Capítulo 40

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William
Os dedos da Maitê permaneceram agarrados ao couro do banco durante todo o caminho para casa, o que não me fez tirar o pé do acelerador.
Era o carro ou ela quem aguentaria a carga da minha ira, e gritar com ela não teria ajudado nenhum de nós.
Fico surpreso que a porta do Aston não tenha caído no chão em um grito de dor depois da força que usei para fechá-la. Maitê sai do carro com muito mais agilidade do que eu a imaginaria capaz, caminhando com dificuldade em direção à porta.
Eu me apresso para chegar até ela, o instinto de ajudá-la assume o controle e mantém a raiva domada.
Maitê: Eu posso andar.
William
Ela bate nas minhas mãos quando tento pegá-la no colo.
Maitê: Deixe-me sozinha.
William
Nunca a deixarei sozinha. Deixá-la sozinha seria como desistir e, no que diz a respeito à minha esposa, eu jamais desisto. Da maneira mais gentil possível, dou o bote e jogo-a sobre o ombro.
William: Esqueça, mocinha. (Seus punhos cerrados esmurrando as minhas costas são mais um sinal de que ela está tentando estabelecer um ponto de vista do que uma real vontade de escapar. Nós dois sabemos que ela não vai a lugar algum até eu soltá-la.
Maitê: Eu disse pra me deixar em paz!
William
Grita ela, metade frustada, metade histérica. É exatamente como eu me sinto por dentro. Meu corpo absorve cada golpe e sigo em direção à porta.
Maitê: William!
William: Cala a boca, Maitê (advirto, chutando a porta após destrancá-la.)
Maitê: Vc é um animal!
William: É a história da minha vida no que diz respeito a vc. (Eu a coloco de pé. Os punhos que socavam as minhas costas inutilmente agora começam a atacar o meu peito. E eu fico ali, parado de pé, sem me mover, deixando que ela grite e extravase toda a sua frustração.
Se pelo menos eu tivesse a mesma válvula de escape. Algo em que bater e alguém com quem gritar. Mas não tenho, então saboreio os golpes brutais no meu tronco, esperando que ela esteja extravasando a minha frustração também.
Ela bate sem dó, sua força estimulada pelo desespero.
E para mim, tudo bem. Eu seria o saco de pancadas da Maitê pelo resto de meus dias se isso a fizesse se sentir infinitamente melhor. Porque, em última instância, enquanto estou em frangalhos tentando navegar por esse território doloroso e desconhecido, o amor da minha vida está em situação pior. Enquanto eu tenho nossas lembranças às quais me apegar, ela não as tem. Enquanto eu tenho o rosto dos nossos filhos para imaginar durante esse pesadelo, cada momento da curta vida deles para lembrar, ela não tem. Enquanto eu tenho esperanças e reconheço o brilho de cada lembrança dela, ela não tem.
Meus pensamentos tomam a frente, e a raiva queima minhas entranhas à medida que ela contínua a me bater.  
William: Continue! (Urro e ela se assusta, afastando-se.) Pode me bater, Maitê! Não vai ser pior do que o que estou sentindo aqui dentro. (Eu mesmo esmurro meu peito.) Então pode me bater!
William
Fecho os olhos e ela volta a investir contra mim. Enquanto ela me agride, eu penso no poder que tem o nosso amor. Não é tão poderoso quanto sempre pensei porque, se fosse, passava por qualquer barreira. Mesmo essa.
Levo alguns segundos para me dar conta de que ela parou de me esmurrar e, quando abro os olhos, encontro-a ofegante diante de mim, seus cabelos desgrenhados ao redor do rosto, os olhos selvagens. Nós nos encaramos por um momento, eu sem expressão, ela claramente chocada com a própria explosão. Ou chocada por eu ter ficado aqui e aceitado o ataque. O que mais eu poderia fazer? Revidar? Bater nela também? Imaginar que ela possa pensar nisso como uma possibilidade me deixa enjoado. Faz com que eu queria ferir a mim mesmo para mostrar a ela que eu suportaria tudo antes de fazer qualquer coisa que pudesse lhe causar dor.
Vê-la diante de mim tão perdida e desesperada, obviamente se perguntando no que estou pensando, e eu saber o que se passa na cabeça dela apenas amplifica meu desespero. E minha raiva. Não aguento mais.
Deixo-a recompor-se no hall de entrada e adentro a casa direto para a sala de jogos, a mente fixa em uma coisa. A única coisa que vai me entorpecer. A única coisa que vai me tirar do meu pesadelo. Meus olhos miram a garrafa que no bar; o alívio que alguns poucos goles podem me proporcionar é tentador demais para recusar. Eu tiro o paletó e jogo no chão, depois afrouxo a gravata e abro o botão do colarinho.
