Capítulo 08

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A cada dia eu gostava mais da companhia de Ágata, não sei oque há naquela garota, mas ela ainda é um quebra cabeça cheio de peças e todas muito minúsculas, mas eu vou catar uma a uma até monta-lo.

Dentro dela havia uma dualidade, há momentos que lhe vejo sorridente, em outros lhe vejo em outro mundo, ao que me parece é um mundo sombrio e de dor.

Nunca quis amizade de ninguém, principalmente de mulheres, e pior, do trabalho, mas ela não é forçada e tudo flui natural, ela não faz nada intencionalmente.

Agora mesmo estamos concluindo a organização dos arquivos, ela está sentada no chão com um lápis amarrando seu cabelo, uma figura simples quase infantil, no sentido da inocência que sua aparência transparece.

Após o inconveniente momento com a Poliana, me partiu o coração vê-la acuada, e se obrigando a mentir que era amiga da Poliana.
Isso não ficará assim, nenhum funcionário meu deve ser destratando aqui dentro.

— Prontinho! Acho que concluímos. — falou levantando do chão com as pastas já etiquetadas.

Olhei no relógio e já se passava das 16:00h.

— Ótimo trabalho! Formamos uma boa dupla. — falei ao olhar os arquivos em perfeita ordem.
— Verdade! Está tudo muito bem organizado. — ela sorria olhando o trabalho com orgulho.
— Vamos? — falei pegando meu celular, colocando a carteira e as chaves no bolso.
— Sim! — ela pegou sua bolsa.
— Onde você mora? Posso lhe deixar em casa, o Ryan está de folga. — falei tentando soar natural.

Na realidade eu queria ver de perto o lugar que ela morava, se era tão ruim quanto eu imaginava.

— Haaa... eu não vou pra casa agora, vou na casa de Dona Judite visitá-la e vê se tá precisando de uma ajudinha.
— Ótimo! Poso ir com você? Só assim vejo a Judi. — perguntei ao entrarmos no elevador — Ágata? — Chamei-a, mas ela estava branca como folha de papel.
— Ágata? Tá sentindo algo? — seu olhar era fixo do lado de fora do elevador panorâmico. Seus olhos estavam em pânico.

Não demorou muito, em meio a meu chamado sem resposta, o elevador desceu no térreo.

— Ágata? Está me assustando, você está sentindo alguma dor?

Seus olhos estavam transbordando em lágrimas.

— E... eu...eu não sei — ela gaguejou — hoje pela manhã tive a sensação de estar sendo seguida — sua voz era um sussurro — entrei no ônibus e o mesmo homem estava lá, sentado três poltronas após a minha.

Será que é algum tipo de surto paranóico?

—Tudo bem, respeite e me diga. — lhe induzir a continuar falando, precisava ter certeza.
— Agora tive a impressão de ter visto ele — comecei a olhar para os lados, não havia ninguém exceto a segurança.
— Onde você viu? Você o conhece? — perguntei tocando seus ombros forçando ela me olhar — Respira! Me conta.
— No elevador panorâmico — ela falava meio a lágrimas — não conheço, nunca havia visto antes.
— No elevador? — eu estava ficando confuso — dentro do elevador?
— Não! Do outro lado da rua, na calçada, de jaqueta e boné.
— Está bem! Fica aqui que vou ver — falei saindo, mas ela me puxou.
— Não vá! Por favor, — chorava — ele pode ter mandado alguém, ele me encontrou, não vá, ele é perigoso.
— Ele quem Ágata?

Ela não pode estar tento um surto, isso é real, esse medo, pavor, é real.

— Está bem! Acalme-se, respira. — falei enquanto encostava ela na parede próximo aos elevadores.

Com um sinal chamei um dos seguranças.

— Chamou senhor?
— Sim, a senhorita Andrade não está se sentindo bem, esqueci a chave do carro na minha sala, fique de olho nela enquanto busco.
— Claro senhor! Não prefere sentar no sofá do hall? — ele sinalizou para Ágata.
— NÃO! — ela falou com desespero.

Eu entendi, ela não queria aparecer nas grandes portas de vidro do hall.

— Fique aqui! Não tire os olhos dela.

Deixei-a para trás com a desculpa de que ia buscar a chave, que por sinal já estava meu bolso.

Na portaria olhei as câmeras de segurança e lá estava um homem com as descrições, jaqueta e boné.

