Jacob

9.2K 758 1.3K
                                    

A mão de Alec segurava a minha com tanta firmeza que achei que ela se fundiria ao meu corpo. Eu não a soltei, e não cogitei isso em nenhum momento. Alec e eu éramos um, eu podia sentir o amor entre nós pairando como uma terceira pessoa ao nosso redor. Eu não saberia explicar como isso aconteceu, como eu e Alec acontecemos e eu não tinha uma explicação. Jacob havia vivido tempo demais conosco para saber como o amor funcionava para nós. Só amávamos uma única vez, um laço mais forte que a vida. Uma vez que encontrássemos um parceiro, ou parceira, não podíamos lutar contra isso.

Eu não via Jake fazia um mês e esse fora o maior tempo que ele já ficou longe de mim. Ele sempre se dividia entre estar comigo e com seu pai, aquela não era uma vida glamurosa. Ele estava amarrado a mim. E eu obviamente o amava, porque Jake era meu protetor, meu amigo, a pessoa que sempre esteve lá por mim e para mim, mas acima de tudo, ele era minha família. Não havia nada que Jake não pudesse fazer, nada que Jake não fizesse por mim. Nossos destinos estavam traçados juntos. E sempre estaríamos ligados. Entretanto, eu sei que ele não me ama porque passou a gostar de mim, ele me ama porque sua natureza manda que ame. Ninguém havia me contado, mas eu havia perguntado diretamente para ele o que ele teria feito caso o imprinting não acontecesse, os olhos de Jake desviaram dos meus e eu soube qual seria sua resposta. Eu estaria morta. Talvez isso não me machucasse, ou pelo menos não mais. Contudo, nossa vida — a minha e de Jake — era guiada por um instinto primitivo, não por um amor formado. Jacob fora obrigado a me amar, contra sua vontade, contra todas suas expectativas. Éramos uma família complicada, mas qual família não tinha seus problemas? O pássaro podia ser pássaro, e podia ser livre e mais veloz que os animais terrestres, mas ele ainda sentia o peso de suas asas. Nós éramos diferentes, porém ainda sentíamos o peso de uma família.

Eu escutei os passos de Nahuel caminhando em direção a porta, ele se movia lentamente, de forma preguiçosa, como se tivéssemos todo o tempo nas mãos. A porta se abriu e nós quatro paramos em frente a varanda.

Nahuel nem mesmo me encarou quando correu até mim e me envolveu em um abraço, me retirando do chão. Eu sorri. Como há anos atrás ele estaria envolvido em uma guerra novamente por mim. Dessa vez, a responsabilidade de sua vida recairia sobre mim. Eu me perguntava se ele ainda estaria vivo quando esta guerra acabasse. Eu esperava de todo coração que sim. Eu não poderia, eu não iria perder ninguém, não sob o meu comando, não sob a minha vigília.

Íris e Michael pararam de respirar, apreensivos, eu não ouvia mais suas respirações atrás de mim. E eu não ouvia nem mesmo a pantera de Íris respirar.

Nahuel me colocou no chão.

Alec franziu a testa e o encarou. Seu olhar indo de mim para Nahuel. O sol mal acabara de nascer mas eu podia sentir que esse dia não seria nada fácil.

— Olá, estranha — Nahuel cumprimentou.

— Olá novamente, estranho — respondi.

Nahuel começou a caminhar para dentro de sua casa e nós o seguimos.

— Tenho uma surpresa para você — Nahuel falou animado à minha frente.

Olhei para os degraus da escada que levava à varanda e pisei no primeiro. Alec logo ao meu lado, Íris parou junto com Nix e esperou que nós entrássemos, Michael fez o mesmo.

Quando atravessamos a porta, a primeira coisa que vi foi Jacob sentado no sofá junto a uma das irmãs de Nahuel, ou pelo menos eu esperava que fosse uma das irmãs dele. Eu não as conhecia, não ainda.

Jake parecia estar em uma conversa muito animada com a mulher porque ele estava sorrindo.

Ele ainda era o mesmo de dezessete anos atrás quando eu o vi pela primeira vez. Como nós, Jacob era imortal. Eu lembro da primeira vez que o vi, da primeira vez que dei meu primeiro passo e ele estava lá para me aplaudir, de minha risada quando ele fez isso. Eu lembro de como Jacob fazia apostas comigo para que eu caçasse animais, porque eu jamais gostei muito do sabor que o sangue deles tinha. Eu lembro de cada história que ele me contara para dormir, de todas as vezes que ele me embalou em seu colo e de todas as vezes que ele me levou para brincar na neve. Minha infância não havia sido exatamente o que você poderia chamar de lenta, eu me tornei adulta aos sete anos de idade e não havia uma única fase de minha vida em que ele não estivesse lá. Cada descoberta, cada paixão nova e cada passatempo que eu me dedicava, Jake estava lá comigo.

Lua Negra Onde histórias criam vida. Descubra agora