Nahuel

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A música do cassino ressoava estupidamente alta em meu ouvido mesmo desta distância. Eu encarava Íris horrorizada com as informações que ela havia simplesmente jogado em mim. Precisávamos sair daqui. Agora. Tudo estava indo suspeitamente bem e haviam dois vampiros puros e a metade de uma no mesmo lugar. Nem mesmo o aroma enjoativo e horrível de Michael poderia nos esconder. Cada segundo que passávamos aqui, ficávamos mais perto de sermos achados.

Uma anciã era a líder dos lobisomens. Agora tudo fazia sentido, a expressão cansada de seus olhos, a forma como ela olhava para os outros, para os humanos, como se ela fosse mais sábia, como se ela fosse melhor, como se o tempo descansasse sobre seus ombros. Talvez ele realmente descansasse porque Lupa era jovem demais para seu olhar milenar.

Lupa, como a deusa loba protetora. Seu nome era uma coroa invisível e ela a usava perfeitamente. Novamente, o destino colocou o futuro nas mãos de uma loba fêmea. Mas nesta história, Lupa, se esquecia novamente que não poderia proteger seus pupilos para sempre. A primeira Lupa não pôde proteger seus preciosos Remo e Rômulo, por quê a segunda Lupa acha que vai conseguir fazer o que a primeira não conseguiu? Proteger os Filhos da Lua era uma tarefa impossível. Como Roma, eles iriam queimar, porque no final de tudo, todo império termina em cinzas. E como Roma, os preciosos lobos de Lupa iriam queimar. Nada é eterno, porque até mesmo imortais morrem.

Alec me encarou e eu soube que era hora de ir, não podíamos arriscar ficar nenhum segundo a mais aqui. Ele se concentrou para ouvir se havia algum som a não ser a música do outro lado da porta. Só depois de constatar que não havia nada atrás da porta ele se moveu até ela e girou a maçaneta. Eu fui a primeira a seguir seus passos, Michael atrás de mim e só então Íris.

Íris podia confiar em Michael até certo ponto, mas não para que pudesse deixá-lo por último. Mesmo a confiança que ela tinha nele era fragmentada, forjada. Íris sabia que era do interesse dele estar conosco, mas ela não era boba de pensar que ele não nos trairia, ela só era esperta o suficiente para confiar na proposta que ela havia feito, para confiar no quanto Michael queria aquilo. Tudo era um jogo de interesses e como todos nós ele também estava jogando. O problema com jogos? Ninguém é dono do tabuleiro e ninguém jamais vence. Você pode fazer uma boa jogada, mas sempre haverá uma jogada melhor que a sua.

Nós caminhamos em direção a escada no final do corredor, ela dava acesso a uma área que já não era mais usada no cassino, havia uma porta lá. Alec estendeu sua mão para mim e eu a aceitei. Precisávamos proteger um ao outro. Eu sabia que ele estava deixando suas sombras à espreita, assim como eu estava deixando minhas ilusões flutuarem em direção a superfície. Esta noite, nós dois seríamos letais. Eu só não sabia se seríamos letais para os Filhos da Lua ou um para o outro. Talvez os dois.

Estava acontecendo alguma apresentação lá embaixo, a música nos ajudava. Michael estava encobrindo nosso cheiro, mas o fato de haver centenas de humanos aqui era uma benção. Seria difícil nos identificar, mas não impossível. Por isso, tínhamos que sair daqui o mais rápido possível. Minha mão segurava a de Alec com tanta força que talvez eu o estivesse machucando, ele não reclamou em nenhum momento enquanto descíamos a escada.

Nós saímos em um corredor vazio, não havia ninguém aqui, exceto por nós, ou pelo menos não havia até alguns segundos atrás.

Alec parou bruscamente e eu o acompanhei. Humanos. Eu ouvi a risada deles e seus passos em nossa direção, eles viraram o corredor e nos viram. Cinco mulheres e dois homens. Cada um tinha uma taça na mão. A mulher de cabelo loiro e vestido azul esbarrou em mim e derramou o conteúdo de sua taça em meu vestido. Eu instintivamente levei minhas mãos até o tecido onde ela havia despejado o líquido. Essa mulher tinha sorte por eu não gostar de matar humanas, Alec me deu esse vestido.

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