Lua Negra

O passado dos gêmeos

Alec encarou a estrada sentado na poltrona ao lado da janela. Esperando. Esperando que algo aparecesse. Ele havia dito que provavelmente estávamos sendo rastreados. E que era mais seguro ficarmos juntos. Lembro de termos discutido sobre o assunto. Até ontem, estar sendo vigiada por Alec em meu sono me deixaria furiosa, mas naquela noite de repente parecia uma benção. Naquela missão não havia guarda Volturi, só havia Alec e eu.

Minha vida havia mudado bruscamente nos últimos quatro dias, jamais imaginei trabalhar com alguém que eu odiasse, jamais esperei me dar minimamente bem com essa pessoa, mas aqui estávamos. Precisando confiar um no outro porque nossas vidas dependiam disso. Isso era um acordo silencioso nosso, eu havia percebido, eu sabia que Alec não iria me deixar morrer enquanto trabalhássemos juntos e eu não iria deixar isso acontecer com ele tão pouco. Dependemos um do outro.

— Você devia ligar lá para baixo e pedir algo, acredito que esteja com fome. Eu não vejo você comer há pelo menos dois dias — ele ainda encarava a janela.

Tudo que fiz foi levantar, pegar minha mala, colocá-la em cima da cama e abri-la.

Eu não trouxera roupas, Carlisle havia me alertado que seria difícil conseguir sangue ou mesmo caçar em Volterra. Por isso tudo que eu havia trazido era dinheiro e um refrigerador portátil com bolsas de sangue; Sangue O-. Meu favorito.

Abri a mala, peguei o refrigerador e sentei em cima da cama.

— Você só pode estar de brincadeira — foi tudo que Alec disse ao me ver abrindo o refrigerador e pegando uma bolsa de sangue.

Retirei a proteção que impedia que o sangue vazasse e comecei a tomar.

Fechei meus olhos. Aquilo era incrível. Era como tomar um bom suco gelado, só que melhor e mais gostoso.

Minha mãe desaprovava, entretanto Carlisle os trazia para mim. Eu não gostava da ideia de matar um humano, no entanto, bolsas de sangue eram doação. Aquele fora o meio termo que achei.

Retirei outra bolsa e joguei para Alec.

— Prove — eu disse a ele. — O negativo é meu favorito, e é raro de se achar.

Alec me olhou perplexo mas pegou a bolsa, abriu e começou a tomar.

Ele fechou seus olhos como eu e parecia estar em transe. Algo naquela imagem era avassalador.

— Você é cheia de surpresas — Alec ainda estava de olhos fechados. — Jamais imaginei...

Dei mais um gole.

— Quando eu era criança, não podia beber sangue de animal, suponho que sangue humano estava para mim como leite materno está para humanos — eu o encarei. — Quando provei sangue de animal pela primeira vez não parecia… certo. Então, Carlisle sempre traz bolsas de sangue para mim.

Alec se encostou na poltrona.

— Isso faz de você a ovelhinha rebelde do seu clã?

Soltei um riso.

— Talvez, Alexander Beaubier.

Os olhos de Alec desviaram dos meus.

Será que eu tinha falado algo errado?

Alec? Chamei.

Ele olhou novamente para mim.

Quem é Alexander Beaubier?

Alec olhou para a janela novamente. Não sei se para evitar me olhar ou para vigiar a estrada. Talvez os dois. Ele ficou em silêncio por longos minutos, enquanto terminavámos de tomar nossas bolsas de sangue.