Com os olhos ainda na garrafa, esfrego os cabelos com a mão. Lembranças há tanto tempo perdidas no entorpecimento causado pelo álcool voltam com força total. Preciso daquele torpor agora. Porque se a minha vida será assim daqui por diante, estou fora. Deu para mim.
Pego a garrafa de vodca e tiro a tampa, arfando. Uma gota de suor desce pela minha testa e a enxugo com a mão, trazendo o gargalo à boca. Apenas um gole. É só do que preciso. Um gole para começar a amortecer a dor.
Com as narinas dilatadas, bebo um gole grande e tusso, o álcool queimando a minha garganta. Ele bate forte no meu estômago e meus pensamentos voltam aos dias em que eu me perdia em uma névoa de álcool e mulheres.
Vejo-me nu. Com muitas mulheres, nenhuma delas é a minha esposa.
Maitê: William!
William
A voz ferida da Maitê corta meu flashback, arrancando-me dos dias decadentes do Solar e de volta à realidade. Seus olhos vidrados paralisam-me. Lindos olhos, os olhos cor de chocolate que me enfeitiçam e jamais me abandonam.
Maitê: Vc não deveria estar bebendo.
William
Olho para a garrafa, mas desta vez não vejo uma fuga. Agora vejo veneno. Agora vejo a escolha covarde. Agora vejo dano real. Ela está certa, eu não deveria mesmo estar bebendo. Mas o mais importante é que ela sabe que eu não deveria estar fazendo isso.
William: Por quê?  Por que eu não deveria beber, Maitê?
William
Ela abre e fecha a boca, sua mente se esforça para encontrar a resposta.
Eu não quero admitir que a resposta que ela busca não está lá. Não quero aceitar que ela não vai encontrá-la. A afirmação foi apenas mais um daqueles lampejos de esperança.
Sua expressão vazia me atira no abismo e perco a cabeça, frustração e desespero levam minhas últimas forças.
William: Por quê, Maitê? (Grito.) Por que eu não devo beber essa merda dessa vodca?
Maitê: Não sei
William
Vê-la tão arrasada é mais difícil do que lidar com a frustração. Vê-la tão desamparada parte meu coração. Enlouqueço, atirando a garrafa ferozmente contra a parede, antes que eu faça algo estúpido como beber tudo.
William: Eu não deveria beber porque sou um maldito alcoólatra! (Explodi) Antes de te conhecer, tudo o que fazia era beber até esquecer tudo e foder qualquer coisa que tivesse pulsação. É por isso! (Cambaleio para trás, minhas costas encontram a parede, a respiração curta. Não consigo controlar meu corpo. Minha boca. Minhas malditas lágrimas.
Ainda posso vê-la em choque através do líquido que distorce a minha visão.) Vc me deu um motivo para parar, Maitê. Vc fez meu coração começar a bater de novo. E agora vc não está mais aqui e eu não sei se consigo seguir em frente sem vc. Vá para o quarto. (Imploro que ela me deixe sozinho com o meu tormento.) Só vá. (Sinto-me frio. Só. E então... Não mais. A mão dela desliza no meu pescoço e eu olho para cima e a vejo ajoelhada á minha frente, olhos chorosos nos meus.)
Maitê: Eu não vou a lugar algum.
William
Maitê encontra meios de chegar mais perto, segurando meus joelhos e abrindo as minhas pernas para se aconchegar entre elas.
Maitê: Porque mesmo que eu não saiba onde estou, sinto-me em casa. Mesmo que eu esteja tentando lembrar de vc.
William
Mais lágrimas rolam e ela acaricia meus joelhos.
Maitê: Sei que vc é meu. Sei que sou a dona do seu coração. Porque mesmo que eu não te conheça, sei que quando penso em não ter vc, dói demais.
William
Ela pega a minhã mão e a coloca sobre o próprio peito. O coração dela bate descompassado. Como o meu.
William: Sinto-me horrível por ter que admitir. Pensar que vc poder ter pedido toda a memória do que tivemos juntos acaba comigo.
Maitê: Eu sei que vc é mais forte do que isso. Sei que é mais determinado. Vc prometeu que não ia desistir de mim.
William
Meu coração aperta.
William: Baby, eu não desistir.
Maitê: Não tenha mais nenhuma recaída, por favor.
William: Então comece a fazer o que lhe é pedido.
Maitê: Jamais, porque sei que não é o que normalmente faço, é?
William: Não.
Maitê: Vem pra cama?
William: Adoraria. (Vou passar a noite inteira abraçado a ela. Bem perto. Nada de sexo, nada de nada. Apenas o contato. Eu preciso desse contato.)
Maitê: Obrigada 
William: Não me agradeça! Nunca me agradeça por te amar.
