguns passos à frente. Seguro-a pelo cotovelo e praguejo.
William: Porra, Maitê! Cuidado!
Maitê: Daniel?
William
Meu pescoço estala com a velocidade com que levanto a cabeça, e minha mão automaticamente sai do cotovelo dela para se instalar em sua cintura. Também dou um passo à frente e diminuo a já mínima distância que nós separava. A raiva sobe à superfície, piora pelo fato de que Maitê reconhece o babaca que ela namorava antes de me conhecer. É um chute na boca. Um taco de beisebol no estômago. Apenas mais combustível para minha fúria.
Puta que pariu, alguém me segure.
Daniel: Maitê?
William
Ele da um passo à frente, ignorando a minha presença. Sou muito mais alto que Maitê, cabeça e ombros acima dela, é impossível não me ver, a não ser que algo mais prazeroso roube sua atenção, e minha esposa, especialmente usando um vestido curto ridículo, é certamente uma visão mais prazerosa que eu.
Daniel: Uau, vc está linda.
William
Ela se move em frente a mim. Estaria querendo se desvencilhar? Ou estará nervosa? Não sei, mas não gosto de pensar em qualquer das duas possibilidades, então seguro sua cintura com mais firmeza. Ela não vai sair daqui, mas Daniel vai, se não sumir logo. Tipo ser lançado para o espaço, catapultado por um soco meu.
Maitê: Obrigada, Daniel.
Daniel: Li no jornal que vc esteve envolvida em um acidente. Pareceu bem grave. Mas tenho que dizer que vc está ótima.
Maitê: Estou melhorando. Vc é que está muito bem. Como andam as coisas?
William
Sério? Eu vou ter que ficar aqui sobrando enquanto a minha esposa e seu ex matam as saudades? De jeito nenhum. Nem por cima do meu cadáver. Ou talvez por cima do cadáver do Daniel, por que vou matá-lo.
William: Vamos embora. (Puxo Maitê, mantendo o olhar mortal em Daniel, enquanto a afasto dele. Daniel finalmente olha para mim, e eu o faço pensar um pouquinho sobre o que aconteceu da última vez que veio atrás da minha esposa.)
Maitê: Isso foi rude, William
William
Eu a faço parar e me inclino até ficar olho a olho
William: Vc não se lembra do que ele fez com vc, mas eu lembro.
Maitê: O que ele fez?
William: Ele te traiu. Vc morava com ele, Maitê e saiu de casa porque descobriu que ele te traiu. É um babaca.
Maitê: Então ele me traiu,Vc me traiu.
William
Ela da uma risada
Maitê: O que há de errado comigo? E já que parece que te amo loucamente, a sua transgressão machucou mais! Então o único babaca que eu vejo aqui é vc, William. Só vc! E eu te odeio!
William
Posso ver que ela se arrepende das palavras quase imediatamente após dizê-las, pela linha fina que se tornam seus lábios, além dos passos atrás que ela dá para se afastar de mim. Acho, no entanto, que ela jamais terá a dimensão do quanto aquilo me magoa. Ela me odeia?
William: Vou atribuir a sua crueldade à quantidade de álcool que vc bebeu. Entre no carro. Agora. (Sem mais uma palavra, Maitê se senta no banco do passageiro e afivela o circulo. Entrando no carro com toda a força, dou partida e saio cantando os pneus e sem o menor cuidado, é péssimo pensar que o último homem de quem ela se lembra na vida foi um cafajeste. Mas as palavras dela? Olho para as minhas articulações dos dedos pálidas de tanto apertar o volante, a força que imponho não ajuda a deter minha raiva. Eu estou fora de mim. Seu comentário odioso me deixou psicótico. Meu humor não atingia esse nível há anos. Anos desde que saí e entrei em uma espiral de destruição. Sinto como se toda essa merda estivesse para transbordar. E ela sabe disso.
Continua...
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Submissa
Fiksi PenggemarEle a quer e esta determinado a te-la. Maitê sabe que está prestes a entrar em um relacionamento intenso e conturbado, mas o que fazer se ele não a deixa ir? ⚠️ Plágio é crime ⚠️ Essa história é de minha autoria.