— Algum problema senhor? — perguntou um dos seguranças.
— Não sei, me diga você, oque aquele homem está fazendo de frente ao prédio desde manhã?
— No...Nós nã... Não havíamos reparado, senhor.
— Com vocês resolvo isso depois, agora tenho que saber oque esse cara quer plantado aí.

Caminhei em direção a saída.
As portas de correr automáticas se abriram e recebi o ar quente, senti meu rosto queimar, não saberia se pelo clima ou pela irá que me tomava naquele momento.

Atravessei a rua sem nem olhar se havia carros, o homem percebeu eu me aproximar e começou a andar no sentido contrário.

— Ei você, onde pensa que vai? — ele olhou para trás, parando.
— Está falando comigo? — perguntou de forma sínica.
— Está vendo outra pessoa aqui por acaso, imbecil? Diga, oque faz aqui parado o dia todo?
— Eu? — sorriu — Olhando o movimento. Porque? Não posso? Pensei que a rua era pública.

Senti ódio tomar conta de mim, minha visão estava em vermelho.
Chega de cordialidade, ele vai conhecer o Nick que habita dentro de mim e que guardo a sete chaves.

— Escuta aqui filhos da puta — falei entre dentes, pressionando o antebraço em seu pescoço lhe ponto contra a parede. Pela visão periférica vi um segurança se aproximar.
— FIQUE ONDE ESTA! — gritei — Esse filho da puta é meu.
— Quem é você? — perguntou já sufocando.
— Pergunta errada! — estava a centímetros de seu rosto — A correta é: Do que eu preciso?
— Do que você precisa? — sua voz já falhava e seu rosto completamente vermelho.
— Bom garoto! — debochei afrouxando o aperto — Oque você quer aqui?
— Nada, estava só de passagem — apertei-o com mais vigor — Está bem! Está bem! Eu sou detetive particular — soltei-o —  fui contratado para descobrir a rotina de uma moça. — ele ajeitava a roupa amarrotada.
— De quem? — perguntei.
— Não posso falar, o sigilo faz parte da profissão.
— Se você não falar não ficará vivo, então sua profissão não vai servir de nada no lugar para onde você vai. — falei segurando as laterais de sua jaqueta e lhe empurrando contra a parede fazendo sua cabeça bater.
— Aí! Cara, tá bem. Eu não sei de muito, um cara me pagou maior grana, me entregou uma foto da garota e pediu para acha-la.
— NOMES, PORRA! EU QUERO NOMES! — gritei. Não me importava mais com o horário e as pessoas passando pela rua.
— O nome da moça é Ágata Andrade, não foi difícil achar, ele disse que era noivo dela e que ela estava desaparecida, tinha desequilíbrio mental, precisava acha-la, só isso que sei. — lhe soltei.

Ágata com desequilíbrio mental? Mas não parece? Ela tem um noivo?
Porque essa declaração me afetou mais que a outra?

— Qual o nome do cara? — perguntei com irá nos olhos
— Ele disse que se chamava Andrey Albuquerque. Por favor cara, me deixa ir!
— Oque você disse ao homem até agora? — Perguntei.
— Nada! Ele só havia pago a primeira parte até o momento, então só falei a cidade que achei a tal garota, mas oque isso te importa?
— Não interessa! Você falará mais nada a este homem, entendeu? Vou lhe pagar o dobro, o triplo, bico calado ou posso não gastar nada com você — falei cerrando os dentes — e acabar com sua vida, confesso que está última é mais tentadora.
— Nã... Não falarei nada!
— Não fará mesmo, vou me certificar.
— Você — falei chamando o segurança — se encarregue de pegar a conta bancária desse cidadão, mas antes, leve ele daqui e lhe dê um atendimento VIP.
— Sim, senhor! — disse o segurança.
— Não! Por favor! Por favor....

Sai deixando-o para trás com seus protestos.

Eu estava lutando pra não deixar o outro Nick me dominar, mas foi inevitável, a sensação da adrenalina correndo pelo meu corpo era tentadora, tive que manter meu autocontrole pra não voltar lá e fazer oque eu sei fazer de melhor.

Agora eu precisava ter uma conversa com Ágata, oque aquele homem disse é muito grave.
Eu não acredito que me enganaria no julgamento de alguém, ela não parece ser alguém louco.

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Recomendação de música para este capítulo:
Imagine Dragons - Demons

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