Maitê: Porque foi pra isso que eu vim à terra.
William: Isso mesmo. (Sufocando-a com meu abraço, enterro o rosto em seus cabelos. Subo a escada e entro no nosso quarto. Eu a coloco no chão e automaticamente viro-a de costas, abrindo o zíper do vestido. Ela permanece parada enquanto baixo o zíper, acompanhando-o com os olhos ao afastar o tecido, prendo a respiração, preparando-me para a visão de suas costas nuas.) Perfeita (Suspiro, deixando a peça cair no chão. A calcinha de renda preta a veste impecavelmente. Acho que dormir abraçadinho como eu planejava não será o suficiente. Será que ela permitiria?
Minhas mãos tocam o fecho do sutiã. Um movimento e ele está aberto.
Percebo que os ombros dela se tensionam. Eu me aproximo e a enlaço pela cintura, pousando o queixo no ombro dela.
William: Eu gostaria de fazer amor com vc (sussurro e ela se retesa mais um pouco, não de medo, mas de expectativa.) Quero tirar essa renda do seu corpo e explorar sem pressa cada milimetro seu. Eu preciso de vc, Maitê. Mais do que já precisei antes. (Beijando-a com suavidade, deleito-me com a sensação do seu corpo pressionado o meu.) Deixa-me mostrar o quanto eu te amo. Ela se vira lentamente e ergue o queixo para olhar para mim. Sem uma palavra, começa a desabotoar a minha camisa, botão por botão, devagar e sempre, um milhão de emoções dançando em seus olhos sonhadores.
Medo. Esperança. Mas acima de tudo,  desejo. Por mim.
Tenho noção de que preciso ser delicado. Lento e paciente, atencioso e carinhoso. Muito mais do que qualquer outra vez. Então, deixo que ela me dispa em seu próprio ritmo, resistindo à vontade de rasgar as minhas roupas e jogá-la na cama.
William: Precisa de ajuda? (Pergunto, só para ela saber que estou aberto a todas as opções. Ela me olha e vejo apreensão em seu olhar. E me dou conta de que, mesmo que esteja desesperada por mim, ela não sabe como vai ser. Não sabe como somos explosivos juntos, tanto em movimentos fortes e brutos como nos lentos e apaixonados.) Não fiquei nervosa. (Tomo seus punhos, sentindo na mesma hora que tremem. (Nós não temos que fazer isso. (Nunca precisei reunir tanta energia para dizer um punhado de palavras.)
Maitê: Mas eu quero.
William
Ela olha para o meu peito e morde o lábio.
Maitê: Eu quero muito.
William
Forçando-se a tomar alguma distância, Maitê tira a minha camisa e põe as mãos no meu peito. Sinto meu corpo em chamas e minhas mãos vibram, desesperadas para agarrá-la. Beijá-la. Fazer amor com ela. O olhar dela me diz que ela está muito ciente de tudo isso. Ela sabe.
Maitê: Eu quero muito
William
Maitê reforça a afirmativa com um beijo direto nos meus lábios e sou tomado por ele de imediato.
As mãos dela estão por toda parte. Nosso beijo é quase desajeitado. Posso sentir meu controle se esvaindo. É isso que o desespero faz comigo. Torna-me urgente, me faz querer torná-la minha, delimitar meu território, mostrar a ela como somos incríveis juntos, mas agora não é hora de me precipitar.
Diminuo o ritmo de nosso beijo. Não preciso dar-lhe instruções. As mãos dela encontram o zíper da minha calça e eu chuto meus sapatos para longe. Depois ajudo a tirar a minha calça sem interromper o beijo e a faço caminhar em marcha à ré até a cama. Eu a deito no colchão, nossos lábios ainda selados, as línguas dançando lentamente, um respirando o ar do outro.
Acho que ela nunca foi tão saborosa, mesmo com toques de álcool misturados ao gosto. Eu me deito por cima dela e coloco os braços acima da sua cabeça deixando-a livre para correr as mãos pelas minhas costas, meu traseiro e, por fim, meu rosto. Ela está perdida. Consumida. Eu me forço a parar de beijá-la, apenas para provar a mim mesmo que ela vai detestar ficar sem a minha boca.
Maitê: Will...
William
Diz ela, ofegante, suas mãos agarrando meus cabelos, tentando trazer meus lábios para os dela. E então suas pernas me enlaçam pela cintura, em uma demonstração de que não vai me deixar ir a lugar nenhum.
Maitê: Por que está parando?
William: Eu quero te olhar por um momento sabendo que estarei dentro de vc muito em breve. (Seus olhos castanhos vêm parar nos meus, e o sangue que pulsa até o meu membro corre todo de uma vez. Ela morde os lábios e flexiona os quadris, pressionando-os contra a minha ereção.
Maitê: Ohm nossa
William: Vc ainda não sentiu nada, mocinha. (Lá vou eu, esmagando os lábios dela com os meus, os planos de ir devagar e sempre súbitamente esquecidos. Mãos selvagens apalpam as minhas coxas e empurram a minha cueca com urgência. Eu adoro esse seu impeto e ataco a calcinha dela, mas em vez de baixá-la, eu a rasgo sem dó.
Ela respira fundo, sobressaltada, mas logo adota o meu método e puxa com força a minha cueca. Posso ouvir o som de tecido rasgando, mas ainda temos uma barreira entre a minha pele e a dela. Tiro o resto da cueca e então não há nada além de pele. Nossos gemidos famintos se mistura.) Preciso te penetrar agora. (Não preciso de ajuda da Maitê para ter meu pau na sua entrada pulsante. Ela inspira fundo e segura a respiração, e eu me afasto para poder vê-la toda. Com os olhos nos dela, eu a penetro em uma fração mínima resistindo à tentação de enterrar tudo.) Está pronta?
Maitê: Ohm, sim...
William
Ela mal consegue falar, mas pode se mover, então gira os quadris para ter-me mais um pouco dentro dela.
Minha cabeça pende para a frente e estou perdendo o controle mesmo com o pouco que tive até agora. Dou um gemido alto e a penetro completamente, ficando imóvel logo em seguida.
Maitê: Vc se encaixa perfeitamente em mim. Perfeito pra caralho.
William: Olha a boca, Maitê.
Maitê: Não
William: Está bem (Ela pode falar quantos palavrões quiser, porque agora o que temos é tudo.)
Maitê: Mexa-se, por favor, mexa-se. Você é tão gostoso.
William
Não sou do tipo de homem que decepciona, especialmente a minha esposa. Acariciando o rosto da Maitê com o meu, tiro as mãos dela das minhas nádegas e as trago para o travesseiro, erguendo-me para olhá-la. Ela está arfando. Querendo. Amando a sensação de eu estar dentro dela. Eu lhe dou uma estocada apenas para instigá-la.
William: Vc quer o Will gentil, baby? Ou eu deveria te partir em duas?
Maitê: Eu não me importo. Apenas mexa-se.
William: Estou estreando uma nova transa no nosso relacionamento, baby. (Eu mergulho em um beijo forte, afastando-me antes que ela tenha chance de entrar no momento e me segurar ali.) Vamos chamar de transa de reencontro. (E essa transa vai ser a minha nova favorita. Começo a ondular os quadris, penetrando-a fundo. Seguro seus punhos com força, mantendo-os onde estão, saindo de dentro do calor de sua xoxota, apenas para deslizar para dentro suavemente logo em seguida. Meu corpo pede um sexo mais vigoroso, mas a minha mente não permite.
William: Vou fazer amor com vc da maneira mais doce possível.
Maitê: Está bem.
William
Eu baixo o rosto, capturando com carinho a boca da Maitê enquanto inicio um movimento constante e delicado de quadris, certificando-me de ser lento e preciso também com a língua. Solto as mãos dela e deixo que ela me sinta.
Maitê: Dá pra perceber por que eu me apaixonei por vc, vc é o homem prefeito. Grande, forte, apaixonado, dedicado. Você ama de corpo inteiro.
William: E não sou nada sem vc.
Maitê: E é tudo comigo.
William
Ela me puxa para , enterra o rosto no meu pescoço e assim damos os passos finais em direção ao clímax, abraçados, respirando no mesmo ritmo, movendo-nos como um só.
Atingimos o orgasmo simultaneamente. Eu não grito. Ela também não. Eu não faço movimentos bruscos. Ela também não. Voltamos do ápice com calma e em silêncio, e só o que se move depressa é nosso coração batendo freneticamente. Estou vivo e ela também. Todo o resto pode ser consertado. Tenho certeza.
William: Quer que eu me mexa? (Pergunto com a boca na pele úmida de seu pescoço, preocupado com o fato de que agora estou relaxado e provavelmente muito pesado.)
Maitê: Não.
William
Seus braços me enlaçam pelos ombros, as pernas em torno da minha cintura, e ela me prende em um abraço apertado.
Maitê: Quero que vc fique exatamente onde está, a noite toda.
William
Ela vira o rosto na direção do meu e encontra meus lábios.
Maitê: Porque aqui é seu lugar. Sem espaço algum entre nós. Grudados.
William
Com o corpo inteiro, todas as partes se tocando. Os lábios dela nos meus, meus pulmões inalando o ar que vem dela.
Maitê: Will
William: Hum?
Maitê: Acho que estou me apaixonando por vc.
Continua...
 

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